20 janeiro 2019

A ROUPA CRIMINOSA 

















A notícia de 19 de janeiro, da apreensão, pela GNR, de 62 mil peças de roupa contrafeitas, avaliadas em 1,4 milhões de euros, não surpreende minimamente quem ande (mais ou menos) atento a notícias, de um dos lados da economia.
Pode parecer surpreendente que, em pouco menos de um ano, tenham sido apreendidos mais de 50 mil euros de idêntico material. Na realidade, 23 mil, em Fevereiro, mais 25 mil em Agosto de 2018, para já não falar o anúncio, em Junho, da “descoberta” de uma eventual rede, que vendia na internet, artigos “...com preços muito apelativos”.
Tudo, refira-se, no Norte do País, entre Vila Nova de Famalicão, Penafiel, Cabeceiras de Basto, Matosinhos e Valença.
Não deixa de chocar que tamanha criatividade seja objecto de repressão policial. Chamem-lhe contrabando, um termo que dá para tudo, ou (mais sub-repticiamente) contrafacção, o certo é que nos habituamos, desde há dezenas de anos a esta parte, de comprar, em feiras, mercados e outras “praças”, por esse País dentro, as camisas, calças, pólos, “kispos” e outro vestuário, ostentando as marcas da grande moda, por preços que, em alguns casos, se pode dizer serem 10 vezes mais baratos que o original. Deve dizer-se, para quem anda mais distraído, que muitas vezes, nem sequer se dá pela diferença.

Claro que o Estado, sempre presente a atento nestes casos, não quer deixar por (para) mãos alheias a cobrança do imposto respectivo, quando se trata de produto manufaturado, ou simplesmente “transformado”. Muito bem. O Estado é isso mesmo (e acima de tudo) o garante do primado da Lei (que segundo se diz agora, afinal não é igual para todos...) e da Ordem (burguesa, segundo aprendi, e ao que parece, bem). Só é pena que, o mesmo Estado, não seja assim zeloso, quando se trata de cobrar impostos às grandes empresas, aos grandes grupos económicos, quando aquelas (e muitos têm sido os exemplos) se recusam a pagar. Seria interessante, por exemplo, mandar a GNR prender o Joe Berardo, que “deixou” uma “pequena dívida” à CGD, no valor “ridículo” de 280 milhões de euros. Apenas para deixar o povo mais tranquilo, o Estado Português, através do Governo da República, anunciar que vai devolver (ao tal povo), nada mais nada menos, que os 13 mil milhões de euros que, até ao ano 2017, havia “gasto” a salvar os bancos, curiosamente os mesmos, que arquitectaram, engendraram e produziram a crise de 2008. 

Acontece que a criatividade do Estado é, por assim dizer, muito pouco criativa. Parece que os sucessivos Governos (e este incluído), não querem ver o que parece tão simples e que, com um pequeno golpe de mágica, poderia colocar uma rolha na boca daqueles que, todos os dias, se entretêm a difamar o seu bom nome. E mesmo dando de barato que devemos defender o património do Estado, facilmente concluímos da ligeireza que tem havido na sua preservação, cuja responsabilidade compete exclusivamente aos governos. Daí à ira incontida dos cidadãos, vai uma fronteira muito ténue.

Recordemos aqui o inenarrável Cavaco e ao seu consulado de 8 anos, que devastou o País. Os seus governos deitaram por terra o tecido empresarial português, nomeadamente no caso dos têxteis, no tempo em “choviam” torrentes de euros novos para “distribuir”, para quem quisesse destruir qualquer coisa, em nome da sacrossanta União, em que ninguém (ninguém é na realidade, um exagero...) ousava tocar, para proteger os direitos dos “nobres” alemães e, na altura, também, dos franceses. Da agricultura às pescas, passando por tudo o que significava riqueza nacional, foi alegremente destruído, transformando este País num imenso mar de asfalto, para gáudio das grandes empresas, que entretanto foram todas “almofadadas” pelo tal Estado, na montanha mal parida das famigeradas PPP. 

E porque razão ficamos de boca aberta com a repressão à “contrafacção”? 
Primeiro, porque gostaríamos de saber se alguém, com imaginação, não se tenha ainda lembrado de tentar integrar este ramo de economia paralela no circuito “normal” da economia nacional, tão carente de mais-valias. Lembrem-se por exemplo, dos rios de dinheiro e das garantias que são dadas (e o termo é mesmo esse, dadas, porque na maior parte dos casos, o são, sem quaisquer contrapartidas) às grandes empresas, para abrir mais um centro comercial (há tão poucos, afinal...). Ficaria seguramente mais barato, atribuir uma linha de crédito, mesmo a custo zero, para enquadrar a actividade destes pequenos empresários, oferecendo-lhes instalações (ainda que somente no primeiro ano) e facultando-lhes apoio a nível de design gráfico e de apoio à promoção de uma marca própria. Ninguém se lembra disto, no universo profícuo de tanta imaginação criadora, neste País de navegadores?  Em vez disso, abundam os tais “empreendedores”, que contratam “colaboradores” e que, depois de uma lavagem ao cérebro, vão abrir “empresas emergentes”, ou startups, que irão fechar meio-ano depois.
Segundo, para perguntar a quem de direito (...) se tal repressão vale mesmo a pena, uma vez que, o dito negócio vai mesmo “nascer” uns meses depois, noutro lado qualquer?
Terceiro, devemos sentir-nos “culpados”, ou mesmo “criminosos de delito comum”, quando compramos um pólo “ralph laurent”, na feira da esquina, quando o deveríamos ter adquirido naquela loja linda do centro comercial? 

Pensem nisto. Ao mesmo tempo que pensam, não gostariam de saber (já agora) para onde vai a tal roupa que foi apreendida? Fica para a GNR? Passa a património do Estado? Vai ser doada? Leiloada? Se alguém souber, que me avise, se faz favor. Obrigado.


01 janeiro 2019

A BALANÇAR TODO (um) ANO...


































De como se transfigura 
a figura
Será que perdeu o Norte?
ou apenas a roda da sorte?

De como as perdas 
se transformam em lucros
Será mestria?
ou a morte da poesia?

De como as derrotas
fazem lembrar vitórias
Será magia?
ou apenas fantasia?

De como os sorrisos
parecem esgares
Serei eu a ver mal?
ou há dessintonia no canal?

De como as alianças
Parecem estultas
Será estratégia elaborada?
Ou apenas ... nada?

De como a pobreza 
parece hoje mais “aprimorada”
Será a força da razão?
ou um sistema sem solução?

De como a Revolução
parece uma miragem
Será que é desalento?
ou “culpa” do pensamento?

De como andamos todo ano
aos papéis
Será confusão minha?
ou por contar com o ovo no cu da galinha?



De como o teu olhar
me parece triste
Será que te enganaste na flor?
ou perdeste o amor?

De como disfarçamos 
a revolta
Será que deixamos de sentir?
Ou andamos a dormir?

De como acontece perder a esperança
e baixar os braços
Será a desistência?
Ou a solene aquiescência?

De como se aclama a desgraça
na vil e torpe notícia
Será que é o apocalipse
ou (mais) uma filha-da-putice?

Do como as vozes que nos oprimiram
vêm agora reclamar espaço
(e prometer o idílico)
Será que se querem retratar?
ou apenas (mais uma vez) nos enganar?

De como parece que perdemos sempre
apesar daquele empate milagroso
Será o (tal) destino impiedoso
ou algo (ainda mais) misterioso?

E SUBITAMENTE:
De como nos levantamos do chão
E deixamos para trás o medo
E removemos montanhas se preciso for
P´ra colocar uma justiça melhor
E fazemos das tripas coração
(maldito silêncio!)
Par o ano é que vai ser
A Luta é para valer!
(doa a quem doer)


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