30 novembro 2003


OS MERCENÁRIOS
Mercenário, "que, ou aquele que trabalha ou serve por dinheiro; interesseiro; soldado que por dinheiro trabalha em exército estrangeiro", segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 8ª edição. Realmente é esse o conceito, é essa a interpretação que acaba por ser do domínio comum. É esse o papel que fazem os profissionais dos exércitos nacionais que ocupam o Iraque. Não existe, ao contrário do que se diz, nenhum mandato das Nações Unidas; não, não há qualquer justificação para ocupar um País, como muito boa gente já chegou (finalmente!) à conclusão, em Espanha, no Reino Unido, na Austrália, na Itália, nos próprios EUA, como recentes sondagens dão conta. Para que conste neste País, as infelizes palavras de Jorge Sampaio (que tem obrigação de fazer muito melhor que isto!) ao dizer que, a partir de agora todos devemos estar de alma e coração com os soldados da GNR no Iraque; mas a propósito de quê? Alguém os obrigou a ir? Alguém os convocou para representar o País? Claro que é o País que lhes paga e pelos vistos não é pouco, é o País que os ouve, indignados (não era este o termo?) por terem de pagar IRS (?). Fantástico Sr. Presidente, mais valia estar calado, que de si ainda esperamos qualquer coisa (não se sabe bem o quê); agora deste Governo miserável, que arrasta atrás de si toda a vergonha do terrorismo e imperialismo americano, deste não há realmente nada a esperar, senão o desemprego, o défice, a perda de compra, o aumento dos preços, a privatização desenfreada dos serviços essenciais, a subserviência, a arrogância, etc…, etc….
Mercenários pois todos os que estão no Iraque a legitimar a invasão americana; a porrada que levarem só a eles lhes diz respeito; a nós, de certeza que não ...

"Eyes" - Gilbert and George
Os Olhos da Cidade...
Tomei contacto, aqui há uns tempos atrás (meados de 2002), com a arte dos britânicos Gilbert & George, numa exposição do CCB, com 78 obras de um período de 1974 a 2001. Na altura, as imagens dos 2 artistas fixaram-se de uma forma estranha. Depois de me ter informado um pouco sobre a matéria, passei a interessar-me sobre os trabalhos dos 2 artistas, que considero curioso.
!Gilbert (Proesch) & George (Plymouth) trabalham juntos desde 1969, altura em que terminaram o curso de Escultura da St. Martin's School of Arts. A sua entrada no circuito artístico aconteceu quando os dois se apresentaram como living sculptures, procurando subverter a noção de escultura e defendendo a junção entre a arte e a vida, ideia que aliás ainda os acompanha", segundo nos diz José Marmeleira, no site da ArtLink.
Trata-se de uma concepção verdadeiramente provocatória de arte, que apresenta referências pictóricas cubistas e dadaistas: para além da formalidade da própria representação, há na arte de G&G uma tremenda carga narcisista, bem patente na grande maioria das suas obras. A exaltação do corpo e das suas formas (contornos e partes físicas) lembra-nos as campanhas de Luciano Benetton (quem sabe se este não se teria inspirado naqueles).
Em termos sociais existe ainda uma tentativa de colagem da obra dos britânicos à onda conservadora e liberal; de facto, aquando da campanha respectiva, eles foram apoiantes da Tatcher e só isso já diz alguma coisa…
No entanto, a parte mais significativa da arte de G&G está na análise fria das cidades e das suas vivências e realidades contraditórias; a força de imagens com cores vivas e penetrantes, sempre muito geométricas, de corpos marcantes, de espaços marcados pela provocação sexual e religiosa.

23 novembro 2003


Seguimos ainda o malfadado cherne?
Verdade seja dita, para que conste, que eu não decididamente . Mas penso que valerá a pena, revisitar o O'Neil.
"… Em cada um de nós circula o cherne
Quase sempre mentido e olvidado
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…
Sigamos pois o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume da água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa
…"
Na verdade o O'Neil era profético; foi preciso vir a mulher do tal Barroso, chamar a atenção para coisas como "peixe recalcado", "mentido a vida inteira", (…); a senhora descobriu de facto o peixe ideal para retratar o fiel seguidor; mais tarde veio a saber-se quem de facto ele queria seguir; escolheu bem, seguir o líder da guerra, levando-nos todos atrás; pelo menos, em teoria.
Eu não quero seguir este peixe; eu até nem gosto de cherne
E desta vez, cito de novo o O'Neil, que acertadamente nos confessa:
"Quem espera por mim não espera por mim
e talvez me encontre por um acaso distraído,
Mas no meu obsceno mostruário de gestos,
Guardo o mais obsceno
Para quando a ilusão se der
…"
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A Ferreira Leite

Sigo a discussão do orçamento de estado para 2004 e confesso que a única coisa que me conseguiu comover foi a forma como a mulher debita o mesmo discurso de sempre, o triste relambório do défice, que penso nada dizer às pessoas de boa vontade. Acontece que, mesmo com uma boa dose da dita, não consigo descobrir nada de positivo nas lamentações da mulher. Arrastada, azeda, antipática, arrevesada, intrincada, imagem de melancolia permanente, ar de quem quer bater em alguém, ar de quem está à espera que alguém lhe bata, enfim chata! Como é possível uma pessoa assim, tão cheia de nada?
Reparem, é (que eu saiba) a única mulher deste País que é tratada pelo apelido; ninguém a conhece como Manuela, não deve haver ninguém que lhe chame Manela, ou Nela, ou Nelinha, ou simplesmente Dona Manuela; é simplesmente a Ferreira Leite, um leite demasiado azedo, porque claramente já (há muito tempo) lhe acabou o prazo de validade ….
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Fahrenheit 451- versão David Justino
Desta vez foi o fim: descobriram o que toda a gente sabia, há bastante tempo: os estudantes não tiram boas notas a Matemática, por causa das calculadoras; muito bem, é de facto uma brilhante conclusão, do nosso ministro, que agora se prepara para "decretar" a proibição das máquinas no ensino básico; não, não é ele que é básico, é mesmo o ensino.
Pois bem, assim é que é: e já agora, também por arrastamento, os livros técnicos que falem dessas esconjuradas maquinetas; daí aos computadores é um passo: imediatamente "limpar" todas as aplicações informáticas que ostentem uma calculadora, a começar pelo próprio sistema operativo; vendo bem, para que servem os computadores no ensino básico; se calhar, os professores, em vez de "darem as aulas" vão mas é para a Net com as criancinhas verem sabe-se lá o quê; meu Deus, que não me tinha lembrado disso!
Lembram-se do filme do Truffaut, Fahrenheit 451, onde se queimavam os livros e a sanha destruidora dos polícias á procura deles? Podemos imaginar uma cena do género, à porta de uma escola primária, com um grupo de GNRs (regressado há pouco tempo do Iraque) a queimar 20 calculadoras Casio; caso arrumado? Não, o mesmo grupo a obrigar as criancinhas a recitar a Tabuada dos 9, com a professora amordaçada ao canto da sala.
Francamente, não há ninguém que convença o tipo a ir dar uma volta ao bilhar grande?


20 novembro 2003


Londres, 20 Novembro
Suprema Vergonha - II
As últimas notícias (de hoje) já dão um custo superior a 8 milhões de euro e mais de 14 mil polícias mobilizados em Londres. Também é notícia os milhares de manifestantes que se manifestam de forma pacífica contra a presença do sinistro Bush, enquanto que as declarações do Presidente da Câmara são elucidativas: "Bush é a maior ameaça à vida neste planeta; as suas políticas vão levar-nos à extinção". Os jornais de cá e de lá manifestam, através dos títulos, a revolta; jornal "Público" diz, "G.W. Bush enfrenta uma cidade em ódio durante 4 dias"; a CNN, "Police said between 100,000 and 110,000 people had attended the march and demonstration".
Segundo uma sondagem secreta da Galupp, revelada pela CIA, "5 % dos iraquianos acreditam que os EUA invadiram o seu País para os ajudar, 1% acreditam que vieram para estabelecer a democracia e todos os outros acreditam que vieram para lhes roubar o petróleo", conta M. Sousa Tavares no "Público" de 14 de Novembro. O facínora de Washington pensava (?) que teria à espera das tropas de ocupação bandeirinhas e foguetes para festejar; o que se vê é a resistência de um povo, independentemente de gostarem ou não do ditador deposto.
Verdadeiramente chocante ou, como muito bem dizia ontem o jornalista Fernando Alves, "verdadeiramente obsceno", o dinheiro gasto para proteger um monstro patético, mas dono do maior exército do mundo, detentor de todas as armas de destruição massiva possíveis e imaginárias, ele sim incontrolável.
Por isso, todas as manisfestações contra esta adminstração americana, acolitada por alguns europeus, entre os quais o "nosso" Durão, tudo o que puder ser feito em nome da Paz não serão com certeza debalde: participação em fóruns internacionais, em abaixo-assinados, em sessões públicas, em artigos para a comunicação social, em alertas contra as autoridades nacionais e (no nosso caso europeu) comunitárias.

Duo morte certa
Duo "Morte Certa"

>Suprema Vergonha - I
10000 polícias, 7000000 (sete milhões) de euro, para garantir a segurança de um homem que, embora sem ganhar as eleições no seu País, é o presidente dos EUA; sim, 7 milhões para defender um escroque, um personagem teleguiado pelos falcões da guerra, no mais baixo nível que a história da humanidade já conheceu. Um homem que representa o que há de mais negro no história universal, mas que representa (se calhar) também o nível médio do cidadão americano, na estupidez, cretinice, incultura, preconceito e ignorância. Este é o homem que disse, aos 14 de Junho de 2001, em conversa com o 1º ministro sueco Goran Person (sem se aperceber que uma das câmaras ainda estava a filmar …): "é espantoso ter ganho; candidatei-me contra a paz, contra a prosperidade e contra o espírito de missão". Um alcoólico, preso por conduzir embriagado, preso por roubar uma coroa de Natal, preso por conduta imprópria num jogo de futebol, um viciado em cocaína, é este criminoso que pretende comandar os destinos da humanidade na "cruzada contra o terrorismo". Foi este homem (ou com este homem) que (se) reuniu um grupo de assalto à Casa Branca e que, neste momento governa o País; esse grupo de que fazem parte Cheney, Rumsfeld, Ashcroft, Rice, Powell (só para citar os mais conhecidos) foi meticulosamente seleccionado pelos interesses ligados ao petróleo, à venda e tráfico de armas, às indústrias poluidoras (alumínio, …) e anti ambientais, no sentido de por em prática a mais incrível política de ataque à Paz e ao Desenvolvimento de que há memória nas últimas décadas. A grande maioria dos analistas da política internacional é hoje unânime em afirmar que o mundo está hoje muito mais perigoso após a Guerra de ocupação no Iraque e da política de terra queimada levada a cabo pela administração americana no Médio Oriente; o apoio à política infame da extrema-direita israelita contra os palestinianos é um bom exemplo da estratégia americana. O mais irónico no meio disto tudo é que foram eles que "criaram", apoiaram, treinaram os que agora, caindo em desgraça, contra eles se levantaram: Bin Laden e Sadam; estas duas figuras execráveis são na realidade o espelho da estratégia americana, personificada por Bush, para o século XXI: guerra, destruição e catástrofe.
Este é o homem que vale 7 milhões de segurança, pelo menos para o fantoche e empertigado Blair, cego no apoio ao homem que representa ele sim, o autêntico terrorismo deste século.


"
Uma personalidade desajustada pouco adaptada aos padrões sociais, uma dificuldade na empatia, interesses obsessivos... É uma estranheza que tem um nome que poucos de nós conhecem. Chama-se Síndroma de Asperger e a jornalista Liliana Valpaços foi à procura dessa "estranha forma de vida" que provavelmente afecta uma em cada trezentas pessoas em Portugal". A notícia desta semana (16 de Novembro) na TSF dá-nos conta desta nova doença, uma doença que se diz "anti-social", pelo que parece transparecer na descrição. É caso para dizer, que cada vez mais pessoas se afastam dos chamados "padrões sociais". Mas, o que são realmente padrões sociais? Serão atitudes pautadas pelo interesse colectivo, pelo bem-estar das pessoas e dos povos ou, serão antes um conjunto de lugares comuns tendentes a manter o status existente, numa sociedade pautadas pelas desigualdades cada vez maiores entre os que detêm o poder económico e aqueles (a grande maioria) que nada possuem, para além do facto de apenas existirem? Dificuldade de empatia; bom, de facto existe uma tremenda falta de empatia, mas será que não foi sempre assim? Será caso para detectar uma nova "doença social"? Interesses obsessivos; aqui sim, há uma tremenda razão para falar assim; interesses obsessivos, de determinados grupos económicos e daqueles que os protegem de uma ou outra forma, interesses que estão ligados a uma determinada forma de fazer a coisa pública, ou seja, a política…
Portanto, podemos estar descansados, a doença a existir, parece ser inócua e mais, essa "estranha forma de vida" que provavelmente afecta uma em cada trezentas pessoas em Portugal, provavelmente vai deixar de ser assim tão estranha, até ao dia em que as coisas mudem de vez. Que seja cedo!


19 novembro 2003


Fabuloso momento de televisão, ontem na SIC.
A. Lobo Antunes, ele mesmo, entrevistado por Rodrigo Carvalho; uma entrevista que foi mais uma conversa, um bate-papo despretensioso e agradável. Ele, L.A. é de facto um personagem muito, muito especial. O homem que nos deixa, por exemplo, "O Esplendor de Portugal", a dizer que não escreveu sobre a guerra colonial: "o meu pai costuma explicar que aquilo que tínhamos vindo procurar em África não era dinheiro nem poder, mas pretos sem dinheiro e sem poder que de facto nos dessem a ilusão do dinheiro e do poder que de facto ainda que o tivéssemos, não tínhamos…". O homem que nos brindou com as Crónicas no Público, a dizer que as escreveu porque lhe fazia jeito aquele dinheiro; ou ainda, que não faz crónica política, para não ter que atacar pessoas (…). Uma dose de intimismo, uma imagem de muito pouco à-vontade com a comunicação social: a postura pesada, a mão em frente à boca, uma dose enorme de politicamente incorrecto. Uma confissão escusada: "não dou entrevistas, não apareço, …", podia dizer, se calhar: "não faço cartaz", ou então simplesmente, "não estou para aí virado", este homem que diz que pouco sabe sobre as mulheres; "é engraçado…", diz, "…aprendi alguma coisa com as personagens mulheres dos meus livros", ou então que afirma delirar como os delírios dos seus doentes de psiquiatria …
Rodrigo pergunta o que sente ao escrever, como escreve, quando escreve; diz que não sabe bem, mas que escreve nas manhãs num sítio, nas tardes noutro e nas noites ainda mais um, aqui e ali, como quem tem necessidade de percorrer um caminho, na fúria dos dias e que lhe dê fúria para escrever; se possível "de trás para a frente", como lhe foi dito por um doente, uma vez no hospital. Cita Manuel da Fonseca, com aquela naturalidade de quem fala do tempo; anota a relação com Deus, citando Voltaire, "cumprimentamo-nos, mas não convivemos.." Diz também que não tem talento para poeta
Conversa de pouco "share" de certeza, em cima de telenovelas e de Bigs Brothers, realmente quem se dá ao trabalho de "folhear" o grande livro dos zapings, para tentar encontrar qualquer coisa que valha a pena, ao final da noite? Pois, mas de facto, são figuras como L.A. que nos ligam ao nosso imaginário profundo e nos pintam do vermelho e do negro dos anarquistas puros e sonhadores …

16 novembro 2003

Uma explicação sobre o rio (pois, o Rio Torto)

Para já, o novo visual do Blogue é um sinal de renovação necessário.
Rio
lembra água, movimento, corrente, ria, investir, correr, fluir, …
Torto, porque não é direito, que não é linear, que não é politicamente correcto, que não é da direita, que não gosta da direita,…
O Rio Torto será pois um "canal" que não alinha pelo mais fácil, que será interveniente, sem ser tortuoso, que apesar de ser torto não estará entortado por ideais pré-concebidos, e que será obviamente torto para quem é realmente "torto" de nascença …

13 novembro 2003

Um texto de Outubro, mas sempre actual; devido aos problemas existentes à altura, não saiu como devia ser

"600 pares de nádegas. 600 traseiros. 600 cus (...) fotografados a preto e branco pela artista plástica chilena Catalina Riutort. Anónimos. Acompanhados de códigos de barras..."

segundo a noticia de Fernando Alves (TSF aos tantos de Outubro de 2003), na sua imperdível coluna diária "SINAIS" (para quem não sabe ou anda desatento ... na TSF pouco antes do noticiário das 9:00 horas).

Assim mesmo: a identidade Às avessas, ou o assumir de uma nova identidade. E, porque não? Apesar de habitualmente o não mostrarmos, ele faz parte integrante do nosso eu, porque é nosso, faz parte de nós...

Temos de o limpar às vezes, não é (?); e quantas vezes limpamos a cara por coisas que não devíamos ter feito?
Só não gosto do código de barras; simplesmente, porque é código, tem barras e porque aos mesmos se associam normalmente outras coisas ...

Mesmo assim, desafiando o(s) código(s), apoio a Catalina, pela sua coragem, pelos seus cus ao vivo, desafinado a norma.
Sim, acho que é o que mais me agrada nesta atitude: voltar o cu à norma, mostrar que se calhar há outra face para além daquela que normalmente estamos habituados a mostrar ...

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