29 março 2004


28 março 2004



>A PONTE

"A ponte é uma passagem
p'rá outra margem
Desafio, pairando sobre o rio,
a ponte é uma miragem …
"
Mário Barreiros / Luís Portugal (Já Fumega), Porto, 1981

Uma miragem. Afinal, estava ou não estava lá? Desafio pois, pairando sobre o rio? Sim, sem dúvida. Tristeza? Claro, já não é mais "passagem p'rá outra margem"…!

Uma ponte que cai por obra e capricho da natureza. Um episódio triste, um acontecimento trágico, um acidente lamentável? Não, uma inevitabilidade da mãe natureza; ela tinha mesmo que cair mais tarde ou mais cedo; era isso que tinha que acontecer; assim mesmo!

Para quê pensar pois em manutenção programada, em revisão constante dos materiais, das estruturas, etc..? Não, parece que não vale mesmo a pena; as coisas acontecem, afinal os únicos culpados foram de facto os 50 e tal parvos que se aventuram a passar a ponte, naquele dia, naquela hora, naquele preciso momento.

É este o estado triste e absurdo da justiça em Portugal; este episódio, esta monumental sentença vem logo a seguir aquela outra do polícia que matou o jovem à caçadeira. Na mesma semana, 2 exemplos da forma como se faz justiça neste País. É este o exemplo lamentável que damos a conhecer ao mundo, sobre a forma como é administrada em Portugal. Sucedem-se os exemplos; se calhar procurando com mais afinco, iríamos encontrar outros do mesmo género. Isto tudo ao mesmo tempo que se avolumam os processos intermináveis, com uso (e abuso) de todos ao álibis possíveis e imaginários sobre a forma de contornar a realização de julgamentos, eternizando os processos, lançando nomes de pessoas na lama e, ao mesmo tempo, não protegendo devidamente as vítimas (veja-se o processo Casa Pia, por exemplo…); há até quem diga (…) que tudo assim acontece, para no final, nada mesmo se apurar, nada mesmo se decidir; será?
A credibilidade da "nossa" justiça deixa a desejar, como quase tudo o resto. As pessoas de bem não entendem estas artimanhas, estas cambalhotas sucessivas; nem muito menos entendem as anunciadas reformas na justiça. Tudo é feito na sombra, para perpetuar as sombras e parece até que há uma maquinação completa, que pode eventualmente remeter para uma teoria da conspiração constante, em que nem sequer sabemos se somos ou não personagens…
Mais palavras para quê? Congressos da justiça, declarações bombásticas dos mais altos responsáveis, descrições idílicas da forma como as coisas se passam e depois os factos; factos como este que falam por si e que contribuem para o desprestígio completo e para mais absurda das realidades!

Mas..., vejam a forma como fala a ministra Cardona, essa excrescência do regime; vejam a prosápia e a arrogância da senhora e depois digam-se se neste momento a justiça em Portugal é ou não é a imagem negra da personagem que vai ao leme…

25 março 2004

De volta ao Blogue, após uma forçada ausência, não posso deixar de abordar algumas questões quentes da actualidade...

1. O 11 de Março em Madrid
Num momento de luto por todos as vítimas anónimas da estação de Atocha, questionam-se mais uma vez as razões porque tudo isto acontece e quantas mais mortes serão necessárias para que o imperialismo, a opressão e a submissão ao poder do dinheiro, conduzam e alimentem o trafico de armas, o branqueamento de capitais, o saque ao petróleo, a proliferação de armas nucleares, a miséria generalizada que atinge 1/3 do planeta, a morte diária de milhares de crianças no 3º mundo com fome, etc…, etc…, etc…

2. O assassinato de Ahmed Yassin
Que já sabíamos o tipo de personagem (custa até dizer pessoa…) que é Ariel Sharon, que já conhecíamos do que ele é capaz, que deveríamos (…) saber que ele não passa de um criminoso de guerra que, de acordo com as suas próprias leis, já deveria ter sido executado, enfim… Agora que o governo de Israel seja capaz de mandar eliminar fisicamente o líder do Hamas, (uma personagem nada simpática, de facto!), assassinando mais 7 ou 8 pessoas, isto sim, roça o mais abominável conceito de justiça, ou de cidadania política! E claro, que o Estado de Israel é um estado democrático, onde há eleições, partidos, assembleias e parlamentos, e essas coisas todas que servem para "nos" distinguir da barbárie muçulmana e outros quejandos que pululam por aí… Praticamente tudo o que é governo (…) condenou o assassinato de Yassin; tudo? Não, porque de facto o governo dos EUA (ao menos são coerentes) o que fez foi pedir que este facto não sirva para acicatar os ânimos no extremo Oriente; fantástico!
Por outro lado, no próprio estado de Israel, no dia de ontem - 24 de Março - o dirigente da oposição trabalhista israelita Shimon Peres considerou "mais importante lutar contra as causas do terrorismo do que contra os próprios terroristas"; trata-se obviamente de um israelita, nitidamente anti-israelita e anti-americano.

3. A absolvição do polícia
Em Portugal, este jardim à beira-mar plantado, em Março de 2003, um polícia é absolvido em tribunal, depois de ter assassinado um cidadão (um jovem ao que parece), com uma arma disparada a 50 cm de distância, com a "atenuante" de o pobre polícia (coitado) não saber que a mesma era uma arma mortal…Mas que raio é isto? Que merda de justiça é esta que temos? Que porcaria (que nojo) de juízes estes que se deixam intimidar pelo chefe máximo da polícia, que foi a tribunal defender o esbirro que concerteza nem sequer conhece? E ainda querem mais poderes!
O facto é que, quando precisamos de um polícia, quando realmente queremos uma ajuda, uma orientação, eles não aprecem; dizem que são poucos, que não têm condições, que têm de pôr dinheiro do bolso para o material de limpeza, que isto que aquilo. O que eu vos digo (e é boa hora de o lembrar) é que após o 25 de Abril defendi (como muitos defenderam) a extinção imediata da PSP e da GNR e a sua substituição por um corpo de segurança desmilitarizado e de tipo novo, em defesa da revolução de Abril

4. Os 20% de pobreza em Portugal
Isto sim, são coisas que ninguém gosta de ouvir, porque é desagradável, é chato, é politicamente incorrecto, ninguém se conforma, muito menos o nosso (meu não, claro!) governo, porque representa a face mais visível do fracasso absoluto e rotundo das suas políticas sociais, que tanto se esforça por explicar, um falhanço da sua "luta" por uma situação melhor (que cada vez é pior), uma demonstração de que todos, todos os passos que dão em termos de políticas fiscais, de políticas económicas, de políticas de consumo, todas elas acertaram numa coisa: cada vez o País está pior, cada vez o país está mais pobre, mais endividado, mais abaixo nos rankings europeu e mundial. Deve ser desanimador para os responsáveis desta direita e desta extrema-direita verificar que não acertam uma que seja (ou pelo menos que alguém reconheça que acertam!).
Mas quem raio é que votou neste tipos? Quanto tempo mais é que teremos de os aturar?

5. As causas deles (e a nossa)
Termino com uma questão de causas. Todos nós ouvimos e lemos, todos os dias, as mais redondas declarações de circunstância, relativas ao que chamo da mais estúpida conversa da treta que existe e que consiste em nos querer passar uma mensagem do que é aquilo que realmente não é.
Vejam uma pequena colecção de frases-tipo da direita que servem para justificar a sua impotência (…) na verdadeira luta contra o terrorismo:
"não é possível capitular contra o terrorismo…"
"nós somos pela vida e não pela morte…"
"é uma luta contra o ocidente e as suas mais consagradas instituições…"
"nós somos contra todas as formas de totalitarismo…"
"nós somos pela democracia, contra todas as formas de autoritarismo…"
"…apoiar os EUA e o Ocidente na sua luta de legitima defesa contra o terrorismo…"
Há mais, muitas mais, todas elas eivadas das mais violentas formas de atentado contra a inteligência de muita gente de bem, que ainda existe por aí. Eles não são capazes de fazer melhor, usam a demagogia como arma letal contra a inteligência, pela manutenção do estado de trevas, um estado de ignorância permanente em que querem mergulhar a maioria das pessoas, para poderem manter a sua política de mentira e de opressão.
Trata-se de uma questão de ideias; e os ideais deles nada têm a ver com a maioria das pessoas de bem!
Quando eles dizem (ainda estou a ouvir o Durão Barroso hoje no debate do parlamento…"o nosso ideal de paz, de liberdade e de democracia" , nada disto que se passa no Mundo hoje tem a ver com Paz, nem com Liberdade, nem com Democracia.
Não tem a ver com PAZ, porque eles de facto querem a guerra, com está amplamente demonstrado, com todas as consequências daí inerentes, com toda a carga negativa que arrasta; os EUA foram para a guerra por razões que têm a ver com a industria do armamento e com a do petróleo e o resto é conversa; resultado: o mundo está muito mais perigoso e os equilíbrios muito mais frágeis.
Não tem nada a ver com LIBERDADE; a liberdade deles é continuar a oprimir o 3º mundo, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres…; tudo o resto é conversa!
Não tem a ver com DEMOCRACIA; ou acham que é Democracia permitir que estejam à frente de governos de Estados democráticos, tipos como um Berslusconi (um vulgar patife, um ladrão que devia era estar preso), um Bush (que nem sequer ganhou as eleições!), um Kadhafi (um esquizofrénico, agora convertido a defensor dos direitos humanos…), um Sharom (um assassino, criminoso de guerra…)? Isto só para citar alguns.
Todavia eles sabem (como se viu em Espanha) que vão cair mais tarde ou mais cedo; mas enquanto estão lá, vão MATANDO todos os dias (embora essas mortes não tenham a visibilidade de New York, de Bali, de Madrid) e não passem nas TVs, nem nas rádios, nem nos jornais, nem em sitio nenhum, porque são notícias que não vendem, porque eles são também os donos da comunicação social, como muito bem se sabe (ou não se tinham lembrado disso também????) .
Por tudo isto, não me venham agora dizer que "cada vez estão mais atenuadas as diferenças entre direita e esquerda" e alarvidades do género; isso é que eles querem que acreditemos!
Eu digo; é exactamente ao contrário!

08 março 2004








A METADE DO CÉU …


Năo sei se acredito no céu; acho que năo! Os chineses dizem que a mulher é "a metade do céu", invocando a sua aproximaçăo provável com uma pretensa perfeiçăo e beleza (…)
O certo é que se calhar, pelo menos em termos de imaginário, as mulheres tęm tido até agora mais inferno que céu. Por isso me veio ŕ lembrança a imagem chinesa neste dia tradicionalmente ligado aos direitos das mulheres; isto desde 1859, em Chicago - EUA, onde foram mortas centenas de mulheres que protestavam contra as suas condiçőes de vida abjectas.
Por todos os cantos do mundo, a mulher sofre de discriminaçăo; em muitos países do chamado 3ş mundo, a mulher chega a ser vista como inferior e privada de falar e dos mais elementares direitos; todos nos lembramos dos apedrejamentos até ŕ morte para a mulher que teve um filho fora do casamento, por exemplo…
Poderá porventura equacionar-se se, nos tempos de hoje, ainda faz sentido lutar por direitos específicos, ŕ semelhança do que se faz desde a Revoluçăo Francesa. O certo é que hoje, em pleno século XXI faz tanto ou mais sentido essa luta, dados os tristes exemplos que determinadas "democracias avançadas" nos văo infelizmente dando. A começar pela nossa porta, onde mulheres săo criminalizadas por fazer um aborto, expostas na praça pública da comunicaçăo social e dos tribunais; na nossa porta, onde o INE nos diz hoje que as mulheres auferem de uma forma geral salários mais baixos…
Para todas as mulheres que ao lado dos homens lutam por uma sociedade mais justa, hoje e sempre um grande e solidário bem-haja!

E finalmente para ti Ana (*) que escreves ao PM uma carta que o devia fazer corar de vergonha (se a tivesse…) um beijo de solidariedade.

Metade do céu? Que céu?
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(*) Ana Drago, na sua Carta Aberta a Durăo Barroso, no "Público" de hoje

04 março 2004














PUROS E ARIANOS

Há coisas que por si só causam repugnância, nojo mesmo. As atitudes ficam com quem as tomam, só eles (ou elas) acarretam com a responsabilidade inerente. Assim parece ŕ primeira vista. Mas de facto nem sempre é assim.
Refiro-me ŕ decisăo da Câmara de Santana Lopes em convidar as escolas a seleccionar alunos interessados em assistir a jogos do Euro 2004. Até aqui, tudo bem. Só que o convite vem da Mac Donalds e pasme-se: "as crianças năo devem possuir nenhuma deficięncia física ou mental".
Que a empresa americana pense desta forma, năo me admiro nada. Agora que uma Câmara alinhe numa enormidade destas é que custa definitivamente a engolir. A ilegalidade é visível e năo deixa margem de dúvida possível. Mas sinceramente, năo é este aspecto que me preocupa. De facto, aquela Câmara, aquela figura detestável, que sonha ser PR, para nossa desgraça, assume uma posiçăo verdadeiramente anti-social, de descriminaçăo abominável e impensável nos tempos de hoje.

Ouvi absolutamente abismado as declaraçőes de uma vereadora da CML na TSF, a justificar-se perante tal decisăo; ouvi também aquela figura execrável que colocaram na presidęncia da federaçăo de futebol, a chutar para canto, como habitualmente. Como é possível que no nosso País indivíduos destes continuem com responsabilidades de chefia e de decisăo? A vereadora, por exemplo, dizia que acordou com o convite para năo descriminar 5 crianças que, dessa forma, poderăo estar perto dos seus ídolos!

Porque năo louros, de olhos verdes (ou azuis, tanto vale!). E se tiverem um olho de cada cor, caso bastante frequente, por sinal? Isso é deficięncia? E se forem pretos, ou ciganos (pois, há quem considere tal facto como deficięncia: coitadinho, é pena é ser preto…). Vamos lá, porque năo PUROS e ARIANOS?
A mais descarada postura, verdadeiramente nazi, assumida por aqueles (ou aquelas) que poderíamos classificar, elas sim, de atrasados mentais. Mas na realidade năo o săo! O que săo entăo estas personagens? Reparem: a vereadora em causa é (só) a responsável pela Educaçăo! Năo deve ter nenhum atraso mental; o que tem, isso sem dúvida, é simpatia latente por ideias que deveriam estar banidas e arredadas da sociedade actual.

Năo há mais palavras possíveis; é tudo tăo triste, tăo obscuro, que mais uma vez, como no caso do aborto, parece que vivemos em Portugal no reino das trevas!
Que poderemos fazer?

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