31 março 2010



GABRIEL
It was only one hour ago
It was all so different then
Nothing yet has really sunk in
Looks like it always did
This flesh and bone
Is just the way that we are tied in
…”
"I Grieve", City of Angels, Peter Gabriel




Apenas há uma hora atrás… A notícia: Gabriel. A primavera de uma Vida que nasce na Primavera do tempo. Agora um tempo em que normalmente desesperamos por isto ou por aquilo. Hoje esperamos. Ele veio ter connosco. Dar-lhe tudo o que ele merece pode ser apenas um lugar-comum, o tempo se encarregará de o fazer feliz neste mundo cada vez mais desigual. Amor, carinho, apaixonadamente, perdidamente, assim mesmo. Saberemos transportá-lo ao maravilhoso mundo dos sonhos, fantasias e utopias? Se a Felicidade é um mito, fazê-lo feliz pode ser a Realidade. Estamos felizes e queremos que ele seja feliz entre nós. Já não há anjos e arcanjos (?), deste dizem ser o arauto de boas novas, mensageiro de boas notícias; e que nos dará compreensão e sabedoria. Poderá transformar o mundo? Quem sabe? Para nós que ora o acolhemos, porventura uma lição de vida, de uma esperança incontida de alegria e de Amor. Com os olhos radiantes de encher a nossa vida de Cor, pintar um quadro para Gabriel na cidade dos anjos que imaginamos. E, como a imaginação é poder, viva pois Gabriel!


30 Março 2010
Alf.

08 março 2010

O segundo erro de Deus?




Mulher e Homem JUNTOS? Claro que sim!

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
de esperas…”

Tourada” (excerto), José Carlos Ary dos Santos, 1972

Foto: João Tocha, Malange, 2009


Evocar um homem a falar da Mulher, poderá parecer um paradoxo, sobretudo, neste dia. Não sei quantos (muitos concerteza) terão sido os erros de deus, essa criatura insondável e malévola, que porventura terá inventado a discriminação e a diferença, como coisas perfeitamente naturais. Quando pronunciou a Mulher como “o segundo erro de Deus”, quereria Nietzsche porventura desmistificar o paradoxo: qual teria sido o primeiro? Ou pelo contrário, associar a Mulher aos erros frequentes e constantes do dito criador? Curiosamente, o autor, que morreu no ano 1900, em pleno verão, com 55 anos, muito novo para a nossa época, haveria de “presenciar” (apenas com 13 anos de idade), ao 8 de Março de 1857 em Nova Iorque, data por demais conhecida. Não há registo que se tenha posteriormente manifestado sobre o assunto…

A história diz-nos que, mesmo nos países ditos desenvolvidos, a Mulher foi diminuída, discriminada e violentada e se revoltou contra as más condições de trabalho e reduzidos salários. Metáforas à parte, estará a mulher, em pleno século XXI, dotada do mesmo estatuto do homem, iguais condições de acesso ao trabalho, iguais direitos, salário igual para trabalho igual? A questão curiosa que se levanta, poderá ter uma resposta politicamente correcta, para os que pensam (e afirmam) que a sociedade do conhecimento gerou em si mesma, a igualdade plena de direitos e garantias e que a democracia, o chavão que dá para encobrir as maiores desigualdades, é o melhor dos sistemas para garantir “oportunidades”. A realidade, para a quem quer ver, contudo não engana. Por toda a parte, em todos os continentes, a Mulher ainda é discriminada e reduzida muitas vezes a um papel secundário. Com contornos de injustiça, de diferenciação de género, por vezes obrigada a práticas atentatórias á sua natureza, como o demonstram, por exemplo, a mutilação genital, praticada até na velha Europa, imagine-se! E sempre em nome das religiões, esse flagelo universal, pesadelo das civilizações, torpe desígnio que as arrasta pelos trilhos da indignidade: burkas, espancamentos e flagelação por não serem fiéis ao sacrossanto marido, por terem gerado e dado à luz um filho fora da instituição casamento, inventada pelas igrejas, a começar pela católica, apostólica e romana. Há alusões aberrantes da Mulher que chocam os sentimentos e a razão, como a de Alexandre Dumas, “mulher - é o anjo e o diabo num só corpo”; lá está no fundo a imagem da religião sempre presente. Um lado escuro do mundo? Teria razão John Lennon quando uma vez escreveu “A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem”? Dá para pensar, pelo menos para quem quer abrir o espírito, libertário que o seja, “… que a liberdade está (sempre) a passar por aqui(1) . Quando a grande Simone de Beauvoir afirmou que “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”, não terá porventura pensado que, quase meio século depois, a situação da mulher relativamente ao emprego, estaria praticamente no mesmo ponto que nos anos setenta do século passado. A verdade é esta: em 2010, no nosso País, “60% dos diplomados em Portugal são do sexo feminino, mas apenas 16% são quadros superiores na administração pública e nas empresas; quando se comparam os salários, os homens recebem em média mais 287,00 euros do que as mulheres que ocupam o mesmo posto(2)

No dia de hoje, quero deixar:
o às amigas, companheiras e/ou camaradas, as palavras de um dos precursores do romantismo (3) : “A mulher é a mais bela metade do mundo
o aos homens, o pensamento de um dos anarquistas (4) que admiro: “Nunca encontrei uma mulher que me fizesse lamentar o facto de ser um homem, e peço-lhes que não aceitem isto como um cumprimento

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(1) Extracto de “Maré Alta”, Sérgio Godinho, 1975
(2)Fonte: TSF / DN, 08 Março 2010
(3)Jean-Jacques Rousseau
(4)Boris Vian

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Citações:
Beauvoir, Simone (9 Jan 1908 – 14 Abr 1986)
Dumas, Alexandre (27 Jul 1824 – 27 Nov 1895)
Godinho, Sérgio (31 Ago 1945 - ___)
Lennon , John (9 Out 1940 – 8 Dez 1980)
Nietzsche , Friedrich (18 Out 1844 – 25 Ago 1900)
Rousseau, Jean-Jacques, (28 Jun 1712 - 2 Jul 1778)
Santos, J. C. Ary (7 Dez 1936 — 18 Jan1984)
Vian, Boris (10 Mar 1920 – 23 Jun 1959)




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