23 julho 2011

DE(1), exemplo vivo do radicalismo ultra-liberal









Obrigado, excelências!

Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade.
E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
…”

Poema de agradecimento à corja” (Excerto), Joaquim Pessoa, Barreiro 2010


Muito embora nunca tenha desembolsado um cêntimo para o jornal em questão, leio-o quase diariamente, apenas porque está disponível no local de trabalho: um conhecido banco espanhol, disponibiliza na minha Instituição, tal iguaria. De borla. O pasquim em questão de reputada reputação (assim mesmo!) ostenta desde o início da dita crise financeira, as posições oficiais, oficiosas e outras que tais, das e dos defensores da inevitabilidade. Obviamente, de mãos dadas com a recessão, o desemprego, a estagnação do crescimento económico, enfim, o imobilismo e a desgraça. No meio daquele deserto ultra-liberal, há uma pequena coluna, escrita por um homem íntegro, chamado João Paulo Guerra. É, muito a propósito, a Coluna Vertebral. Homem a quem a dita assenta que nem uma luva, que contraria ventos e marés adjacentes, numa luta que perdida parece.
Curioso notar (ou não) que, todos os dias, o jornal ostenta as fotografias dessas espécies de luxo que são os 4 líderes (ou CEO) dos 4 designados maiores bancos portugueses. Pelas razões mais diversas, sejam as notações das agências de rating, os aumentos de taxas do BCE, as perdas/ganhos dos ditos, a colocação da dívida, as exportações ou importações, ou quem mais ou menos importa, tudo serve para a fotografia. Ainda estou à espera, um dia quem sabe, de abrir o DE e descobrir que não aparece a foto de nenhum (pelo menos de 1, vá lá) deles, aí estou convencido que o periódico vai perder a sua (dele) identidade. E depois, quer dizer, além das fotos dos referidos senhores, vem o séquito de opiniões “independentes”, que defendem que o que é preciso é mais estabilidade e mais solidez, mais robustez, da banca, porque é assim que se vai ultrapassar a crise, pois é a banca que sustenta a economia. E daí, a solução para todos os problemas do País e arredores, que diga-se de passagem, não são nem mais nem menos que as coutadas desses senhores e dos que se alimentam deles, leia-se, lhes vão comer à mão. Eles e elas (poucas elas, aliás…) que são os analistas, comentaristas, economistas, politólogos (espécie recente), que também são quase todos ex-qualquer-coisa, vindos sempre do mesmo centrão, cinzento, pálido, obscuro, primário, previsível, inevitável. As posições diferentes são sempre curiosamente iguais: as medidas de austeridade são porventura injustas, mas (e o mas é sempre redundante) necessárias, porque de interesse nacional; aqui, a coisa às vezes varia, ou é o “interesse colectivo”, o “interesse do país”, o “interesse público”, ou o avassalador “superior interesse nacional”, umas décadas atrás seria “a bem da nação” e está tudo dito.
Coisas simples, corriqueiras talvez, como por exemplo, taxar em 1% as operações bolsistas, significa exactamente a mesma receita para o Estado que o roubo do 13º mês (1.050 milhões), aplicar 20% de taxa sobre as transferências para off-shores, equivale ao dobro daquele valor, não significam nada para os comentadores do regime. O Diário de Notícias adiante hoje, que “Tributar dividendos rendia mais 50 milhões que taxar reformados”. Mas, claro está, aplicar um imposto extraordinário sobre capitais, à semelhança do que se quer fazer para os trabalhadores, está positivamente fora de causa, já que tal implicaria a famigerada fuga de capitais para o exterior. Como se ela não esteja a acontecer, como toda a gente sabe. E para onde, aliás… Esconjurem-se então tais medidas e quem as apoiar!
Mas, ironia das ironias, por mais PECs e/ou mais medidas para diminuir (artificialmente) o défice e/ou impor mais austeridade, os famigerados mercados, sempre inquietos, irrequietos ou qualquer coisa que o valha, desconfiam (o termo é fantástico) da dita recuperação do País e, vai daí, as temíveis agencias de rating americanas, que baixam a cotação da República, condenando a pátria ao lixo comum.
Então ficamos – os simples mortais que pagam – ou baralhados, ou pasmados, ou plasmados, ou outra-coisa-qualquer que não se escreve assim ao de leve. E pensamos, porque ainda nos damos a esse luxo (!), Mas afinal o que é isto?
O entulho liberal e ultra-liberal apresenta-se agora sob a capa diáfana daquele senhor das finanças que fala devagar e explica tudo (mas afinal ele diz a mesma coisa, não é?), do outro que quer que o tratem pelo nome e não por doutor e da outra que dispensa as gravatas dos colaboradores, entre 1 de Junho e 30 de Setembro. Sérios, competentes e rigorosos, assim nos ensina um dos articulistas de serviço do DE, os novos intérpretes da recessão, do desemprego e da desgraça, têm ainda a suprema virtude: são novos, meu deus! Ao fim e ao cabo, tal como o de Santa Comba que, em 1928, aos 37 anos foi convidado para as Finanças…
Todas e todos têm agora o “conforto” do chefe da Republica, o de Boliqueime, esse mesmo que começou a destruiu o País nos anos 80, durante 2 mandatos, desbaratando fundos em betão e favores, matando as pescas, a agricultura, a indústria e tudo o que mexesse, distribuindo benesses e formando quadros e parceiros como os do BPN.
A triste imagem do país, humilhado e amordaçado, contrasta com o semblante promissor dos 4 banqueiros, um bando que vai a pouco e pouco sugando o que resta. Basta-lhes de facto saber que, por um lado, o estado protector de que se alimentam, os acolhe e lhes paga os prejuízos e que, por outro lado, lhes vai dar na mão os negócios rentáveis (para eles, não para o Estado) das privatizações que se avizinham.
Este é apenas um exemplo da comunicação social que temos e que pagamos. Para além de transmitir e vincular a voz dos donos e o pensamento único, também fabricam sondagens, para orientar o eleitorado para o lado (do centrão) que mais lhes convier, no momento adequado. Esta é também uma falsa democracia, aqui e em toda a Europa, que não tem o mínimo significado para quem trabalha. Todavia eles precisam de quem lhes pague os vícios…






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(1) DE: Diário Económico, propriedade do Grupo ONGOING Media

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