26 março 2014
O CABEÇA DA LISTA
Espezinhado pela sucessão crescente de eventualidades, algumas delas
fortuitas, o candidato vacilou. Torpedeado pela comunicação social, hesitou,
mas rapidamente se compôs, afinal era considerado mestre da palavra, pelo menos
no que toca a velocidade com que dispara, salvo seja. Emagrecido, porventura
após tratamento direccionado para abater gorduras, cujas são entendidas como
tal pela análise da conjuntura, que por sinal são dirigidas à estrutura. Para
quem considere que isto é um pouco complicado, aconselha-se a opinião, sempre
conceituada, dos mais que muitos consultores que pululam por aí. Um pequeno
parêntesis, para corrigir, de opinião,
para da opinião, uma vez que é o
sistema que está instituído e para o qual não há alternativa a curto prazo.
Saiu para
a rua, vagueou sem direcção, assim o conta o poeta, na canção. O tema é sempre
o mesmo, para o cabeça da lista. Consenso entre os do arco, cuja governação
conhecemos há tanto tempo, que já lhe perdemos a conta. Ainda, os superiores
interesses que se sobrepõem a não sei o quê, e que também sabemos de quem são,
onde estão e como são cuidadosamente garantidos, a troca de rendas surripiadas
sempre aos mesmos. Finalmente, a necessidade do controle, que diz ser
orçamental, o esforço em reduzir a dívida, que a gente vê aumentar todos os
dias, uma espécie de pinha que lhe cai sempre na cabeça. Do cabeça. Da lista.
Pudera ser dois, e desdobrar-se, num contorcionismo perfeito, e daria
então ao eleitorado uma espécie de bipolaridade, à primeira vista atraente,
para públicos menos avisados. Daria então duas faces, embora sempre a mesma, em
matéria de facto. O cabeça pensou nisso, obviamente. E analisou essa
possibilidade com a sua gente, consultores, intermédios dirigentes, superiores,
e demais quadros que sabemos serem pintados com muita perícia e cuidado. E
pagos, claro, aqui não há gordura, só músculo.
Após encontros promovidos para o efeito, eis que surgem então as duas
faces, ambas oculadas, uma veloz e incisiva, outra fanhosa e paulatina. As duas
querem aparentemente o mesmo, mas aos olhos da populaça, supõe-se que seja
exactamente o contrário, sendo que convém que apareçam sob a capa de insanáveis divergências, baralhando
assim o jogo que, sem ter começado no campo, se desenrola em plena bancada.
A cabeça pesa ao cabeça, porque o peso do discurso pesa na consciência,
muito embora lhe tenham aconselhado deixar esse tipo de coisa, fora da coisa.
Assim, passará ao ataque da lista, sempre com a cabeça no superior interesse
que, como já se viu, é intenso. Mas, como tem 2 cabeças, poderá acontecer que
uma delas se esvaia na ventania do Tempo, ou conforme o vento que passa, da
trova que o pariu.