04 julho 2016
EMPATE ANTES DO FINAL…
Estranha sorte de
empata. Imensa sabedoria porém do Homem que ganha com os empates. Porque há
quem empate para empatar mesmo, num aborrecido registo que nos maça, por não
produzir outro resultado que não seja o incomensurável tédio que arrasta para a
linha de fundo. Engenheiros que somos, da obra e da palavra, tentamos entender
o mundo como uma sucessão contínua de acontecimentos aleatórios, com os quais convivemos
e muitas vezes nos debatemos em polémicas redutoras. Alguns de nós serão,
aquilo de Marcel Duchamp chamava “Engenheiros
do Tempo Perdido”, uma alusão simples e quiçá profética à construção
patética de cenários aburguesados e conservadores. Quando acordamos para a
realidade apenas vemos sombras, empatados que andamos por quem nos quer
progressivamente amarados a uma visão unívoca e pindérica, oriunda de mentes
menores, embora terrivelmente eficazes nos seus propósitos e objectivos de
dominar e pisar consciências e direitos.
A terrível eficácia
do engenheiro, aprendida em livros e sebentas é progressivamente pincelada pela
vida, nas suas múltiplas e talvez inesperadas facetas. Moldado em termos
humanos, o engenheiro quer demonstrar que a sua obra só faz sentido se for útil
à comunidade. A sorte que o tempo lhe confere é apenas entre a ideia e a obra. Entre
o pensamento e a acção. Usando a eficiência conceptual e a eficácia certeira.
Se o engenheiro conseguir
ser, segundo o universo pessoano, um “recortador
de paradoxos”, irá aproximar-se do intelectual na sua plenitude, ousando
então compreender que a forma de realizar poderá ultrapassar a própria realização.
Aí, mesmo que o empate subsista e que alguém tente sabotar a obra e/ou o seu
percurso, virá o decisivo momento do penalti, que retira a dúvida e estabelece
o resultado. A utilidade prática do engenheiro nunca se esgota contudo na obra,
disseminada que seja a ideia, no sentido do progresso social, da igualdade e da
Liberdade.
Na senda da busca
pelo saber, poderemos atentar no engenheiro Álvaro de Campos. “Toda coisa que vemos, devemos vê-la sempre
pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos…É pena a gente
não ter exactamente os olhos para saber isso, porque então eramos todos felizes”[1]
A felicidade é agora
e mais que nunca um direito a reclamar. Solnado diria, bem a propósito “façam favor de ser felizes”. Seguimos-lhe
as pisadas, rumo ao golo, mesmo que seja com a mão, roendo bem a canela do
adversário. Há que mereça bem mais do que isso…