29 agosto 2016
FORA DE SERVIÇO
Ouço a rádio
Não vejo televisão.
Passa por mim qualquer coisa como uma sombra de um tempo passado. Entre festivais
de verão e fogos florestais, existe uma secreta tradição de passadismo,
misturada com uma dose extra de estupidez de verão. Desculpável, pois claro.
Que dizer de tanta verborreia, do Brasil à Europa, que caiba em linhas
singelas, para entreter incautos cidadãos e cidadãs, enlevados entre um banho
de mar e uma toalha estendida ao vento? Fiquem onde estão, nem precisam sequer
fazer um pequeno esforço de se levantarem, alguém vela por todos vós, a
segurança social está firme no seu posto, não resta uma sombra por ocupar, vá
lá, afirma-se que lá mais para Setembro rebenta tudo com a proposta de
orçamento. Sentença, mais uma, de painelistas profícuos, que antevêem (outra
vez) num qualquer Pontal a esperança ultima da nação, ao mesmo tempo que
relatam “Mata mulher com caçadeira e
suicida-se”.
Passa a vida estival em burkini e
se calhar apanhas uma multa, poderia ser uma das frases da actualidade, que retiradas
do contexto, produzem o mesmo efeito que fora dele. Ainda bem que há Algarve,
todos por lá passam e também eu, embora possamos encontrar em uns e outros
razões diversas. Mas nada disso interessa, estamos (estivemos) enlevados nos olímpicos
jogos, esperamos tudo de atletas distintos, fizemos o choradinho do costume e aterramos
na Liga NOS, que se perdeu o Campeonato Nacional de tempos idos, que é o que
conta, por mais promessas e juras que façamos sobre a importância dos outros “esportes”.
Em tempo de férias, uma inevitabilidade constante, penso sempre nas palavras
do sábio Zaratustra, que “Fora de Serviço”, dizia “Agora, porém, estou fora de serviço; encontro-me sem amo, e, apesar
disso, não sou livre; por isso só me comprazo nas minhas recordações” (a)
A vida flui como dantes, será “… sempre
a perder” como diz a canção (b)?
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(a)
In “Assim Falava Zaratustra”, pág. 403, F. Nietzsche ( 1883/85)
(b)
Referência a letra de “Homem
do Leme” dos Xutos & Pontapés