06 junho 2019

DIA MUNDIAL DO AMBIENTE - O CAPITALISMO NÃO É VERDE!









A Economia o Capitalismo vestiram-se, no dia de ontem, de verde.
De uma forma geral, as “pessoas normais” gostam deste tipo de atitude, aplaudem e dizem, afinal não são assim tão sinistros, até se preocupam com a deterioração do maio ambiente, com os plásticos nos oceanos, com a reciclagem, com o “desenvolvimento sustentável”, etc...
E assim, com declarações de princípios e até com atitudes que parecem ser do consenso geral, vão levando a água ao seu moinho, melhorando a sua aparência, distraindo sobre as suas verdadeiras intenções, que são afinal, ganhar mais dinheiro, ganhar mais áreas de negócio, para a tal Economia Verde, tão do agrado dos Verdes dos vários matizes, espalhados por cá e por lá (Europa e não só). 
Enquanto isso, as tais “pessoas normais”, as que vivem o dia a dia assustadas com as alterações climáticas, que afinal sentem na pele, até se culpabilizam, pensando que tudo aquilo que fazem, que tudo aquilo onde mexem, acabam por somar motivos mais que suficientes para, mudar o clima, para degradar o ambiente. E então, muitas delas entram em negação completa, alterando radical e substancialmente a sua vida, abstraindo de muitos dos benefícios da civilização e regredindo a um estado mais ou menos catatónico, pensando que assim podem alterar o estado actual e “regressar” talvez a uma idade qualquer ainda não definida, ausente dos avanços científicos e, no fundo, das vantagens que a civilização conseguiu.

Um engano completo!
Na realidade, deve dizer-se em primeiro lugar, que qualquer programa sério e verdadeiro de defesa do Ambiente, deve incluir medidas para impedir a detioração do meio ambiente, mas também para ajudar as pessoas a lidar com os seus efeitos.
E, por essa razão, é preciso, em segundo lugar, fazer ver que as políticas não são neutras e que a solução real implica um uma profunda alteração dos modos de produção, de distribuição e de consumo. 
Aqui está o verdadeiro e único problema. Saber que o modo de produção capitalista, embora tenha mudado, adaptando-se aos tempos modernos, conseguindo sempre mais e mais artifícios para melhor explorar, levou de facto um modelo de desenvolvimento errado, à crueldade suprema do crescimento a qualquer preço, sem olhar a meios ou a fins, para conseguir os seus intentos. E daí, que a produção de bens supérfluos, por exemplo, tenha sido levada ao extremo, “apenas” porque dá lucro, criando uma necessidade artificial. Repare-se, por exemplo, na tentativa (bem conseguida) de povoar as cidades com  catedrais de consumo,  com lojas todas iguais, com produtos mais ou menos semelhantes, mantendo-as abertas, horas e horas a fio, fins de semana incluídos, provendo-as de tudo o que seja “necessário” para gastar, para comprar, para a diversão integral e, como é de bom tom, por vezes com um toque de cultura, aqui e ali.
Só que, como bem afirmava Marx, “...o objectivo do progresso técnico não é o crescimento infinito de bens (“o ter”), mas a redução da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre (“o ser”)”. E como o grande pensador alemão, que sempre denunciou a lógica capitalista da produção pela produção, alertou no seu tempo, que todas as sociedades contemporâneas tomadas em conjunto, não são proprietárias da terra, mas sim apenas ocupantes, usufrutuárias, devendo dessa forma, deixá-la em melhor estado para as futuras gerações. 

Todavia, o problema não está somente na produção. Estende-se ainda à distribuição e ao consumo. Tal significa que não existe, nem o capitalismo poderia deixar que existisse, uma democratização das decisões económicas. As grandes decisões que incidem hoje na sociedade, são tomadas pelos “mercados” (ou seja, por uma oligarquia de capitalistas e tecnocratas), levando ao limite a degradação de recursos.

A chamada Economia Verde, é nada mais nada menos, que a tentativa do capitalismo para salvar a sua face. Se disséssemos, por exemplo, que 100 empresas, numa esmagadora maioria de grandes potências capitalistas, são responsáveis por 71% da emissão de gases de estufa desde 1988, estaríamos “apenas” a desvendar o véu imenso da cumplicidade do Capitalismo...

O que acontece na prática, é que o mercado de carbono e dos seus derivados está a replicar os modelos centralizadores e obscurantistas dos contratos leoninos dos grandes centros financeiros, tendo como finalidade evidente a desregulação, típica dos grandes decisores, para “deixar o mercado funcionar”. A poluição, por exemplo, é tratada como simples mercadoria, padronizada para compra e venda, exactamente da mesma forma como as práticas mafiosas do lixo, doa aterros sanitários e até, dos lixos tóxicos.
Mesmo sabendo que alguns dos argumentos que justificam o mercado de carbono, são louváveis e que os apelos para conter o aquecimento global, são legítimos, a forma como são dirigidos e os processos que os regem, acabam por promover a financeirização dos bens ambientais, como a água e as florestas.
Os Estados e e os Governos que praticarem uma política de transferência de responsabilidades para as corporações, através do sistema financeiro, estão a corromper qualquer lógica ambientalista e a prejudicarem os cidadãos e as gerações futuras.
Infelizmente, o que se tem observado, na Europa, é a “conversão” de uma parte significativa de algumas consciências político-partidárias, ao esquema bem montado do capitalismo verde, com todas as consequências nefastas que daí advêm. A primeira das quais é, sem qualquer dúvida, a deficiente interpretação das questões ambientais. É preciso dizer, com toda a frontalidade, que o grande capital vê no “risco ambiental”, um risco para o seu domínio e tenta contornar esse risco, através da designada Economia Verde.
Muito embora não existam respostas definitivas, nestas e em outras matérias, a verdade é que se deve questionar, em primeira instância, o modelo de desenvolvimento actual, fruto das políticas do ordo-liberalismo. E compreender que o “crescimento infinito”, além de não ser resposta alguma, está a degradar sucessivamente e a destruir a Natureza e a Vida. 
Será necessário e urgente defender e activar um Novo Acordo Verde(NAV) que implique a substituição do consumo privado pelo público, através de medidas concretas que favoreçam o investimento público, financiado pela dívida pública. O NAVdeve perspectivar uma mudança de longo alcance e ser abrangente, relativamente a questões centrais, como energia, transportes, construção, habitação, assistência médica, salários dignos e pleno emprego. E ainda, deverá ter como meta o combate às diferenciações racial e de género. Deverá supor-se numa visão holística e eco-social.

Sabemos e afirmamos com toda a clareza: as questões ambientais não estão para lá das ideologias!
O CAPITALISMO NÃO É VERDE!


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