16 julho 2019

A propósito do artigo do Daniel Oliveira, “Porque é que PEDRO NUNO SANTOS vai mesmo ser líder do PS”, no Expresso on-line de hoje, 15 Julho 2019


Este artigo de opinião do Daniel Oliveira parece ser, mais que uma opinião, uma tomada de posição, um despertar de consciência de quem o escreve, com a esperança incontida que os seus desejos se tornem realidade, num prazo mais ou menos curto. No tempo e num espaço mediático que induz tomadas de posição semelhantes. A tempo, em tempo, eleitoral, onde algumas (tomadas de posição) possam valer pontos, como para um concurso qualquer, mesmo que seja tão importante, que signifique um modo de vida futuro, pós-eleições. 
O título é pomposo, assertivo e definitivo. Lembramos, a propósito, que Pessoa dizia “falham as falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento”. E embora acrescentasse, “...a realidade pensada não é a dita mas a pensada”, ficamos com a sensação que existe uma qualquer razão substantiva, para deixar no ar, poluído do ambiente partidário, tal “provocação”.
Pode ser, pode não ser. Como é habitual no Partido Socialista, pode muito bem ser. Mas também pode não ser. A afirmação “Porque é que Pedro Nuno Santos vai mesmo ser líder doPS” é demasiado redundante e, como tal, pode produzir “estragos”. Quer no Partido, quer no próprio PNS. Quer ainda no Daniel Oliveira (DO).
Mas vamos por partes. DO diz-nos que PNS revela “Clareza em assumir os aliados como aliados, os adversários como adversários, o campo político da esquerda como lugar de morada, a identidade socialista sem qualquer complexo”. Sem sombra de qualquer dúvida. Na verdade, é assim mesmo, talvez um político diferente, sem problema em demarcar o campo da Esquerda. Acontece que PNS está no Partido Socialista. Uma verdade indesmentível. E, dentro do partido encontramos, podemos encontrar talvez, mais exemplos de personalidades assim. Dir-se-ia, não, mas este é Ministro. Este homem foi o principal intérprete do sucesso, ainda que relativo, da maioria parlamentar que suportou (ainda suporta) o Governo do Partido Socialista. Este homem diz, sem qualquer problema, “Defender o Serviço Nacional de Saúde universal, público e tendencialmente gratuito só se faz com o PCP e com o Bloco, não se faz com o PSD e com o CDS. Investir na Escola Pública universal e gratuita só se faz com o PCP e com o Bloco de Esquerda. Travar qualquer tentação de entrega das nossas reformas aos mercados financeiros e até a reforma das fontes de financiamento só se faz com o PCP e com o Bloco de Esquerda, não se faz com o PSD e com o CDS. As reformas mais importantes para proteger o Estado social, que é a melhor e mais importante construção política que o povo português conseguiu em conjunto através do Estado, só se fazem com o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda, não se fazem com o PSD e com o CDS.” Tudo isso é verdade, tudo isso leva a afirmar que PNS é, sem sombra de dúvida, um político de esquerda. E que PNS encontra na Esquerda, a sua casa própria.
Acontece que o Partido Socialista não é um partido de esquerda. Poderá ser um partido que está, neste momento "encostado" à esquerda. Convive, mais ou menos bem, com a Esquerda. Com as Esquerdas. O que não é a mesma coisa que ser de Esquerda. O PS é um partido de compromissos, novos e antigos, com interesses instalados, com privilégios vem definidos, habituado ao Poder, naquilo que ele (poder) tem de mais negativo e perverso. Como ver um partido deste tipo, liderado por PNS? Muito difícil. Poderíamos até dizer que, ou o Partido se “rende” à retórica de PNS, ou PNS será “queimado”, ainda que em brando lume, pelo próprio Partido. 
Poder ser eventualmente aliciante, ou mesmo confortante, conjecturar um futuro próximo, com um partido socialista tradicionalmente enquadrado na social-democracia europeia, de rosto manchado pela colaboração sistemática e contínua com os mais inconfessados interesses ligados à banca, a uma ecomimia que destrói diariamente o tecido social, num crescimento sem fim nem rumo, enfim, um partido como este, liderado por um homem de Esquerda, um homem que parece ver na Esquerda o aliado necessário para uma política diferente, radicalmente diferente, a nível do seu país, a nível do espaço europeu. Com um leve “passo de dança”, vai o novo PS, liderado por PNS, defender a soberania de Portugal, o abandono dos tratados europeus que vai reduzindo o nosso País a um parceiro periférico pobre (mas digno...), o fim da submissão pela dívida, a saída do sistema de moeda única que estrangula a iniciativa pública, enfim, mudando todo um sistema que o próprio partido ajudou a construir e continua a apoiar, mesmo que “criticamente”.
Um puro, embora inefável, engano. Não é seguramente um cenário provável. Não creio que seja até “viável”, dentro do Partido Socialista.
Com todo o (muito) respeito devido a PNS e ao seu enorme contributo para a Esquerda portuguesa.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?