26 janeiro 2020

  O CONGRESSO








Esperava-se debate apertado entre os 5, que depois passaram a 3, no congresso do partido que, dizia-se, estaria condenado a desaparecer, por razões tão óbvias, que nem o mais astuto comentador da nossa praça, se atreveria a desmentir.
As razões, que diríamos óbvias, seria porventura derivadas da inexistência de “espaço” partidário, por entretanto ter chegado um “chega”, que chegava para a encomenda da Direita nacional, para defender o que é afinal um programa “...securitário e atentatório do Estado de Direito, com o regresso da prisão perpétua, a imposição da castração química ou a redução drástica do conceito de “excesso de legítima defesa””, citando afirmações recentes de Daniel Oliveira[i] .

Chegava?
Pelos vistos, nem por isso. Faltava a confirmação institucional de um partido que, apesar de tudo (aqui, o “tudo” tem o valor que lhe quiserem dar...) havia feito parte do tal arco de governação, que vingou, graças à bênção do Partido Socialista, durante 40 anos e que “transformou” o País de Abril, num pântano imenso de interesses organizados e de “corajosos” negócios e trocas de lugares, sempre para umas poucas dúzias de nomes, que circulavam entre governos, conselhos de administração de grandes empresas, bancos e afins, escritórios de advogados, comentadores de rádios, jornais e TV. Todas e todos, sempre dos 3 partidos que inclusivamente escolhiam e escolhem ainda, os “reguladores”, os influenciadores, os intermediadores, e outros com a mesma terminação, que poderiam até levar a um termo menos conveniente, do ponto de vista do polimento e da boa educação. Mas que é isso mesmo.

Mas, há algum programa?
Uma excelente questão. Procuramos e não conseguimos encontrar, pelo menos na forma escrita, na moção vencedora, absolutamente nada que possamos utilizar para debater ideologicamente, para utilizar o dito contraditório, até para “destruir” politicamente, ou seja, para “arrasar”, com a nossa argumentação. Há “coisas” que estão lá, como estão em qualquer programa da Direita do século XXI, que tenta desesperadamente defender um modelo de desenvolvimento indefensável, um sistema económico financerizado e à mercê da “boa-vontade” e da “boa-disposição” das tais entidades a que chamam “mercados” e que substituem, ou tentam substituir, estados e governos, um pouco por toda a parte. Basta atentar no vazio completo das palavras do actual líder que diz estar "diariamente em contacto com os portugueses, mostrando um CDS atento, vigilante, presente, que fala a linguagem das pessoas". Mais disse, num rasgo de delírio, talvez próprio da tenra idade (...) que o tal partido "...vai ser o braço direito de todos os portugueses". E, tal como praticamente todas e todos os intérpretes “estudiosos” da Nova Direita, que parece querer uma “nova ordem”, utiliza a inteligente terminologia, que começa e acaba, na conhecida tríade, 
"renovação / reposicionamento / reestruturação".

Quadrilha?
Alguém, no dia de ontem, sobe à tribuna do congresso para tentar “explicar” o significado da asserção assassina. Porque a sua utilização assim o foi, ou para “aquecer” os ânimos, ou para simplesmente dizer o que ia vai na alma, ou no pensamento, ou outro sítio qualquer que o jovem tenha (...). Era (ou foi) mesmo assassina porque, quer na forma, quer no contexto, ficou dita e escrita, "...quadrilha das esquerdas unidas tomou de assalto o sistema parlamentar". O congressista[ii] foi buscar ao dicionário e explicou de que se tratava afinal:  "corja, bando de ladrões e/ou assaltantes, aglomerado de pessoas que só que só se juntam para assaltar ou roubar". Que lhe aconteceu? Foi vaiado, torpedeado pelos eventuais pares. Mas ainda disse,   “Há quem goste, há até quem aplauda, eu não". Sincero, ao que parece, teve o destino que “merecia”, naquele antro, perdão naquela sala. E se mais não fosse, só por aquela “cena”, se adivinhava quem iria “ganhar”.

Admirados?
De todo. Mesmo atendendo aos avisos do citado autor "...espero que não seja este o espírito de intolerância que venha amanhã a liderar o partido" e dando de barato a sinceridade de um homem, tal não abona mesmo nada à falta de cidadania (um termo que a Direita simplesmente não utiliza...) e de dignidade democrática. 
Resta apenas talvez a “parede” que o jovem turco parece querer erguer, para não ver nada à direita dele (ou do partido). A Direita adora “muros”, em vez que de construir pontes para o futuro, apesar de este ser outro lugar comum, na actualidade. 
Mas, na realidade, é capaz de ser mesmo isso. 
A Direita, quando “apertada”, ou simplesmente quando for caso disso, revela a sua verdadeira face. Não se importa com as desigualdades, porque “acredita” na caridade de uma qualquer “jonet”. Não faz questão de querer justiça social, porque o aparelho de dominação da burguesia lhe dá aquilo que pretende, afinal o status que muda  aqui ou ali qualquer coisinha, para manter tudo na mesma. Não lhe incomoda nada o rentismo capitalista, porque as rendas vão para o lado que lhes convém, ou seja, para o seu. E fala dos temas questão na moda, porque apenas quer ser o eco de uma maioria que é diariamente desqualificada e desprezada pela injustiça e pela desigualdade.

É precisamente isso, essa bandeira que não lhe podemos oferecer! 



[ii] António Pires de Lima

This page is powered by Blogger. Isn't yours?