11 setembro 2023

DOZE MIL MULHERES CHORAM NO CHILE

 

Hoje, dia 11 de Setembro, é dia de chorar no Chile.

Cerca de 12 mil mulheres, vestidas de preto e com velas nas mãos, fizeram uma vigília numa simbólica proteção do Palácio La Moneda, bombardeada há 50 anos durante o golpe de Pinochet, noticia hoje a Agência Lusa.

Provavelmente, nem tudo foi contado sobre o horrendo golpe fascista que derrubou, há 50 anos, o regime democraticamente eleito de Salvador Allende. Hoje, poderíamos simplesmente dizer que nunca esqueceremos o assalto de Pinochet, antecedido das manobras da CIA e da administração americana que conspirou, desde o início, contra o regime socialista. 

Sabemos, está na história recente da América Latina. Todas as tentativas de afastar o jugo capitalista foram sempre travadas com dinheiro e armas pelos americanos, que pensam serem os donos do Mundo. Uma situação que ainda hoje segue os mesmos princípios, as mesmas regras, num “método” que o jornalista e escritor norte-americano Vincent Bevins denunciou, no ano passado, na sua obra que evoca a cruzada anticomunista de Washington e o programa de assassínio maciço que moldou o nosso mundo, nomeadamente na Indonésia, onde os EUA ajudaram as forças militares indonésias a matarem cerca de um milhão de civis inocentes, no ano de 1965.

 

Hoje, o Chile chora os seus mortos. Prisões, torturas, execuções sumárias, assassínios, desaparecimento de cidadãos, estão na lista de “intervenções” dos fascistas e dos seus aliados. Uma das mais significativas terá sido a da imposição de uma série de “reformas”, que marcariam a lógica neoliberal na América Latina e que rapidamente se estenderiam ao Mundo inteiro, um “ensaio” da designada escola de Chicago, na interpretação do que consideram ser o “mercado livre” e o domínio da economia na sociologia e na política.

 

Há mulheres a chorar pelo que foi feito às mulheres de há 50 anos. 

Fala Lídia: "As mulheres foram muito prejudicadas - foram mães, esposas e filhas de presos, desaparecidos e mortos pela ditadura. Ocupamos um papel fundamental na família, núcleo fundamental da sociedade e sobre cada uma de nós, houve um peso tremendo de dor".

Fala Melissa: "E é por isso que ainda está tudo muito vivo, porque 50 anos depois não há justiça. Todos nós procuraremos pelos nossos parentes desaparecidos até o último dos nossos dias. Isso é vital. Se quisermos avançar, tem de haver justiça. Para se perdoar, é preciso a verdade, caso contrário, isto vai-se arrastar eternamente".

Fala Triana: "São as mulheres que levaram contenção ao interior de famílias afectadas pela ditadura. Mantivemos a memória viva e, quando os chilenos saíram às ruas contra o regime, as mulheres eram a maioria". 

 

Outra mulher, de nome Rocío Montes, que é directora de informação do Jornal El País, em Santiago, denuncia múltiplos casos de abuso, tortura e violação de mulheres. Diz Rocío que uma jovem de 16 viveu o inferno supostamente num recinto da Direção de Inteligência Nacional (DINA), que funcionou entre 1974 e 1977: “Fui estuprada, punham-me correntes, me queimaram com cigarros, me davam chupões, puseram ratos (…). Me amarraram a uma maca onde cães adestrados me estupraram”. E afirma, sem qualquer filtro, que “Pinochet fez das mulheres troféus de guerra”. 

Na sua obra em livro, reúne trechos de relatório que revelou as atrocidades da ditadura chilena, relata que quase todas as mulheres que foram torturadas no Chile desde o golpe de Estado de 11 de setembro 1973, sofreram também violência sexual, sem distinção de idade: “...pelo menos 316 foram violadas, incluindo 11 que estavam grávidas. Do total das vítimas que depuseram entre 2003 e 2004 na Comissão Nacional sobre a Prisão Política e Tortura, 12,5% eram mulheres (3.399). Dessas, 229 esperavam um filho, e algumas perderam-no; outras deram à luz após serem violadas pelos seus torturadores, e muitas passaram por intrincadas e recorrentes tortura sexuais que incluíam agressões físicas e humilhações diante de pais e irmãos”.

 

Nos 17 anos do seu mandato de crime e violência, o regime fascista de Pinochet deixou um saldo de quase 40 mil torturados e de mais de 32 mil mortos e nunca foi julgado de forma justa. Inspira ainda, hoje em dia, muitos seguidores, não só no Chile, como em todo o Mundo, que, na maior parte dos casos, nem sonha com o que se passou, em 1973 e nos anos de terror que aconteceram de seguida.

 

Hoje lembro com algum orgulho as sessões em que participei, mostrando o filme “Chove em Santiago”, após o nosso 25 de Abril. 

Há quem afirme que o realizador chileno Helvio Soto deve ter chorado muito enquanto fazia esse filme. A enorme tristeza pelo regime de terror e obscurantismo que assolaria o Chile no dia 11 de Setembro de 1973, está retratada na sua obra contra a barbárie, com a cumplicidade criminosa da administração norte-americana. Ela que nunca é capaz de chorar pelos crimes que cometeu e que ainda comete.

 

Choremos pois, com as mulheres chilenas. 

Chorando, lembramos e dizemos: FASCISMO, NUNCA MAIS!


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