17 dezembro 2023

 PODE SEGUIR (PS) OU PODE NÃO SEGUIR (PNS) ?

 

Após a esperada vitória de Pedro Nuno Santos (PNS) para Secretário-Geral do Partido Socialista (PS), a comunicação social exulta com a percentagem obtida pelo outro candidato, afinal “o seu candidato”. Que é uma “percentagem significativa”, que é “preciso ter em conta os votos que alcançou”, que este PS, agora de PNS, não é todo igual e outras que não retivemos, mas que nos levam a pensar, qual é a notícia afinal?

Pensávamos (pelos vistos mal) que a notícia seria a vitória estrondosa de PNS, mas estranhamente (ou não) a comunicação social burguesa tem outra interpretação. O que nos leva a concluir que a notícia não interessa nada. O que importa afinal parece ser a história por trás da notícia, um modelo que é seguido, sem excepção alguma, por Rádios, TV, Jornais, que tentam (com grande sucesso, diga-se de passagem) moldar a chamada opinião pública com uma narrativa cuidadosamente montada e que tem sempre como objectivo central a desinformação e a criação de um cenário que existe numa bolha e que pouco (às vezes, nada) tem a ver com a realidade. É sempre assim, infelizmente.

 

Pode então seguir?

Se pode, analise-se por favor o discurso de vitória de PNS. E, nesse entretanto, poderá dizer-se que, na parte que nos toca, tirando o costumeiro (e gasto) discurso sobre “europeísmo”, (mesmo que “crítico”, como PNS o classifica), é difícil discordar, no que reporta a conceitos-chave da Esquerda e que significam, se aplicados e desenvolvidos, os valores que Abril instituiu. Vejam-se os casos do aumento do salário e sua dignificação, do cuidado a ter na questão da habitação, na preservação do SNS (conquista de Abril e que “eles” votaram contra e agora defendem), na defesa dos direitos dos jovens, mulheres e idosos (faltam aqui os homens, mas subentendem-se), da Escola Pública e todos os que têm a ver com o “País Inteiro”, asserção que PNS utilizou para aportar a um “Povo”, entendido, ao que parece, como e quem trabalha e faz “crescer” o País e que nos parece transportar ao “país inteiro com vidas escondidas” que, um dia, Maria Lamas quis retratar, na sua cruzada insistente como activista política, na luta pelos direitos das mulheres, durante ao Estado Novo.

 

 

Mas, pode não seguir?

Pode, caso o discurso não passe além. Afinal, andamos a ver isso durante muito tempo. Andamos a ver e a aceitar muito do empenho em afirmar “belas palavras”, que adicionadas às tais “contas certas”, não passaram (e não passam) de um engodo, para melhor serem aplicados (todos, insisto, todos!) os princípios neoliberais. Que assim revestidos e enroupados, passam como necessários e por vezes até, inevitáveis. Assim acontece, quando entra a “questão europeia” e as regras hediondas do défice e dívida. E então acontece mesmo a tal inevitabilidade, que leva muitas vezes a que ouçamos: nós bem gostávamos de, mas as regras não deixam. E que têm, desgraçadamente, algum sentido.

 

E então, em que ficamos?

Ficamos à espera. Sim, parece ser essa uma opção sensata. Na verdade, PNS poderia eventualmente aproveitar esta vitória inequívoca, para afirmar, fazendo, afinal é ele que nos diz, que é preciso fazer. Contudo, fazer, implica fazer bem. E fazer o que é preciso fazer, nomeadamente escolher o lado certo, que é, sem qualquer dúvida o de quem trabalha, o de quem produz, o de quem detém apenas a força de trabalho para sobreviver, muitas vezes, nas condições mínimas que o capitalismo neoliberal lhe “oferece”. E nem sequer é preciso “hostilizar” o capital, segundo uma conhecida tese social-democrata. Basta apenas fazer o que é necessário para acabar com os privilégios, com a política rentista, com as situações de favor, muitas vezes escandalosas, que tornam o País “partido aos bocados”. Se PNS quer (e não há qualquer razão para duvidar) um País inteiro, então que mostre que tem que ser assim mesmo. Fazendo. E fazendo bem.

 

E a “moderação”?

A insistência na “moderação” significa apenas uma coisa: investir contra quem defende o que é preciso, para mudar uma sociedade podre e um sistema decadente. O outro senhor, alcandorado por toda a comunicação social, poderia bem estar noutro qualquer partido de Direita, à escolha. O seu discurso, pobre, vazio e insistentemente chato, é típico de todos aqueles que querem mudar umas coisinhas, para que fique tudo na mesma. É o discurso do conformismo e da submissão. É o espelho da indiferença perante as questões sociais mais prementes. É a manifestação da política dos grandes interesses, travestida com intenções duvidosas como, por exemplo, “...somos o partido do bom-senso”. Sabe-se bem o que tal significa. Foi o que vimos com a maioria absoluta do PS.

 

Siga!

Diria que, para “poder seguir”, PNS tem hoje uma oportunidade de ouro para mudar o Partido. Com uma percentagem daquelas, que mais parece um avanço de vinte e tal pontos para ganhar o campeonato, poderia atrever-se “apenas” a pôr em marcha a máquina, afinal ele até foi Ministro das designadas infraestruturas, que incluíam os comboios. Só tem mesmo que não mudar de linha, não inverter a marcha, nem ficar muito tempo parado em qualquer apeadeiro. Olhar com atenção para sua Esquerda e não dar prioridade à direita, uma coisa que apenas acontece na estrada e, mesmo assim, com muitas restrições.

 

Uma forma de desfazer o equívoco PS-PNS.


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