20 fevereiro 2024

  

 

O AMIGO IMPROVÁVEL

 

Há amizades que não são recomendáveis. É uma afirmação provavelmente pacífica, na medida em que a maior parte das pessoas, se costuma precaver de algumas situações desagradáveis, afastando quem levanta alguma suspeita, ou simplesmente não inspira confiança. Sendo a Amizade um sustentáculo da cultura humana, seria de esperar um pouco mais de eventuais amigos improváveis. Muito provavelmente.

 

Faleceu, a 16 de Fevereiro, um indivíduo, de nacionalidade russa, chamado  Alexei Navalny (AN), um jovem advogado, com apenas 48 anos, muito conhecido no Ocidente, por ser alegadamente o principal opositor político de Vladmir Putin.

Uma morte tem sempre um lado negativo. É o desaparecimento de alguém. 

Convém entretanto saber de quem falamos. Independentemente do facto de ser injustificável, em pleno século XXI, alguém ser (ou estar) preso por delito de opinião. 

Mas de quem falamos então? Segundo a UE e para o Ocidente em geral, o senhor NA é o símbolo de resistência anti-Putin, declarado como líder da oposição. 

Nada mais falso. NA sempre foi um nacionalista, da ultra-direita, tendo sido expulso do Partido Yabloko (social-democrata e pró-europeu), por ter declarado apoio expresso aos neo-nazis e extremistas de direita. Fundou então o NAROD-Movimento de Libertação Nacional Russa, uma organização que juntou neonazis de várias matizes, com o apoio de alguns jornalistas de extrema-direita. Este senhor foi, a partir da sua radicalização crescente, um blogueiro de extrema-direita, xenófobo, com um convívio bastante amigável com os fascistas e racistas mais execráveis. É bom lembrar, a propósito, as suas declarações, constantes de um video de 2007, em que comparava os imigrantes a baratas e incentivava a população a tratar estrangeiros como se fosse pragas, sugerindo o uso de armas de fogo para eliminar muçulmanos. Essa peça foi citada pelo insuspeito New York Times, em 2011, valendo a pena transcrever a posição do Jornal norte-americano:  “Ele apareceu como orador ao lado de neo-nazis e skinheads, comparando militantes do Cáucaso de pele escura a baratas. Enquanto as baratas podem ser mortas com um chinelo, diz ele que, no caso dos seres humanos, recomendo uma pistola

 

O senhor NA foi, na sua essência um xenófobo racista, que defendia a “higienização completa” (palavras dele), a deportação dos cidadãos islâmicos e, pior ainda (se tal é possível), como se viu, a eliminação. Conforme também se sabe, este senhor era pura e simplesmente irrelevante no seu País. Como afirmou recentemente numa entrevista o jornalista José Goulão seria impensável e até um acto de estupidez que o regime de Putin o mandasse eliminar. A própria Amnistia Internacional lhe retirou o estatuto de “prisioneiro de consciência”, deixando antever a manifesta mentira da propaganda do Ocidente.  Atentando no seu artigo de 11 de Março de 2021, “Conheça o herói russo da União Europeia”,

José Goulão lembra o percurso  fulgurante do senhor AN, nos Estado Unidos: “Em 2010, Alexei Navalny recebeu o diploma de graduado no programa World Fellows na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Trata-se de um seminário de 15 semanas para «futuros líderes estrangeiros», ou seja, onde se preparam, por exemplo, agentes de «revoluções coloridas» a exportar para todo o mundo onde os Estados Unidos as considerem necessárias. Alguns colegas de Navalny nesse curso não demoraram a entrar em acção e tornaram-se intérpretes do golpe dado em 2014 por Washington e a União Europeia em Kiev, que implantou na Ucrânia um regime sustentado por organizações nazis...Navalny tornara-se blogueiro e, dois anos antes da sua graduação por Yale, defendeu a guerra russa contra a intervenção da Geórgia na Ossétia do Sul em tons apaixonadamente nacionalistas. Propôs que Moscovo lançasse um míssil de cruzeiro contra o Estado Maior das Forças Armadas da Geórgia porque, garantiu, os georgianos não passam de «ratos».”

 

Entretanto, um outro senhor chamado João Gomes Cravinho, vem uma vez mais, alinhar com a propaganda: "Presto homenagem a Alexei Navalyn, que resistiu ao regime de Putin e lutou pela democracia na Rússia. Putin, que exerceu o seu poder arbitrário prendendo-o em circunstâncias cada vez mais draconianas, é responsável pela sua morte"

Sem qualquer prova evidente, acusa o regime de assassínio. E quanto à luta “pela democracia na Rússia”, das duas uma: ou anda a dormir, ou concorda com um nazi confesso e um exterminador de muçulmanos. Não há aqui meio-termo possível. É este mesmo senhor que hoje veio criticar a ausência de temas internacionais da campanha eleitoral em Portugal, para depois declarar abertamente que é preciso investir nas indústrias da guerra. O ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros, que não deve conhecer a palavra PAZ, sustentou que todas as lideranças políticas têm responsabilidades na procura de respostas para a “desordem internacional” que tem repercussões na vida de todos. Enquanto isso, vai fazendo de conta que a guerra em Gaza e na Palestina nem sequer existe, defendendo a miserável posição dos EUA, NATO e quejandos. 

Conhecemos bem a retórica anti-russa e a defesa da guerra interminável contra o “inimigo”. Tantas vezes me lembro, nos tempos de outrora, da propaganda da Emissora Nacional fascista de Salazar: “Rádio Moscovo não fala verdade”.

Tudo hoje (infelizmente) muito semelhante...

 

NOTA:   aconselha-se os eventuais “distraídos”, quando se abordam questões ligadas à Rússia, Ucrânia e outras ali bem perto, a informarem-se, a estudarem bem o assunto, antes de aderirem ao síndrome “Cravinho”, apenas e só para não fazerem a mesma triste figura dele...


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