09 maio 2024

A ESPIGA DA EUROPA NÃO DÁ PÃO



 

Associado a uma simbologia pagã, apropriada, como tantas outras, pela igreja católica, está um antigo ritual ligado à fertilidade e à abundância, que convoca à celebração do tradicional Dia da Espiga. Tradicionalmente, este dia era considerado como um verdadeiro dia santo, em que não se devia trabalhar e que estava reservado para as pessoas e suas famílias fazerem um passeio matinal pelos campos para colherem espigas e um ramo de flores silvestres, aprimorado com oliveira e alecrim.  Ainda existem aldeias portuguesas que celebram este dia, que antes havia sido feriado nacional. Acima de todas as crenças estará a consagração da Primavera e da natureza no seu esplendor. No plano prático encontramos similitude da espiga com o pão, essencial para o sustento.

 

Não se sabe o que o acaso nos pode mostrar, em celebrações como esta. Porque hoje também se celebra o Dia da Europa. Segundo consta do site da UE, o 9 de Maio serve “...para festejar a paz e a unidade do continente europeu”. E mais diz que a data “assinala o aniversário da histórica “Declaração Schuman”, que expôs a visão de Robert Schuman de uma nova forma de cooperação política na Europa, que tornaria impensável uma guerra entre os países europeus.”

Daquilo que sabemos do “projecto” de convergência e de união entre os povos, que teria estado na base da “construção europeia”, pode ser hoje motivo de chacota ler o que ficou atrás citado. Isso e mais a tremenda lavagem ao cérebro dos cidadãos feita pelas agências de informação ao serviço do capitalismo neoliberal, para os levarem a acreditar que há um projecto em seu apoio e ao seu bem-estar. O que vemos é a extensão dos privilégios aos senhores do dinheiro e expansão militar, ao serviço da empresas de armamento e da imposição de um regime colonial aos países da periferia. E o cúmulo de tudo isto é a Europa ser a face do mais profundo desrespeito aos desalojados e despojados, com políticas vergonhosas de discriminação e de humilhação aos chamados não-europeus, plantados em campos de refugiados, por força de políticas atentatórias dos direitos humanos. Uma Europa subjugada ao imperialismo americano, chefiada por um directório não-eleito e com um parlamento esvaziado de sentido e de poder, à mercê de burocratas e oportunistas, com uma linguagem e uma atitude destituídas de sentido humanitário, tendo como único propósito enganar, mentir, desprezar a cultura e reescrever a História. Com milhões e milhões que nunca faltam quando se trata de semear a guerra e a destruição, tentando (e conseguindo...) convencer os cidadãos de que estamos a “defender os valores do ocidente e da civilização”.

O actual primeiro-ministro português, na sua “simplicidade” de raciocínio e no seu conhecido primarismo, disse hoje uma verdade terrível: os portugueses deveriam sentir-se “contribuintes da UE”. Não cidadãos, mas sim “contribuintes”. Como que a preparar o terreno para o grande objectivo desta união desastrosa que é a Europa do século XXI:  o “contribuinte” deve ser “convidado” a “investir na defesa”, ir o mais longe possível na consagração de uma percentagem de 2% para tal desiderato.  Esse é primeiro objectivo, pois temos que nos defender dos russos, que vêm por aí abaixo para anexar o continente. Por mais estúpida que seja a ideia, a verdade é que ela parece prevalecer e é nela que querem que acreditemos.

 

Celebremos então o dia da espiga, com “jarros e perpétuos amores” e “pássaros estúpidos a esvoaçar”, como na canção do Reininho, onde se adora “...o campo, as árvores e as flores” e “todos os bichos do mato”. Mas, na celebração, não nos esqueçamos que esta Europa é uma farsa e uma mentira completa, onde “não há pão, não há sossego”, como na canção do Zeca. Onde o pão para quem precisa é sempre mitigado.

Ao “celebrar” o que querem que celebremos, demos contrapor que a espiga da Europa não dá pão.


05 maio 2024

UMA NOITE DE TERROR NO PORTO

 



 















A noite e a madrugada de 4 de Maio marcam o terror para os imigrantes do Bonfim, barbaramente agredidos por uma horda fascista e racista, na Cidade. São covardes que atentam contra a vida e os direitos humanos, indignos e indigentes, que apenas têm na cabeça excrementos da sua existência miserável. 

Quando encapuzados forçam a entrada em casa de emigrantes e os agridem com paus e sabe lá com que mais, como conta a reportagem do jornal Público, estamos perante (mais) um caso de violência intolerável, provocada por energúmenos que não merecem a Liberdade e que não são capazes de conviver com a diferença e com a tolerância. É absolutamente inadmissível que as polícias apenas consigam dizer que vão investigar, quando se conhece bem esta linguagem, que tolera e permite comportamentos daqueles. Aliás, diga-se de passagem, que as polícias estão quase sempre do lado dos agressores, basta ver a forma como reprimem as pessoas diferentes, nas suas manifestações pacíficas. E já agora, a forma como toleram, no seu seio, verdadeiros racistas e fascistas.

Quem conhece e lida com este tipo de gente, que nem merece que isso lhe chamem, sabe bem que estão dispostos a tudo, mesmo a matar. Querem e ostentam, no seu discurso e actos, a “limpeza”, que não é mais que, pura e simplesmente, sinónimo de eliminação.

Segundo o relato do Jornal, os cidadãos emigrantes fogem assustados pelo telhado e provocam barulho e estragos que alguém se apressa a perguntar “quem paga os prejuízos?”, aparentemente uma lamúria que encobre o sentimento racista e xenófobo de quem acha que “eles” estão a mais e que “...deveriam ir para a sua terra”. Alguém, na sua infinita estupidez, diz não acreditar que a casa tenha sido invadida sem motivo, “...alguma coisa devem ter feito”, a costumeira lengalenga de quem apenas pensa em si próprio e não faz a mínima ideia do que é uma sociedade solidária.

Ao dizermos que tudo isto tem que terminar, como o faz o Presidente da República, salientando que “...a violência racial e a xenofobia não têm lugar na sociedade portuguesa” deveria passar das palavras aos actos e pugnar pela igualdade de tratamento, numa sociedade profundamente desigual. Ao condenar “...veementemente, em meu nome pessoal e do Governo português, os ataques racistas desta noite...”, Montenegro diz exprimir solidariedade “...com as vítimas e reafirmo tolerância zero ao ódio e violência xenófoba”. E não deixa de elogiar “...o trabalho das nossas forças de segurança”. Aqui deve dizer-se, com toda a frontalidade, que aquelas forças são as mesmas a quem se deve atribuir a enorme responsabilidade de nada fazer, na maior parte dos casos, e noutros, de incentivar o “trabalho” dos nazis e racistas.

O principal e verdadeiro problema, é que as políticas que os “responsáveis” defendem e praticam, promovem e semeiam a injustiça e a desigualdade. 

E o medo de ser ... apenas um cidadão.


02 maio 2024

UM PRIMEIRO DE MAIO VERMELHO! 



Este sim.

Após "tantos anos a viver pela calada", ou simplesmente subjugados à ditadura mediática, eis que a rua de repente é invadida e ocupada por quem trabalha e luta, muitas vezes, pela sobrevivência. 

Assim foi no 25 de Abril, assim foi no 1º de Maio. A cor vermelha passou à frente do cinzentismo do Poder. Uma ofensiva necessária? Sim, porque estar à defesa significa recuar sempre, permitindo aos vampiros que continuem a comer tudo e a não deixar nada, alimentando-se do “sangue fresco da manada”. Sim, vampiros, como por exemplo a EDP e as grandes superfícies, Pingo Doce, Auchan, Sonae, Minipreço, Lidl. São estes que, ao mesmo tempo vêem o governo da Direita a baixarem os impostos, obrigam os trabalhadores a trabalharem Sábados, Domingos e feriados, muitas vezes sem receberem a dita “compensação”.

É disto que devemos falar, nomeadamente. Como é possível que se permita às grandes superfícies e hipermercados estarem abertas no Dia do Trabalhador?

A nova forma de escravatura passa (também) por aqui. Há que denunciar, há que impedir a tirania do Capital. É completamente falso que a abertura dos gigantes do mercado favoreça alguém. O que é verdade é que, pela obrigação forçada do trabalho aos fins de semana, se instalou o medo e a submissão. E que é também verdade é que, se andarem por esse mundo, encontram poucos, muito poucos, exemplos como o nosso, onde a parvoíce de ir fazer compras aos Domingos pegou de estaca, em prejuízo dos trabalhadores, cada vez mais explorados.  

Acordem, venham para a rua, o lugar onde a Esquerda deve estar permanentemente, na insubmissão que a deve regular e onde os poderes normalmente acabam sempre por cair.

E que viva o 1º de Maio e a luta internacionalista dos trabalhadores!


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