08 julho 2024

E QUE VIVA A INSUBMISSÃO!



 Situando as coisas, atentemos no triplo verdadeiro significado de “insubmissão”: rebeldia, desobediência, insubordinação.

O viva à insubmissão faz hoje, 8 Julho 2024, todo o sentido, não apenas pela vitória da coligação de Esquerda em França, mas também pelo facto de o Partido maioritário da Nova Frente Popular ser o “França Insubmissa”, de Mélenchon. E ainda pela recusa ao conformismo burguês, que apostava na continuidade, tivesse ela a face macroniana, ou a penista da extrema-direita.

A comunicação social burguesa montou um espectáculo favorável, sobretudo quando apostou, como sempre o faz, em falsas premissas, baseadas na tese perversa que, na Europa, as pessoas cansadas de políticas adversas à sua condição e aos seus direitos, querem apostar em qualquer “coisa diferente”. A perversidade está precisamente no facto de a “tal coisa” ser a extrema-direita, que nada tem para oferecer, a não ser mais miséria (Itália...), mais desigualdade, mais discriminação, mais ódio. Na verdade, o catastrofismo que apregoam é secundado caninamente pelos comentadores do regime, que promoveram e promovem a extrema-direita que dizem combater, que normalizaram as agremiações fascistas, nazis e xenófobas, equiparando-as à uma “extrema-esquerda” que apenas existe na sua limitada imaginação. E, para cúmulo, nas suas teses lerdas e limitadas que contribuem, nos tempos que correm, para a estupidificação colectiva, a principal marca do “venturoso” século XXI.

Claro que há “mas”. Há sempre um “mas” para tudo. Mas (lá está) quando se tenta mascarar a vitória da Esquerda, com afirmações néscias, como “a derrota da extrema-direita não é assim tão má, porque afinal aumentaram o número de votos...”, “o partido de Macron afinal não foi derrotado como o previsto...”, ou “as Esquerdas dificilmente se vão entender...”, chega-se ao delírio máximo do desvario. Aliás, não foi a comunicação social burguesa, através do mecanismo perverso das sondagens, que mais “orientou” para a “inevitabilidade” da ascensão e presumível vitória da extrema-direita? Os “mas” que agora se devem colocar nada têm a ver com a lógica burguesa que, ao distorcer por completo a ideia de democracia, afirmam hoje que “isto” é apenas um intervalo, o que interessa agora são as presidenciais. 

Entretanto, atente-se neste delicioso pormenor: a questão parece ser sempre o personagem (mulher ou homem), a sua pertinência, ou resiliência, sinónimos de um poder fátuo. A verdadeira questão é o sistema, um sistema económico e financeiro que promove diária e permanentemente, desigualdades e injustiças. Precisamente na França, onde hoje há quem não tenha dinheiro para comer, para comprar remédios, ou para ter uma habitação decente, tal foi a fúria neoliberal que se abateu sobre os trabalhadores.

Para os comentadores e para os acólitos jornalistas que os promovem e incentivam o que interessa é mesmo (como sempre aconteceu) desviar atenções para a “personagem”, ocultando o essencial. Ao apostarem no catastrofismo patente, exemplificado em tiradas destas, "desastre para a economia, tragédia na imigração...” ou “vitória da Esquerda é uma verdadeira derrocada para a Europa”, estão a promover quem as profere. Ao procederem desta forma são cúmplices do capital e merecem o repúdio generalizado. A sua falta de credibilidade é, não só, fruto da sua incompetência, mas sobretudo sinal da sua ligação fatal aos interesses do dinheiro. Acordarão num monte de esterco no dia em que os trabalhadores acordarem e tomarem o Poder.

 

Fica, para reflexão, a crítica ao “sistema democrático”, que o Ocidente (e particularmente a Europa) promove e quer impor como único e o melhor para o “nosso modo de vida”. Tal é particularmente sensível a quem, por absoluta impossibilidade, não conhece outro. O que querem dizer quando falam no “reforço da democracia”, ou no “aprofundamento do espaço democrático na Europa”, quando vemos, multiplicados todos os dias sinais de restrições à Liberdade de expressão, gastos sumptuosos de dinheiro para promover e instigar a guerra, imigrantes despojados e atirados ao mar, populações marginalizadas caso não alinhem pelos tais “valores”, cidadãos cada vez mais pobres e sem acesso aos bens essenciais?

A EU vai mesmo conviver mal com a vitória da Esquerda em França. Vai obviamente engolir um sapo do tamanho do seu ego. Esta “união”, que dá palmadinhas nas costas a nazis declarados e a fascistas encapotados, precisa mesmo é de uma insubmissão generalizada, que promova o Conhecimento e que active o melhor do ser humano, para a destruição do sistema que o oprime e o impede de pensar. Bento de Jesus Caraça, disse, nos anos trinta do século passado, “Um pensamento que não passe à acção ou é aborto ou é traição”. Saibamos ler, nas palavras deste Ilustre português, o necessário (hoje, doloroso) apelo à acção.

E que viva a INSUBMISSÃO!


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