09 novembro 2025
“... Levanta-te meu povo, não é tarde
Agora é que o mar canta é que o sol arde
Pois quando o povo acorda é sempre cedo”
“O Trabalho”, José Carlos Ary dos Santos (1977)
Vinham do País para a Cidade, num dia de sol, de comboios, de autocarros, “...alguns por seu próprio pé, um chegou de bicicleta/ Outro foi de marcha à ré”, quais índios de uma praia a metade, que a vida lhes tirou, ao contrário do tempo de uma Revolução que pouco mais de um ano durou e lhes tinha dado algo a que aspiravam. Quando, ao tempo, o Zeca cantava “a nobreza dos Índios da Meia Praia” talvez não imaginasse o cenário negro dos dias de chumbo que viriam e que obrigam os trabalhadores a sair à rua ocupada pelos burocratas da burguesia, ao serviço do Capital. Eis então que se fundem o “Capital” do predadores e a “Capital” ocupada, cumprindo o poema onde aparece a grande verdade sobre a propriedade subtraída, aí está então: “Pois é dele a sua história e/O povo saiu à rua”.
A palavra caiu na rua no exacto momento em que a mulher se preparava para declarar a sua intenção em ficar na rua para marcar o terreno que não tinha, a bem dizer, não tinha qualquer casa para viver, quanto mais terreno para criar a sua galinha, que o preço dos ovos está pela hora da morte, ocupava ela a rua como forma de fazer ver (a quem?) o seu direito a ela, de todos como ouvira dizer um dia e hoje, mais do que nunca, achou que seria a forma mais simples de cumprir esse direito. A ela se juntam cem mil, em ruas cheias de imaginação, como esta, a recordar o Grupo de Acção Cultural de 1975, orientando o sentido da Luta:
“Até à vitória final
Lutaremos pela causa do povo
Opomos o trabalho ao capital
Até à Greve Geral”
Sente-se uma alegria revolucionária na Cidade, algo que faz falta para acordar consciências e provocar os que pretendem paralisar a luta dos trabalhadores, cedendo-lhes aqui e ali as migalhas de uma má consciência. Acontece que o trabalhador, sistematicamente em construção, deu o salto necessário, que o Vinicius registou:
“Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.”
Se o pacote laboral só interessa ao capital e queremos Greve Geral já, a comunicação social da burguesia oculta quase tudo. As notícias da rádio e televisão pública ficam-se por apontamentos como, "...pessoas de todas as idades desceram a Avenida da Liberdade para se juntarem nos Restauradores, onde várias figuras da CGTP discursaram.”, eram “...milhares de pessoas, vindas de todo o País”. Conscientemente ocultam, muitas vezes mentem descaradamente, parecem mais interessadas em acompanhar o futebol: na manhã deste dia de hoje, preferem as eleições do Benfica, o golo irregular do Sporting nos Açores e sei lá que mais no Porto. Da manifestação, zero, um escandaloso alheamento da realidade. O Candidato Seguro diz que o governo devia ouvir os trabalhadores, para evitar a greve do próximo 11 de Dezembro, uma provocação imensa à sua luta mostrando (finalmente) ao que vem, se necessário fora.
Num outro cenário, aquele em se prepara a Greve Geral, a mulher pergunta se será ouvida, os trabalhadores em comissão ou em sindicato querem saber se a greve é o “último recurso” ou se é aquele direito nobre a que têm direito. Estamos então aqui para afirmar a GREVE como um acto claro e directo de REVOLUÇÃO. Se assim o pensamos, assim o devemos levar à prática. Que se abram as portam da greve!
