21 outubro 2005

ESTE HOMEM NÃO!

Ele diz: "Posso contribuir para a melhoria do clima de confiança, para o reforço da credibilidade e para vencer a situação muito difícil em que o nosso país se encontra." Mais uma vez, após longos anos de exílio político, com intervenções episódicas, surge o homem-forte, o salvador da Pátria em perigo. 

E continua, dizendo que pretende ajudar o Governo a governar, graças "à experiência e conhecimento da vida política nacional" e das "dificuldades que se colocam a qualquer governo em tempos de mudança como aqueles em que vivemos". Depois vem com as mais que estafadas declarações sobre a economia e a necessidade do seu rápido crescimento, lamenta os 400 mil desempregados e pinta o retrato negro assinalando o afastamento "do nível de desenvolvimento da União Europeia e da nossa vizinha Espanha".

Convencido (será que é um mero convencimento?) de que o seu currículo e formação lhe permitem enfrentar os problemas que enuncia, diz estar em condições de ajudar o país a reencontrar o caminho pelo seu conhecimento da realidade portuguesa "e pela reflexão que ao longo dos últimos anos" tem "vindo a fazer sobre a razão das dificuldades que atravessamos". Conclui o seu discurso, com a velha (e gasta) máxima que a direita usa quando quer enganar os incautos: "Candidato-me para ajudar o país a vencer as dificuldades em que está mergulhado e construir um futuro melhor".

Ora vejamos. Em primeiro lugar, como se vê, o homem não tem realmente nada para dizer, ou para dar ao País, além do já disse e deu. Todos se recordam da personalidade cinzenta que numa bela tarde foi fazer a rodagem do carro àFigueira da Foz e lá se instalou na liderança daquele partido (como ele dizia...). A ascensão a primeiro foi um passo, todos (todos não!) esperavam por um salvador, à boa maneira portuguesa, por um Salazar qualquer, que nós somos assim... Lembram-se também que o homem nunca se enganava e raramente tinha dúvidas (era mais ou menos isto...), que nunca lia jornais, mas ouvia sempre a sua Maria. Recordo também os famosos tabus, as referências aos opositores (todos!) como forças de bloqueio e finalmente o deixem-nos trabalhar.... Não sei se esqueci alguma outra citação, mas estas bastam de todo para as pessoas se lembrarem do homem.

Em segundo lugar, convém não esquecer que o homem chega ao poder no momento em que o País beneficia dos fundos estruturais do I QCA (Quadro Comunitário de Apoio), que esteve em vigor entre os anos de 1989 e 1993. O homem comemorou no passado dia 6 de Outubro precisamente 20 anos da vitória nas eleições legislativas, que lhe permitiram constituir o seu primeiro Governo (1985-1987) e a que se seguiram mais dois governos de maioria absoluta (1987-1991 e 1991-2001). E que convém que se lembre sobretudo que ele foi o primeiro responsável pelo desbaratar de milhões sobre milhões de contos em betão, por exemplo em auto-estradas que hoje praticamente ninguém usa (vejam os índices de utilização das auto-estradas do interior...), em detrimento do investimento na educação e na formação. Estamos a pagar hoje o fracasso completo da política de opções estratégicas do homem e dos seus apaniguados. Tenho para mim que se há fracassos de politica em Portugal no final do século XX, esta étalvez das mais graves e prova a capacidade do homem que agora aparece a candidato a PR. No dia de ontem, após a apresentação, alguém disse que os portugueses tem de ter memória. Essa é de facto a marca principal do dia de apresentação da candidatura do homem que afronta a memória de todos nós, ao pretender limpar a face, apresentando-se (mais uma vez...) como um não-político. Ao dizer o que disse, Jerónimo tem toda a razão do Mundo: é preciso ter memória, é preciso não esquecer que, se estamos como estamos, bem podemos agradecerao homem que ontem se apresentou. É preciso pois desmistificar o discurso do homem, é preciso recordar o que não se fez e devia ter sido feito, não deixar passar (mais uma vez?) a imagem do rigor, da honestidadee de outras coisas que na boca deste homem soam a falso, porque já deu provas do mais rotundo falhanço... Diz ele que não se candidata contra ninguém. Diz que se candidata ...para ajudar o País a vencer as dificuldades em que está mergulhado e construir um futuro melhor. Termino dizendo que, por um lado até acredito que ele não se candidate contra ninguém mas, por outro lado, que recuso a ajuda dele para construir o tal futuro melhor: o futuro que ele ajudou a construir está aí à vista de toda a gente... 

Estou disposto a contribuir com a minha campanha para desmistificar o discurso deste homem que ora se nos apresenta, depois de uma patética cena de um novo tabu. Os responsáveis políticos devem pegar neste tema, de imediato e mostrar às pessoas a realidade que está por trás do homem... 

Não, este homem decididamente não serve!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?