01 novembro 2005

UMA ACTIVIDADE PARASITÁRIA .. 

Quem acompanha minimamente a informação que nos vai sendo dada pela comunicação social, escrita e/ou falada, pôde constatar uma série de notícias sobre a Banca portuguesa, na semana passada. De facto, quer o Publico, quer o J.N. fizeram algum destaque às buscas nalgumas entidades bancárias, a propósito (?) de suspeitas levantadas pela PJ sobre actividades paralelas dos bancos nas off-shores (leia-se, na da Madeira...), ligadas á lavagem de dinheiro e, ao que parece, ao branqueamento de capitais. As buscas às sedes do BCP, do BES e posteriormente do BPN confirmam as suspeitas e estendem-se a interesses dos vários bancos, tais como empreendimentos, herdades, casas de férias, etc....

Tudo coisas que a gente sabe de há muito tempo a esta parte. Digo eu, claro. E como a gente sabe, sabem também as autoridades. Portanto, é de saudar, apesar de tardia, a iniciativa da PJ.

Tenho para mim, que a actuação da banca, de uma forma geral, é no nosso País, um dos exemplos acabados de má politica e de má gestão. Os bancos pagam impostos em Portugal qualquer coisa como a 3ªparte de qualquer contribuinte, individual ou empresa. E para quê, para cumprir alguma função social? Para apoiar empresas a desenvolver a sua actividade? Para apoiar a internacionalização da empresas nacionais? Para apoiar os cidadãos na melhoria das suas condições? Nada disso, como se sabe. Apenas e só, cada vez mais, uma actividade especulativa a coberto das isenções e dos favorecimentos de nós todos, afinal. E de ano para ano, os bancos aumentam os seus lucros, em completo contra-ciclo com as outras actividades económicas e, pelos vistos, ainda ocultam e transferem para off-shoresparte dos lucros que geram.

Penso que muita gente tem más experiências com os bancos e com os seguros, outra das actividades que geram cada vez mais lucros e para os quais os contribuintes mais contribuem; enfim, um roubo legalizado, instituído e ainda por cima, nalguns casos, obrigatório. A minha última experiência, por exemplo, foi a detecção de um débito na conta-corrente de qualquer coisa como 200 e tal euro que eu não sabia explicar; após ter consultado o gestor de conta do banco, foi-me informado ter havido um lapso e que oportunamente me seria creditado na conta um valor idêntico; caso para perguntar, o que aconteceria se eu não tivesse dado conta do erro...

A ideia que a maioria das pessoas fazem dos bancos é pior que o que possa parecer à primeira vista; faça-se um inquérito (como está agora em moda, por assuntos menos importantes...) e vejam-se os resultados. No ano passado, estive presente em 3 sessões públicas para apoio a projectos de empreendedorismo de mulheres. Projectos que visavam o apoio publico a iniciativas empresariais de jovens mulheres, com habilitações ao nível da licenciatura (na sua maioria). Para as sessões foram sempre convidados os bancos, fonte natural de financiamento de actividades empresariais. Pois acreditem que em nenhuma das sessões, compareceu nenhum dos bancos convidados; o contrário, por exemplo, de entidades cooperativas ligadas ao micro-crédito. Numa das sessões, uma convidada francesa, ligada a uma associação de apoio ás novas empresas, declarou existir em França um acordo entre a banca e o governo, que incluía a possibilidade de acesso a um crédito especial durante os 3 primeiros anos de vida da empresa. Porque é que tal não existe no nosso País?
A resposta a esta questão é muito simples. Porque os bancos não contribuem para o desenvolvimento do País, não precisam de arriscar um mínimo que seja numa actividade empresarial, dadas as benesses que já têm e que cada vez geram mais e muito mais lucros. Esta actividade sim é rentável. Tão rentável que até se compram uns aos outros, numa frenética diversão, típica do 3º Mundo...

Pensemos finalmente na panóplia associada à actividade de desvio de fundos: branqueamento de capitais, favorecimento de negócios menos claros entre estados e privados (leia-se máfias...), tráfico de droga, tráfico de armas e outros que a gente nem conhece bem, Tudo isto existe de facto e funciona num Mundo que parece diferente daquele em que nos movemos...

Pois que se tenha coragem de ir até ao fundo na descoberta das irregularidades ora avançadas, mas não só. Que se tenha coragem também de acabar de vez com o off-shore da Madeira. Que se acabe de vez com o famigerado sigilo bancário. E que os bancos passem a desempenhar um papel social de apoio às empresas e aos cidadãos, em vez de apoiarem actividades ilícitas e impróprias, alimentando as grandes fortunas e favorecendo o desvio de capitais e do dinheiro que, pelos vistos, tanta falta faz ao País.

# publicado por Alf : 18:13

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