07 fevereiro 2007

SIM, claro! 

Decididamente não gosto de referendos... Considero que só em casos de extrema importância, digamos nacional, se justifica o uso desta forma de auscultação. É então na Assembleia da Republica (AR), o órgão legislativo por excelência, que as questões de leis devem ser tratadas. Relativamente à questão da IVG, considero (e escrevi varias vezes sobre isso) que o assunto da lei em si mesma (e da sua substituição) deveria ter sido tratada na AR. Como tal manifesto mais uma vez o meu respeito e admiração por todas(os) as(os) deputadas(os) que defenderam essa posição na AR. A actual maioria era perfeitamente capaz de legislar sobre a matéria.

Mas estamos hoje a agora durante a campanha do Referendo do dia 11 e é sobre a questão da pergunta em concreto que nos devemos pronunciar. SIM claro, sem qualquer dúvida, sem nenhuma hesitação: queremos que a lei mude e como tal devemos votar SIM. Mais, devemos insistir no único ponto em que não há dúvidas nenhumas: quem votar Não, estará a votar para que tudo fique na mesma.

Assunto velho, com os mesmos contornos de há 30 anos, que a democracia nunca consegui resolver, com a mais completa cumplicidade da grande maioria dos que hoje estão do lado do Não. É preciso dizê-lo com toda a frontalidade: eles querem que tudo continue na mesma, querem ver as mulheres sujeitas à maior devassa que se pode imaginar: a da sua vida privada, à da sua intimidade ameaçada por uma queixa mesquinha de um qualquer funcionário zeloso; do Não, claro. É preciso dizer mais ainda (outra vez com toda a frontalidade): eles querem impor a todo o País (pelo menos...) a sua vontade, as suas crenças, os seus dogmas, os seus sagrados princípios, enfim...as suas limitações. Nós defendemos a liberdade, a defesa dos direitos humanos, o direito à dignidade, se quiserem... o direito à vida! Não queremos obrigar ninguém a pensar como nós pensamos; apenas queremos que a lei mude; e, para a lei mudar só se pode votar SIM!
Por isso, a tentativa nos últimos dias de alguns sectores do Não de ressuscitar uma proposta onde se previa a não continuidade do processo por crime de aborto é da mais profunda hipocrisia. É uma vergonha vir, a meia dúziade dias da votação, propor afinal que os processos-crime não tenham seguimento, como se alguma vez isso fosse possível num quadro legal de penalização criminal. Aquilo que poderia ser encarado como uma recomendação aos juízes, num contexto de aplicação da lei actual é, como muito bem lembrou Rui Pereira no ultimo P&C da RTP, uma mascarada completa no momento em que está em causa um Referendo precisamente sobre a matéria. Para esses moralistas baratos o Estado consideraria (à mesma) criminosas as mulheres para todos os efeitos e depois na sua bondade iria dizer à mulher que o seu processo não continuaria...; isto claro se nada acontecer entretanto, que em caso contrario, cá estaremos para lhe aplicar a pena!
Tudo isto deve ser denunciado! Em boa verdade não acho que ninguém, em seu perfeito juízo, aceite tal coisa. Pode haver ainda, como certamente haverá, muita falta de informação sobre a matéria, muita ignorância consentida, muita manipulação ligeira e finalmente muita desonestidade politica (para não lhe chamar outra coisa...)

Iniciei a dizer que manifestava o meu respeito e admiração por aquelas e aqueles que até agora têm defendido a alteração deste estado de coisas. Quero agora dizer, numa sequência lógica de raciocínio, que não consigo játer qualquer respeito por aquelas e aqueles que têm utilizado o palco social, em toda a sua extensão para mistificar a realidade e para fazer valer os tais sagrados princípios e tentar impô-los aos outros. Não posso ter respeito pelas figuras públicas da direita tradicional, dirigentes partidários, personalidades responsáveis que, com cobertura jornalística de destaque, comparam o aborto ao tráfico de droga e ao tráfico de armas: sinceramente não lhes perdoo, tenha isso o valor que tiver! Também não perdoo (a esses muito menos, eles que têm o privilégio de perdoar...) aos membros da Igreja Católica e particularmente à sua hierarquia a campanhadesenfreada, descabelada e desesperada que uma vez mais fizeram e que vão ainda fazer nos últimos dias; não sei se merecem resposta, claro; pelo menos resposta escrita, não!
Não mais a Natureza ou o Estado, ou uma qualquer religião podem decidir sobre o futuro e a vida das mulheres. Só na realidade elas próprias e é precisamente por isso que a igualdade de género é uma questão de democracia e de cidadania. Aos que como eu votam SIM apelo então para uma mobilização geral ao voto no dia 11; para que seja possível passar uma mensagem muito simples afinal: votar SIM évotar para que a lei seja mudada; para que não fique de novo tudo na mesma, como querem os partidários do passado e das trevas...

Por isso, SIM CLARO!!!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?