05 março 2007

CRÓNICAS DE TIMOR-LESTE -4
TIMOR COM RUGAS...



Dili, 4 e meia da tarde deste dia conturbado que começa com a recomendação da Embaixada Portuguesa para a restrição de circulação; os professores não iriam dar aulas hoje, o hall do Hotel Timor povoa-se de gente que circula, sem saber bem o que fazer. Com uma reunião no Palácio do Governo às 9 da manhã, hesito em fazer a pé o percurso habitual, tomo um táxi, apenas um minuto e meio, por 1 dólar. Recebo convite do Instituto Camões para a apresentação, na Fundação Oriente, do livro (() Timor, as Rugas da Beleza, António José Borges, Garça Editores, Peso Régua, 2006) do TozéBorges, professor de literatura portuguesa na Universidade de Timor Lorosae. É precisamente ao título da sua obra que roubo a ideia para o nome desta crónica, segundo o autor uma homenagem aos velhos de Timor-Leste que perpetuam o mundo imaginário do Bei Lafaek (o Avó Crocodilo); serão eles, cada um desses velhos, uma autêntica biblioteca itinerante (() Referência do autor), de onde se soltam palavras silenciosas (() Idem, ibidem.).
Aproveitam-se os momentos de convívio, após a apresentação do livro do Tozé; a Mara (do Instituto Camões) faz as honras da casa emprestada, o ar condicionado avariado, as bebidas bem quentinhas, mas com todo o mundo bem disposto, bebendo o fim de tarde chuvoso e quente, com montes de soldados nas ruas.
A provar, se necessário fora, que este mundo é mesmo pequeno, o prazer imenso de reencontrar um colega de curso da FEUP; uma conversa técnica sobre energias renováveis e, ao fim de alguns minutos descubro o Cordeiro, não nos cruzávamos desde o já longínquo ano de 75, marca no tempo do final de curso para ambos.

Falo ainda sobre o que me trouxe por cá, apenas para dizer que o dia de hoje transportará toda a carga emotiva da satisfação do chamado dever cumprido. Após uma longa reunião que vai quase até às 2 da tarde, conseguimosdelinear o Projecto de construção do Centro Comunitário de Educação e Formação de Bidau Massau, mais um Centro Internet e ainda um pequeno Parque de Jogos. Os dados estão agora lançados, acertam-se os orçamentos, discutem-se os pormenores do início das construções, do envio da primeira tranche de dinheiro e claro da necessidade de apresentação de contas. O que significa esta obra, ou melhor estas obras, para os timorenses da aldeia, não tem palavras. Nós, do outro lado, tentamos aprender o significado do que é a cooperação para o desenvolvimento. Em Timor-Leste, o País das crianças, das mulheres silenciosas (silenciadas?) e dos velhos que mostram nas suas rugas toda a beleza deste Oriente com uma claridade imensa, apesar da sombra dos dislates dos últimos dias.

Amanhã, espera-se um dia mais claro ainda...



Dili, 5 de Março, ano 2007
ALF.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?