18 março 2007

CRÓNICAS DE TIMOR-LESTE -5





SONHO(S) E REALIDADE




Cada dia que passa em Timor-Leste aprendo uma nova maneira de ver as coisas. Para já, a comunicação com as pessoas não é fácil, um sim pode às vezes ser um não e vice-versa, depende um pouco como a questão é colocada. Entretanto, nos bastidores do Projecto, os contactos com as autoridades locais revelam sempre uma grande preocupação com “o depois”. E o que é isto? Nem mais nem menos que a perspectiva de saber como vão ser rentabilizados os espaços que vão ser construídos, como vão ser programadas e animadas as actividades previstas, qual a taxa de ocupação dos centros, quem e como os vai utilizar… Aqui, espaços como os que vão se edificados e equipados, significam paradoxalmente um perigo potencial de vandalização, dada uma certa instabilidade latente que se vai sentindo. Aproximam-se as eleições, a presidencial primeiro, a 9 de Abril e as legislativas, um mês depois e, a pretexto (ou não) desses factos, tudo pode acontecer. Torna-se para nós evidente que tudo tem que ser programado, definidas as responsabilidades, orçamentadas as obras, analisadas as alternativas, cimentadas as parcerias, enfim desenhados todos os cenários, para que a probabilidade de falhas seja a mínima possível. É para nós um dado adquirido que deve ficar assente desde já a futura direcção do Centro Comunitário.

Enquanto isso, o Presidente Xanana Gusmão com quem me encontro, dá conta de um sonho que persegue há anos: reactivar Soibada, por onde terão passado sucessivas gerações de timorenses que constituem até aos dias de hoje a elite cultural do território; o Colégio da Soibada, dirigido ate 1910 pelos Jesuítas, destinava-se à formação de professores-catequistas, incumbidos ao mesmo tempo da alfabetização e da instrução religiosa das populações rurais. A ideia, o sonho enfim, seria implementar aí um Centro de Estudos avançados para professores, formadores, académicos, com o propósito de consolidar uma “formação estruturante”, capaz de preservar a defesa da língua portuguesa e as tradições e costumes timorenses e de promover a cultura e o saber. Anoto as preocupações do Presidente e faço saber que o sonho pode transformar-se num grande projecto, desde que seja possível fazer um diagnóstico da situação a esse nível, identificar as vertentes-base e procurar os apoios que permitam avançar uma proposta de intervenção global para o relançamento da Coimbra de Timor-Leste, como é conhecida Soibada. O sonho pode vir a ser uma realidade, num futuro próximo. Aceito o desafio, naquilo que poderá significar uma resposta da sociedade timorense para a sua formação e enriquecimento culturais, uma aposta de futuro na sociedade do conhecimento onde nos inserimos.

É que “…sempre que um homem sonha, o Mundo pula e avança…”

Dili, 10 de Março, ano 2007
ALF.

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