21 agosto 2008



O avião…

Céu, tão grande é o céu

E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão,Ah, eu não sei, não sei
E o vento que fala das folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também…”
Dindi”, António Carlos Jobim

Estava eu a perorar senão quando o aviltador lista de imediato as suas exigências, ficar parado durante 70 minutos, o fim como devem calcular, sem perceber a razão daquilo, enfim uma chatice. Nem me atrevo a levantar do sítio, tamanho é o peso da responsabilidade, aí uns 60 e tal quilos. Para trás e para o lado, nunca para a frente em pequenos passos, uma grande massa que mais parece um pássaro assustado com tamanho espaço pela frente, ganha forma com alguns ruídos à mistura deixando antever pequenos conflitos, pautados aliás num estrépito relativo, decibéis ligeiramente acima do socialmente aceitável, passo naturalmente ao lado, não sem algum esforço de síntese, dado que a antítese está completamente fora de hipótese. Parados somente, portanto. Simplesmente expectante, socorro-me de prefixos meditativos estribados em experiências recentes (com alguma ironia). Para já nada posso fazer, para além de reflectir na posição típica destas situações, o ângulo oscila entre o agudo e o obtuso, o que é manifestamente grave, esta uma geometria variável que deveria estar fora dos planos, não fora a perspectiva do próximo minuto (afinal como é?). Mais uma maçada, senta e levanta devagar, sem aquela certeza esperada, agora não há mais a música do costume que poderia embalar o ritmo dos minutos, que pena. Uma atitude é porem possível, a decisão está tomada, é realmente necessário, não digo passar à acção, mas talvez accionar o passado, recordando mas afinal onde estavas no dia tal, quando poderia ter tido hipótese de reflectidamente promover o acto, será que é desta? Já ouvimos as habituais parábolas diccionistas, que vulgaridade meu deus, mas pronto eles assim o querem. Não consigo apreender e é com alguma apreensão que desligo e passo à frequência seguinte, só agora me lembro que devo estar infringindo qualquer regra, isso deixa-me satisfeito, motivado até, será que é em frente ou para o lado? A cigarra fumadora não pode entrar, nem sequer naquela sala minúscula muito procurada quando as luzes se apagam e a cintura fica livre. Bem, nem vos conto (está bem, então eu conto) é uma correria, tudo fora do sítio, uma via que deveria ser só de um sentido, não o é na verdade e não há sinais que a coisa vá melhorar; entretanto a parada está agora alta, aí uns 20 mil pés (porquê pés e não mãos?), a frase assim é difícil de dizer, portanto não adianta insistir. Quando finalmente podemos descansar, eis que voltam as hipérboles, desta vez elípticas, em três metades, parece dislexia mas não o é, uma vez que as interjeições não se cruzam com o diâmetro da dita (enfim geometria…); nos preliminares até que a coisa promete, contudo nos finalmente há a prova provada que mais valera esquecer. Nesta altura (que como já se disse é mesmo alta…) está muito frio lá fora acreditem, para aí uns vinte e tal negativos (daquele senhor alemão que começa por “F”; nesta fase do campeonato não vamos fazer substituições que possam comprometer o resultado. A natureza da situação leva-nos a aceitar agora algumas oferendas, assim como dar de bandeja, estão a ver, agora é melhor ler tudo até ao fim, até para poder desancar forte no autor, agora refastelado noutro ângulo, mais uma vez a geometria à liça, sempre presente nos piores momentos. De folga com os tachos (lembro-me do programa do outro…), reencontro o gosto de um ponto de vista suficientemente alto para que o zoom actue e me deixe pensar. Na realidade precisamos agora de mais terra, mas temo que tal não seja viável, dada a rarefacção relativa e a despersonalização associada ao efeito.
Mesmo que nos encontremos de novo, vou mesmo fingir que não sei de nada, é bem feito Dindi…

No ar entre Luanda e Joanesburgo, 20 Agosto 2008
Alf.

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