21 setembro 2008

AMBIENTES… (1)

A defesa do ambiente é uma questão central do desenvolvimento sustentável; uma vez que os poderes públicos normalmente são pouco sensíveis a estas questões, leia-se não dão votos, compete à sociedade civil organizar-se no sentido de alertar, sensibilizar e educar; é mais uma vez, a cidadania global que está em causa. Elencamos algumas premissas para ajudar a compreender o que está em causa.

1. Os 4 Rs e o negócio da Reciclagem
Quando se fala em 4Rs, associamos de imediato a Agenda 21, que é um plano das Nações Unidas para ser adoptado nas as áreas em que a acção humana tem impacto sobre o meio ambiente; esse Plano tem abrangências global, nacional e local e deverá em principio ser levado a cabo pelos governos e pela sociedade civil, em defesa do meio ambiente. Os 4R derivam dos termos Reduzir, Reutilizar, Restaurar e Reciclar e contêm em si o significado do que deveria ser feito, em termos do que comummente se designa por consumo sustentável. Reduzir, significa a opção do consumidor por produtos de longa duração e com menor quantidade de embalagens; um bom exemplo é utilizar sacos de compras de pano no supermercado, para reduzir o uso dos sacos de plástico. Reutilizar é aproveitar os materiais usados, como por exemplo, embalagens, ou produtos que permitam uma utilização ilimitada, como são as pilhas recarregáveis e as recargas de produtos. Restaurar significa reparar (móveis,…) ou consertar (aparelhagens danificadas,…). Finalmente, Reciclar, provavelmente o termo mais conhecido, quer dizer promover a separação dos resíduos, com vista a uma posterior utilização.Estima-se que em média, cada português produz 1,3 kg de lixo por dia; produzir menos lixo deve ser então um dos objectivos primeiros a ser atingido; reduzir por exemplo o número de embalagens que compramos, preferir embalagens grandes em vez de muitas embalagens pequenas, evitar alimentos embalados, usar o papel dos dois lados em vez de comprar mais e mais papel, usar os sacos mais do que uma vez, são algumas das sugestões para que seja drasticamente reduzida a quantidade de lixo que produzimos. Se pensarmos nos milhões os sacos de plástico e outras embalagens que todos os anos entram nas nossa casas, no desperdício de energia que poderia significar uma poupança de 86 milhões de contos por ano, ou seja, 16 milhões de barris de petróleo, encontraríamos decerto razões de sobra para mudar determinados padrões de comportamento.
Mas, é preciso que se diga, a reciclagem transformou-se num negócio; proliferam as empresas que reciclam tudo e mais alguma coisa, muitas vezes mal e com objectivos mais que cinzentos. Veja-se a título de exemplo o que fez a empresa Valorsul, segundo informação da QUERQUS. “A empresa de tratamento de resíduos urbanos da grande Lisboa está a incinerar 55% dos plásticos recicláveis provenientes da recolha selectiva efectuada pelas câmaras municipais de Lisboa, Loures, Amadora, Vila Franca de Xira e Odivelas. Após análise dos resultados da recolha selectiva e triagem de plástico a nível nacional, conclui-se que na estação de triagem da Valorsul a taxa de rejeitados dos materiais do contentor amarelo, onde é colocado o plástico, atingiu um valor de 72%, sendo o triplo da média nacional (24%), segundo dados da Sociedade Ponto Verde e do Instituto dos Resíduos. Como resultado, em 2004 a Valorsul só reciclou 1,9% do plástico, sendo o segundo pior sistema do país (dos sistemas com mais de 200 mil habitantes). Este sistema só foi ultrapassado pela ERSUC (Distritos de Aveiro e Coimbra) que apresentou um valor de 1,5%. A explicação para estes fracos resultados, só pode ser encontrada no facto da Valorsul querer queimar o plástico, obrigando assim as câmaras a pagar esse processo, impossibilitando-as simultaneamente de receber o dinheiro a que tinham direito pelo esforço que fizeram na recolha selectiva.” Entretanto, outra empresa do género, a ERSUC, quer instalar um grande incinerador, pelo que tem sistematicamente impedido o lançamento de uma política de reciclagem nos Distritos de Aveiro e Coimbra. Estas 2 empresas abrangem cerca de 22% da população portuguesa que se vê assim impossibilitada de dar o seu contributo para a reciclagem de plástico. Os dados da Sociedade Ponto Verde são claros: em 2004, Portugal apenas reciclou 2,7% das embalagens de plástico dos resíduos urbanos, quando para 2005 a meta comunitária é de 15%. Cumprir as metas que o País se comprometeu? Assim, nunca mais!


2. O principio do utilizador/poluidor/pagador
Pagamos impostos, para que a redistribuição possa garantir maior equidade; e para que o investimento público tenha preocupações sociais e de desenvolvimento; e ainda, para garantir igualdade de oportunidades, no sentido de que o colectivo assuma solidariedades internas, para que o acesso a serviços essenciais não seja um privilégio apenas de alguns. Certo portanto que sejam aqueles que mais poluem, ou seja (nestes casos) tenham opções de compra que contribuam para o desperdício; vendo bem, porque razão hei-de eu pagar pelos poluidores, ou seja aqueles que compram os produtos que eu recuso à partida? A questão das eco-taxas deve ser colocada então na ordem do dia, como por exemplo cobrar mais por produtos de pequena duração e com maior quantidade de embalagens.

Há quem diga que o mais importante é reciclar as atitudes; nessa linha, o sistema educacional pode cumprir um papel relevante, educando devidamente as novas gerações; estará cumprindo o seu papel? Parece contudo que os dois primeiros Rs, Reduzir e Reutilizar ainda encontram resistências culturais e económicas assinaláveis e portanto há que investir fortemente na sua correcta interpretação. Segundo estudos do World Resources Institute (WRI), a produção total de resíduos de Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Holanda e Japão cresceu pelo menos 28% nos últimos 25 anos! Será que pagam para isso? Duvido.

(continua...)

Links relacionados:
http://www.abinee.org.br/index.htmhttp://www.svtc.org/svtc
http://www.wri.org/materials/index.html
http://www.naturlink.pt/canais/artigo.asp?iCanal=35&iSubCanal=66&iArtigo=15374&iLingua=1
http://www.amarsul.pt/listagem.aspx?sid=76e8fc08-2125-4986-b1df-9a8a3a24fa09&cntx=EZXOFWZpyeNggHax73GMfsxxoEh%2FREt5AabOm2y%2FJh33l86ar5IlhMuKWhex9eHA
http://www.portaldoscondominios.com.br/reciclagem2.asp

21 Setembro 2008
Alf.

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