08 setembro 2008


The last square


“…They had taken up position for this final action, some on the heights of Rossomme, others on the plain of Mont-Saint-Jean. There, abandoned, vanquished, terrible, those gloomy squares endured their death-throes in formidable fashion. Ulm, Wagram, Jena, Friedland, died with them
Victor Hugo, “The Last Square” (Les Miserables-Chapter XIV)
Fui à praça numa pressa
(numa pressa relativa)
e mesmo assim impositiva
dei de caras com um canil
e mais um disco vinil
achei tudo muito vago
e num instante me acabo
de estender numa latrina
mas que chatice Laurentina
Foi assim que comecei
mais um dia, aqui d’ el rei,
a mufla estava partida
e eu a deitar contas à vida
pediram-me cem mil reis
por um punhado de papeis
desencantei um anzol,
tropecei num Nissan Patrol
E descubro uma notícia
(escrita com alguma malícia)
O Papa perdeu-se e, cheio de medo
foi parar à rua do putedo
era a Vanessa, mais a Clarisse
e foi esta mesmo que disse
“oh filho que estás tão pálido
Vem comigo e tira o hábito”
E de repente, aconteceu
caiu nele e ficou ateu…

Lindo serviço, esta praça,
mas o que é que aqui se passa?
Está tudo numa grande calma
à espera do Jorge Palma
e eu, etcetera e tal
bic laranja, bic cristal
(duas escritas a vossa escolha)
quem anda à chuva é que se molha.
Na praça há um monte de gente
e que fique desde já assente:
no dia em que eu decretar
lá nos iremos encontrar
(poderia ser aqui e agora)
soltar da borda para fora
tomar o barco e partir
e ninguém se ficaria a rir

Lembro-me agora da Rita
penso que nem me despeço dela
salta do lado esquerdo uma cadela
parte a loiça toda em Espinho
e eu já tropeço no caminho…
Volto de novo para a praça
aquilo está uma desgraça!
É que os trabalhadores do comércio
não pagaram ao senhor Décio
armaram cá um chinfim
mas, não foi para isto que eu vim
E só de contar as desgraças
(e de fumar mais umas passas…)
cansa-me tanto, eu garanto
que quase que entro em pranto
não me apetece dormir, não sou capaz de partir
Pensando mais um bocado
ponho o meu fato de lado
uma gravata a rigor
vou mas é para o interior.

Nunca mais volto a esta praça
nem que esteja cheio de massa
é uma feira de vaidades
e mesmo com muitas vontades
não penso que vá mudar…
E, quando tudo isto acabar
já sei para onde me virar:
compro um terreno em cascais
(tenho uma poupança em meticais…)
ponho o resto a render em juros
e entro no mercado de futuros…


Bilene, 7 Setembro 2008

Alf.

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