30 dezembro 2008

O VERDADEIRO CAVACO

A comunicação de ontem (29 de Dezembro) ao País do Presidente da República marca mais um episódio de intriga palaciana entre órgãos de soberania, segundo os opinion makers habituais। No entanto, a questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores passa à margem da grande maioria das pessoas, porque irrelevante para a sua via e o seu futuro imediato; quem de facto se interessa pela matéria em apreço, mesmo falando da população (quantos serão mesmo?) do arquipélago? Não deve passar de uma boa meia-dúzia, se tanto… O que significa então toda esta história? Começo por dizer não estar minimamente interessado na polémica levantada, estou-me perfeitamente nas tintas para o dito Estatuto e para as regiões autónomas que só levam dinheiro dos contribuintes, particularmente a Madeira; mas essa é outra questão. O que fica é, em meu entender, a verdadeira face de Cavaco.

Primeiro: diz Cavaco que “… é muito importante que os portugueses compreendam o que está em causa neste processo”; e ainda: “…o que está em causa é o superior interesse do Estado português”. A bem dizer, uma questão de vida ou de morte, de perda de soberania, talvez uma Aljubarrota ao contrário, uma invasão de ETs; francamente, dá mesmo para rir, se a altura fosse mesmo de rir


Segundo: diz Cavaco que se trata “…de uma solução absurda, como foi sublinhado por eminentes juristas. Mas o absurdo não se fica por aqui. A situação agora criada não mais poderá ser corrigida pelos deputados”. O PR considera que uma lei aprovada por mais de 2 terços dos deputados é absurda, porque em seu entender “…o Estatuto … introduz um precedente muito grave: restringe, por lei ordinária, o exercício das competências políticas do Presidente da República previstas na Constituição”.

Terceiro: para Cavaco “… está também em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania। Será normal e correcto que um órgão de soberania imponha ao Presidente da República a forma como ele deve exercer os poderes que a Constituição lhe confere?” O que parece leal para Cavaco era seguir a opinião dele e pronto…


Nunca este homem se manifestou de forma tão clara contra as instituições da Republica como neste caso. Impotente para resolver um problema menor, cria (eu acho que é ele que cria…) uma putativa crise, que não passa dos corredores do poder, dado que a maioria da população nem sequer faz ideia do que se discute. Nem a crise, nem as dificuldades subjacentes para o povo, nem a crescente pauperização da classe média, merecem deste homem mais do que declarações de rotina. O dramatismo colocado neste dossier de discutível interesse, mostra a verdadeira face de Cavaco: a de líder autoritário, com desejo de poder absoluto.
Parece estar de volta o homem que foi 1º ministro de Novembro de 1985 a Outubro de 1995, que desbaratou milhões dos 2 primeiros Quadros Comunitários de Apoio (o 1º começaria em 1988, até 1993). Foram 10 anos de oportunidades perdidas: por dia entravam em Portugal 1 milhão de contos de fundos estruturais; para além de estradas, pontes e muitos “elefantes brancos”, o que se fez com esse dinheiro para o melhoramento do país real, por exemplo, na saúde, na educação, no investimento em formação profissional, na agricultura, no desenvolvimento industrial?

Pois é Cavaco, a gente não esquece isso, mais o “deixem-nos trabalhar”, as “forças de bloqueio” e outras que tais; podes ter a certeza que lutaremos com todas as nossas forças para que não tenhas um segundo mandato…

29 de Dezembro de 2008
Alf
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