21 setembro 2009



A Cena


Parte 1. Mas que cena é esta?



Uma serie de estórias, factos mais ou menos reais, outros assim-assim; alguns ainda de pura inspiração, dislates de consciência, desabafos mais ou menos incontidos, reflexões sérias, honestas e desonestas, puro divertimento e gozo, alguma ansiedade (natural?) no palco imenso de mais uma campanha. Os contornos enquadrativos de uma Cena, que se desenrola no tal palco, que devia representar o País, que de facto passa ainda ao largo de alguns milhões de cidadãos, por razões que a razão conhece, mas que alguns teimam em esquecer, para aliviar talvez a irresponsabilidade dos que usam a irritante frase feita “o interesse nacional está acima dos interesses particulares, o meu desejo é o de servir o meu país”. Bastava citar meia dúzia de casos conhecidos, para desmontar a asserção, tal é a completa e desmesurada promiscuidade entre a pequena política e os grandes interesses que, infelizmente, dominam a Cena.
A primeira parte da Cena é naturalmente dedicada aos que tiveram a responsabilidade de governar durante os 4 últimos anos. As outras partes tentarão visar os que continuam em cena de há muitos e muitos anos atrás, resguardados agora e sempre atrás de um poder oculto que transformam de facto a verdadeira Politica, que devia ser de todos e, não o sendo, distorcem a Democracia, transformando-a num mediático circo, iludindo os que votam para uma sociedade deliberdade, igualdade e fraternidade; e de mais algumas coisas… Razão para não votar? De todo, o apelo ao voto é quase um desespero de causa, ou se quiserem uma causa em si mesmo. Votar pois, apetece mesmo dizer como em tempos “o voto é uma arma” que, bem usada, pode alguma coisa transformar.
Votar por (ou para) causas, ideais, uma qualquer utopia. Ou muito simplesmente por nada de especial, como por exemplo, por protesto. O protesto, pode começar por ser feito de uma forma muito simples: não tivemos 4 anos um governo socialista, mas sim 4 anos de um governo do Partido Socialista. Apesar de, à primeira vista, poder parecer o mesmo, de facto não o é. O PS adoptou uma esquisita, mas conhecida estratégia, de praticar uma politica de direita, a que dá a designação de “reformista e de esquerda moderada”. Uma contradição, uma vez que aquilo na realidade não significa positivamente nada. Primeiro, porque o termo “reformista”nada diz em concreto, é uma abstracção, ou se quiserem uma afirmação de quem quer fazer “reformas”, sem se saber que tipo de reformas. Segundo, a “coisa” a que se chama “esquerda moderada”, também não é substantiva; ou é esquerda ou não é; será uma posição entre a esquerda e a direita(?); será uma posição entre a direita e a esquerda (?). Com toda esta ambiguidade, a realidade mostra um País com: um nível de pobreza assustador, em termos da União Europeia, um sistema bancário e financeiro protegidos em termos de carga fiscal, um número absolutamente intolerável de salários elevadíssimos em cargos de chefia em empresas (públicas e privadas), um critério de privatizações que deu no que sabemos, electricidade, combustíveis, serviços de telecomunicações mais caros, penalizando sempre os mesmos. A direita não faria melhor nem pior, faria exactamente o mesmo. Para “equilibrar”, a politica “reformista e de esquerda moderada”, mostrou alguma disponibilidade na consolidação do Serviço Nacional de Saúde, na promoção de muitos milhares de pessoas a quem foram reconhecidas qualificações (Novas oportunidades), enfim, um tímido combate à evasão e fraude fiscal e o chamado “simplex”.
Não chega, como fácilmente se constata pela frieza dos números que dia a dia vamos conhecendo. Mais de meio milhão de desempregados, uma politica económica que de facto, protege (velada ou directamente) os grandes grupos económicos e, acima de tudo, na continuidade do “centrão”: a rotatividade escandalosa de meia-dúzia (realmente muitos mais) de figuras PS e PSD à frente de empresas públicas. E, por falar em números aqui vai, sem comentários (não vale a pena…), uma notícia de 12 de Setembro da TSF: “o porta-voz da Comissão de Trabalhadores disse que, segundo o relatório do primeiro trimestre da PT, os administradores executivos receberam mais de seis milhões de euros
A Cena repete-se portanto. E é hora de a Cena mudar. Mas a mudança não é escolher dentro do centrão. Para surpresa de muitos iludidos, que dizem à boca cheia que a diferença entre esquerda e direita se vai esbatendo. Puro engano: esquerda é esquerda, direita é direita, assim mesmo. Precisamos de introduzir na politica uma radicalidade, que significa a já falada defesa de causas e princípios; aliás, assim o dizem muitas figuras conhecidas dentro do Partido Socialista.


Fim do primeiro acto.
20 Setembro 2009
Alf.


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