26 abril 2010

25 Abril – 36 anos


Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser hom
ens…”

Os Putos”, José Carlos Ary dos Santos





Hoje havia sol. Esse ao menos é para todos. Desci a Avenida, como tantas vezes, Lisboa está parada, mas há um brilho especial, o cheiro e a cor dos cravos. Nem tudo porém é vermelho, nem o povo é já quem mais ordena, a ordenança é agora de quem nos oprime. Hoje, dizia-me um amigo catalão, que perpassa pela Europa um “fascismo brando”, difícil de combater, porque de tão obscuro que é, vivendo disfarçado sob a capa do liberalismo económico, não consegue contudo esconder a verdadeira face de ditadura do capital. Esse mesmo que oferece prémios escandalosos aos gestores públicos, descobrindo esta coisa espantosa: o tal “mérito” só a eles pertence, nunca aos trabalhadores. A esses são pedidos (qual pedidos? exigidos!) os sacrifícios do costume. Que servem para lhes aumentar os proveitos. Os Estados permitem, os Governos capitulam, vergam-se diante deles, devem-lhes porventura a tal fidelidade canina, própria de verdadeiros acéfalos. Não podemos calar, nem capitular, a indiferença não é solução. As ditas reformas no nosso País, da autoria de um Governo que devia ter vergonha de se auto proclamar “Governo Socialista”, não passam de uma capitulação grosseira ao capital, uma triste sombra do vazio de ideias que essas senhoras e senhores, a começar pelo Chefe, não conseguem esconder. Por mais que cantemos a madrugada de 25 de Abril de 74, não conseguimos esconder a revolta. O Poder é hoje em Portugal, como por essa Europa fora, o espelho do falhanço e só nos merece desprezo. Ouvir o socrático discurso, balofo, acobardado e arrogante, é o mesmo que ouvir Marcelo Caetano, quando descobriu no Inverno fascista, uma Primavera em que o Sol era só para ele.

Hoje fez Sol em Lisboa, Portugal. Descemos a Avenida, como tantas vezes. Uma réstia de esperança será porventura ver tantas e tantos jovens com metade da idade do 25 de Abril. São elas e eles que vi, ouvi e fotografei, a verdadeira face da esperança.

Revermo-nos nelas e neles é um conforto para a alma. Alma que se quer de luta, porque ela sempre continua. É esta não pode de todo ser mais uma frase feita, tem que ser uma arma mortífera para os senhores do dinheiro, que nenhum respeito nos merecem. Elas e eles que dia a dia nos fazem lembrar um Abril distante, mas sempre presente na memória dos dias. Com ou sem Sol.

25 DE ABRL SEMPRE!

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