16 abril 2010


Come fly with me let's fly, let's fly away
If you can use some exotic booze there's a bar in far Bombay
Come fly with me let's fly, let's fly awa
….
Weather-wise it's such a lovely day
Just say the words and we'll beat those birds down to Acapulco bay
It's perfect for a flying honeymoon they say
So come fly with me let's fly, let's fly away
.”

Francis Albert Sinatra





A nuvem de cinza avassaladora que, por estes dias, ameaça os espaços não será porventura capaz de calar a Voz, neste que acabo de saber ser o seu Dia Mundial. Pode talvez produzir alguns sons mais roucos, mas mesmo assim de alguma incontida raiva.
A Voz não poderá para já convidar “…come fly with m, let's fly, let's fly away”, por causa da nuvem. Mas, logo que ela passe, poderei ir de viagem. Nada como ir de viagem, para ouvir as Vozes daqueles que estão distantes (em todos os sentidos). A Voz transporta-nos aos outros mundos, comunicamos com ela. Treinamos a Voz, para nos fazermos ouvir, usamos a Voz para transmitir a ternura, para clamar contra a indiferença, para chamar nomes mais ou menos ajustados, para premiar com um Viva, para gritar bem alto o golo que marcamos ou que outros marcam, para gemermos por vezes de dor (aquela Voz que nos parte o coração). Dominamos a Voz tantas vezes, de comoção. Calamos em tempos a Voz, porque nem falar nos era permitido, nunca esqueceremos o tempo das trevas, desse fascismo patético que nos dominou, melhor, que nos queria dominar. Mas também não esquecemos que outras e outros vivem sem poder usar a sua Voz e aquelas e aqueles que não são Voz para coisa nenhuma, porque não lhes é reconhecida cidadania. E ainda outras e outros tantos que, por deficiência, não podem usar a Voz.
Tantas vezes invocamos a Voz: “vozes de burro não chegam ao céu…”, “a voz do povo é a voz de deus”, “só os poetas, são dos verdadeiros deuses a voz”, em frases feitas ou desfeitas…, como melhor nos aprouver. Por vezes usamos a Voz para ferir alguém, a pior das utilizações possível, sobretudo se o outro o não merecer.

A Voz de um Abril distante, mas sempre presente: “... daqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas”, lembras-te? As Vozes desse Abril, símbolos de alegria e liberdade e suportes de um conceito de vida, o Zeca, o Fausto, o Sérgio, o Zé Mário, o Fanhais, o Freire, tantas e tantos que poderia evocar, as vozes da chamada “traz outro amigo também”. E eles vinham na altura, agora já nem tanto…

Alguém me disse hoje algo que não esquecerei: “A voz soa mais alto quanto mais ganha…”. Triste sinal dos tempos, verdade incontestável. Talvez o que fique neste Dia Mundial, como marca malévola e perversa…

16 Abril 2009
Alf.

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