01 maio 2010

1º MAIO VERMELHO!



“…Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar
. …”

“Fala do Homem Nascido “- excerto, António Gedeão



Em Maio dia 1, do ano sem graça 2010. Um ano de imensa poeira lançada aos olhos da grande maioria da população. Um Maio que hoje começa, um dia muito especial para aquelas(es) que trabalham e fazem a riqueza do País. Riqueza que não possuem de facto, pois que vai direitinha para os bolsos já cheios dos que detêm o poder económico e o usam para serem sempre mais ricos. Na véspera deste dia de LUTA, sabemos que o Governo quer antecipar as medidas do PEC, que dizem respeito a "...uma intervenção forte no controlo da despesa: contenção de despesas com pessoal e reforço do controlo das admissões na Função Pública; controlo das despesas sociais e selectividade nas despesas com capital…”, (a) palavras de José Sócrates, hoje na Assembleia da República. Mas há mais, a reinvenção do famigerado “bloco central”: “É por isso que considero da maior importância o diálogo que mantive há dias com o líder do maior partido da oposição [Pedro Passos Coelho] - e que abre uma nova fase de diálogo construtivo no país", (a) . Mas, pasme-se, Sócrates não sabe o impacto do corte no subsídio de desemprego: "Não temos nenhum estudo que nos permita dizer qual a consequência orçamental da redução do subsídio de desemprego" (b) . Malhar nos trabalhadores, os verdadeiros responsáveis pela “crise”, aliás uns malandros que não têm direito ao reconhecimento de mérito, ou simplesmente que não querem trabalhar e preferem estar desempregados e receber o respectivo subsídio. Há que acabar com esta situação de privilégio e vá de cortar pela base. É assim que o País vai para a frente, bem feito portanto. A ironia contudo espelha a realidade de um Governo que, à semelhança de tantos outros por essa Europa, em que “… os poderes públicos se recusam a acabar com a especulação de direito”, reflectindo “… ausência de uma estratégia global” e em que “…o preço da factura enviada pelos bancos para sua própria incompetência, é pago afinal pelos trabalhadores”. (c)
Para quem ainda tivesse duvidas, a resposta aí está: a capitulação vergonhosa perante a especulação, o roubo descarado, a intolerável intromissão das ditas “agências de rating”, que mais não são que organizações mafiosas de destabilização do mercado, a livre concorrência ao saber dos interesses dos senhores do dinheiro, o liberalismo levado ao extremo da arrogância, aos quais os Governos prestam vassalagem e capitulam finalmente, prestando “assistência”, salvando os bancos, socializando prejuízos e
garantindo lucros.

O cenário deste 1º de Maio, não podia ser mais catastrófico. Eles merecem uma resposta, essencialmente porque não podem, nem querem, dar respostas. Provavelmente, na rua, na liberdade de correr com eles, de lhes atirar um sapato, no mínimo. Ou de lhes atirar à cara com a pobreza e com a miséria que paira por aí. “Porque os outros se compram e se vendem / E os seus gestos dão sempre dividendos(d) , Sophia, que bem retratavas outros tempos, que bem ficam agora, hoje, as tuas palavras, “Porque os outros vão à sombra dos abrigos / E tu vais de mãos dadas com os perigos(d) . E a tremenda recorrência que a todos nos dá força, “Porque os outros se calam mas tu não(d) , convocando-nos para uma LUTA, que é a de Maio, de um Abril maduro com 36 anos, feitos a 25. Não tendo mais palavras para pintar o negro quadro em que nos plantaram, evoco as que, de sempre actuais, até arrepiam: “Qu'importa a fúria do mar / Que a voz não te esmoreça / Vamos lutar / Venham ver, Maio nasceu / Que a voz não te esmoreça / A turba rompeu(e)

(a) in: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1557456é
(b) in: http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=23248F55-4203-43AF-934D 71CC128EB97A&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021
(c) Pierre Rimbert, (Le Monde Diplomatique, 30/Abril/2010)
(d) “No Tempo Dividido e Mar Novo”, Edições Salamandra, 1985, p. 79
(e) “Maio, Maduro Maio”, álbum “Cantigas do Maio”, Zeca Afonso, 1971.

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