14 novembro 2010


A ignóbil ameaça
Parte 4: o Bando dos 4


Onde não de fala (como poderia parecer…) da ala radical do regime na Revolução Cultural Chinesa, mas sim do apoio mais que necessário à banca “nacional”




Um bando. Não propriamente de pardais à solta, que esses são ainda os putos da nossa melhor memória. Estes são peixe graúdo. Dão pelos seus nomes, sobejamente conhecidos: Ricardo Salgado, Faria de Oliveira, Santos Ferreira Fernando Ulrich, patrões do BES, CGD, BCP e BPI. Chamemos-lhe o Bando dos 4, designação que de inventada já que não por mim, adopto sem a licença devida, sabendo que a usurpação não constituirá decerto notícia, a tal não aspiro. Este Bando nunca será objecto de qualquer investigação, não há necessidade, são decerto cidadãos acima de qualquer suspeita, a sua credibilidade é infinita, as suas influências e opiniões são apenas para consolidar o interesse nacional, os superiores interesses do País. Um País que nunca seria capaz de sobreviver sem a sua prestação, o seu empenhado esforço em salvar os portugueses, todos os portugueses claro, da terrível ameaça de uma crise, para a qual eles nada contribuíram, antes pelo contrário, que sempre avisaram do que era preciso: mais flexibilidade laboral, menos Estado Social, menos salários, menos despesa pública; sempre avisaram que vivíamos desde há muito acima das nossas possibilidades, menos eles está visto, dado que auferem, todos eles, salários baixíssimos, apesar de serem muito competentes, eficientes, eficazes e providenciais. Longe do pensamento deles exercer pressão alguma sobre os governos e demais acólitos. Absolutamente impolutos, movidos pelos superiores desígnios de justiça social, pretendendo apenas salvar o País da crise

E foi, precisamente nesse sentido, que o Bando atacou, ou seja actuou na altura certa, no momento oportuno, na cena política, junto dos 2 partidos do poder. Nada tendo a ver com a especulação contínua dos mercados financeiros, longe da lamacenta e pantanosa área que nos ameaça, eles foram absolutamente firmes (e provavelmente hirtos…), "Há que ter confiança no futuro", disse Ricardo Salgado. Também Ulrich adiantou, para que todos fiquemos descansados, "A situação do País é séria, mas estamos todos a trabalhar". Supremos homens estes, que pensam e “trabalham” por todos nós, os malandros que por aí pululam, a viver do rendimento mínimo sem quererem aceitar os empregos que lhes oferecem, não sabem o que é vida de um banqueiro, sempre com o fio da navalha sobre as suas cabeças penteadas ou simplesmente rapadas (…), os neurónios em actividade permanente para engendrar as melhores soluções para o País. Uma putativa hipótese de temer dificuldades no crédito, caso o OE não passasse, foi logo afastada por Ricardo Salgado, Apenas especulações, disse ele, com toda a razão. Afinal, os especuladores são sempre os outros, a saber, aqueles que se atrevem a desconfiar da isenta e descomprometida posição de quem mais não faz que seja o Bem. Que deve dizer-se a propósito, se consubstancia em oferecer crédito barato a pessoas e empresas, enviando (por exemplo) simpáticas cartas, eu que o testemunhe, tenho recebido muitas, convidando ao endividamento, perdão, ao acesso a créditos na casa dos 27 a 31%, sempre abaixo dos 32% permitidos pelo Banco de Portugal. Enfim, pessoas de bem, que injectam no BPN 4,6 mil milhões de euros, prestando assim um assinalável benefício a Portugal e a um dos bancos mais sólidos no mercado. Não pensem, não questionem sequer, lembrem-se que dilectas figuras nacionais, como por exemplo Cavaco Silva, o nosso Presidente, têm lá as suas fracas posses, que seria de um Presidente na penúria, deus sabe o que poderia acontecer ao País.

Nos primeiros nove meses do ano, os quatro maiores bancos privados a operar no mercado nacional alcançaram um lucro conjunto de 1,12 mil milhões de euros. O montante representa uma subida de 5%, face aos 1,07 mil milhões de euros arrecadados em igual período do ano passado, o que, na prática, significa que os cofres do BCP, do SANTANDER Totta, do BPI e do BES encaixaram 5,7 milhões por dia”, podia ler-se no Diário Económico de 3 de Novembro. E depois? Não são estes bancos (pelo menos) a sustentar o desenvolvimento económico do País, a apostar no incremento do sector produtivo? Não há exemplos mais que evidentes disso mesmo? Não? Está bem, não há de facto, mas podia haver se porventura estivéssemos mais atentos. Problema nosso, não acreditamos, não temos confiança e por isso estamos como estamos. Depois deste esforço de banqueiros, governantes, partido da oposição, que um só há, o resto é conversa, todos de acordo em aplicar o devido correctivo a quem andou por aí a gastar o que não devia, todos e todas nos centros comerciais, nos supermercados, a passear de borla nas SCUT, a comprar medicamentos comparticipados, a fazer asneiras todos os dias gozando os senhores que mandam em nós, sem respeito nenhum, enfim á espera de um FMI para meter tudo na ordem.

O País muito deve a este Bando. Longa vida a homens (são todos homens…) como estes. É deles o futuro da Nação. Não duvidem. Dou-vos um exemplo que baste: um destes homens, precisamente o Ricardo Salgado, encabeça a lista dos donos dos bancos que vão “colocar a dívida”, “ajudando Portugal a acompanhar a evolução dos mercados financeiros” (Diário Económico, 11 Novembro 2010, pág. 6).

Vergados pela força da razão e sabendo que a razão tem força, não temos mais que prestar-lhes a homenagem devida. Ninguém se lembrou disto, no passado 6 de Novembro, na Manifestação Nacional das 2 Centrais Sindicais. Uma injustiça!

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