22 novembro 2010

NÃO AO TOTALITARISMO ORGANIZADO (NATO)


Pactos e alianças são um bom remédio
Para entreter marechais e lhes combater o tédio
…”

Máquina Zero”, Rui Veloso, in “Guardador de Margens”, 1983








A ocidente nada de novo. As mesmas ideias, os mesmos conceitos, os mesmos intervenientes, a mesma presunção de sempre: o domínio do Mundo, uma estratégia conhecida, a organização totalitária da violência belicista. Ainda que mascarada, pela “nova” linguagem da direita, uma “Aliança de Democracias”. Passearam-se em Lisboa, a alta velocidade, teóricos, militares de carreira e de caserna, consultores de segurança e claro, políticos empenhados na “causa”. A bem da “estabilidade”, do "diálogo constante", da “concertação”, cortaram a 2ª Circular, o Eixo Norte-Sul, ocuparam com pompa e circunstância uma cidade, um simbolismo que mais parece um paradoxo. Houve quem dissesse que tinham “…transformado o Parque das Nações no mais belo bunker do Ocidente”(1) . Isolados das pessoas comuns, eles são mesmo assim, ao fim e ao cabo são essas pessoas comuns que lhes pagam a factura da “segurança”, eles têm que ter segurança, a sua defesa pessoal não pode ser ameaçada. Esse, parecendo que não, é um cerne da questão: somos nós que pagamos sempre a segurança deles, neste e noutros cenários.


Tolerância de ponto, outrora um sacrilégio à produtividade, que dizem baixa. Eles, claro. É preciso afastar as pessoas da rua, a contestação deve ser abafada, assim determina o poder supremo. Lisboa é, apesar de tudo, uma cidade calma, apenas algumas e alguns deitados na via pública, nada de especial. Sim? Não, o perigo espreita a qualquer esquina e, por isso, há que encomendar 5 novos blindados para a polícia poder reprimir à vontade. Não chegam a tempo, vem a saber-se agora, depois da cimeira. Nada que constitua problema para o ministro das polícias. Tal como os submarinos, decerto haverá cenários de guerra no País profundo para intervir, aliás até mais simples, dado que andam em terra firme: Cova Moura, Bela Vista, Musgueira, Lóios, bem precisam de repressão, com blindados ainda melhor. Alguém sustentou: e se a cimeira fosse numa ilha? Ou num porta-aviões. Ou, porque não, na Casa Branca, não é de lá que emana todo o poder?


Os cães de fila do costume perfilham-se em declarações sobre hipotéticas opções, sempre orientado para essa coisa dos “valores ocidentais”. O caso do Luis Amado será porventura o mais significativo, até pelo tempo de antena que lhe vêm concedendo, desde que se prestou à defesa do bloco central. Esse mesmo que ocultou os voos da CIA, que pretende que a Constituição consagre um limite ao défice, que enfim, considera “… a partilha de valores civilizacionais comuns entre os EUA e a Europa continua a ser um princípio fundamental de organização do mundo ocidental na relação com o resto do mundo(2) ; e ainda que Portugal deve ser “…um aliado leal e firme da Aliança(2). Não poderia haver melhor exemplo de cão de fila: acrítico, seguidista e lambe-botas.


A Europa nunca foi, nem nunca provavelmente será, unida. E é por essa razão que os EUA têm conseguido manter uma política de expansionismo declarado. A maior vergonha da última década, foi o aplauso á invasão do Iraque, realizada e produzida por G.W. Bush, contracenada por Aznar, Blair e Durão Barroso e apadrinhada por esta Aliança, que agora se diz de defesa da segurança dos cidadãos. Nunca existiu qualquer tratado do atlântico norte, para essa finalidade. O que existiu foi uma santa aliança contra a União Soviética, um pacto político contra o comunismo. Como tal já não fará sentido na actualidade, há que reinventar um inimigo qualquer. Dos EUA, claro. E que a dita União Europeia, que não existe, vá atrás. Para isso, deverá bastar a NATO. Já está formalizada, implementada, cimentada nas consciências, não será necessário grande esforço para se afirmar. “Quem ataca um, ataca os outros(2), assim o diz Obama; mas esta era a teoria de Bush, não era? E diz mais, “a NATO é a aliança mais bem sucedida da história humana” (2). A esta hora, aquelas e aqueles que acreditaram no “Yes, we can”, estarão porventura a pensar melhor… Para ajudar, acrescento mais ainda, segundo Obama: “… ao avançarmos com a colaboração sobre o sistema de defesa anti-míssil, podemos transformar aquilo que foi fonte de tensão no passado numa fonte de cooperação contra a ameaça comum(2) e finalmente “o nosso trabalho conjunto promove os nossos interesses e protege as liberdades que acarinhamos enquanto democracias”. G.W. Bush diria exactamente o mesmo, se é que não o disse, na altura, da mesma forma.


A NATO conta nas suas fileiras com quase 1 milhão e 400 mil efectivos dos EUA, cerca de 40% do total de efectivos de 28 países. Há 6 países que contam 70% do total: EUA, Turquia, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. Uma espécie de donos da guerra. Apesar das evidências de quem manda de facto na NATO, do que é a dita Aliança há algumas posições, no mínimo interessantes, sobre a matéria. Os casos de Nuno Severiano Teixeira (NST) e de Ana Gomes (AG). Ambos partem de uma premissa falsa: a de que está cometida à NATO a gestão de crises e a da manutenção da paz, a nível europeu. AG diz mesmo que “o principal desafio que (a NATO) enfrenta é liderar pelo exemplo para defender os Aliados e contribuir para a segurança global(2). Nada mais enganador, basta ver os “exemplos” das desastradas intervenções nos Balcãs e no Afeganistão. NST interroga-se “E nós, o que queremos da NATO?(2), para depois encontrar uma resposta evasiva: “todos estes pontos do novo conceito são do interesse nacional e Portugal deve aproveitar esta oportunidade para valorizar a sua posição na Aliança(2). Isto quer dizer exactamente o quê? Absolutamente nada, ou então exactamente tudo: seguidismo cego, surdo e mudo.


No meio da confusão, registe-se que 30 mil pessoas se manifestaram contra a NATO em Lisboa. 400 polícias armados e mais de cem carros para “manter a ordem”. Domingo, 20 Novembro, céu muito nublado. Pois!
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(1) Fonte: Fernando Alves, TSF, “A semana passada”, 19 Novembro
(2) Fonte: Jornal Público, 20 Novembro


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