04 junho 2011

O SILÊNCIO DA REVOLTA





Hello darkness, my old friend
I've come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence
…”


Sounds of Silence”, Paul Simon, “”Wednesday Morning, 1964




Quase nas vésperas de um grande acontecimento que marcará Lisboa como Capital da Palavra (a), elege-se o Silêncio como forma sublime de expressão. Que viva pois o silêncio, como atitude de inteligência, que não de passividade, forma de protesto, que não da indiferença malévola para que são atirados centenas, milhares ou milhões de portugueses que têm direitos.



Ao evocar mestres da palavra, como Cesariny, Luiz Pacheco, O´Neil ou Jorge Sena, poderíamos talvez convocar a cidadania, não como conceito académico, tantas vezes usado com despudor, mas possivelmente sob o formato de workshop permanente de monitorização do embuste generalizado que graça pela clique dirigente de há 36 anos a esta parte. Seria quiçá uma jogada de contra-ataque, mesmo num campo potencialmente adverso.

Aprendemos ainda que o Silêncio é a alma de um Poeta. E, naquele lirismo que guardamos bem dentro de nós, imaginamos talvez que poderíamos arremessar silêncios aos pobres intérpretes da inevitabilidade, que juntos, coligados, isolados ou copulados, invadiram as cidades, vilas e aldeias do País ocultado e subjugado, que eles mesmo há muito que hipotecaram. E que nos cantam, ou a canção do bandido ou a da charlatão, uns e outros emitindo ruído de mais para ouvidos sensíveis de quem tem ainda alguma alma. E, com a divisa, Não há neutralidade no Silêncio, poderíamos quem sabe neutralizar-lhes o que lhes é mais caro: a atenção que julgam que merecem.

Hoje haverá silêncio. O silêncio da Regra, o institucional. Amanhã haverá porém o outro, que ora convocámos, e que poderá durar semanas, meses, o tempo que for preciso, para os profetas e intérpretes da desgraça a que levaram o País, aprendam de uma vez para sempre, que nem tudo se resume no voto e que há ainda quem não se resigne e que lhes pode ensinar uma outra palavra, que pode bem ser a do som que faz o silêncio…
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(a ) A propósito do Festival do Silêncio, Lisboa Capital da Palavra, Festival do Silêncio, 15 a 25 Junho (http://www.festivalsilencio.com)


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