10 janeiro 2012

"Eu revolto-me, logo existo"
Albert Camus




O início deste novo ano nada de novo traz, no plano político. A nível interno, as trapalhadas do costume, as habituais mensagens de ano novo, completamente vazias de conteúdo e do resto, mais as outras que, apesar de terem alguma substância, apenas significam mais do mesmo, austeridade, sacrifício e inevitabilidade. A nível externo, a politica de dominação e exploração da riqueza, continua, agora descaradamente, com a ditadura alemã a sobrepor-se a todo e qualquer processo de equilíbrio europeu, ao menos conjuntural.
As escolhas do governo português, espelham a mais ignóbil ideologia ultraliberal, que como se sabe, conduz apenas ao desastre económico dos países e das populações e ao enriquecimento de um pequeno grupo de agiotas, que se alimenta do sistema e que, nunca pode perder um cêntimo que seja, na chamada crise dos mercados. A venda da EDP, por exemplo, significa a cedência do sector da energia, estratégico em qualquer país, ao capital estrangeiro. Mas esta é apenas uma das muitas que se irão seguir: vender tudo, se possível a preço de saldo, que é a época deles. Deve dizer-se a propósito que, aquele senhor que ora ocupa o cargo de Presidente da República, e que agora se preocupa com os pobrezinhos e os reformados, foi o primeiro responsável pelas privatizações e pela sucessiva hipoteca do País. Mesmo que possa parecer à primeira vista que estão em desacordo, um e outro, Presidente e Governo, seguem exactamente a mesma linha ideológica, os mesmos princípios da economia da desgraça, que o primeiro quer mascarar com as ditas preocupações sociais, de cariz meramente assistencialista, enganador porém, pelos vistos, para a maioria da população. Exactamente o mesmo que o partido Socialista fez, durante o tempo em que esteve no poder. E, perante o episódio consumado que foi a de o grupo Jerónimo Martins transferir a sede social das suas empresas para a Holanda, os comentadores que diziam aqui del rei que se impomos novas condições aos empresários, eles vão embora daqui, estão agora preocupados em justificar a atitude do grupo…

Ficamos a saber, neste início do ano, que a fortuna acumulada de Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, supera o rendimento anual de cerca de três milhões de portugueses. E que o preço das novas taxas de saúde, ditas moderadoras, duplicou, no mínimo, com custos que atingem, por exemplo 20 a 50 euros nas urgências hospitalares, mais um negócio chorudo para meia dúzia de especuladores e, provavelmente um impedimento na prestação de cuidados médicos para uma grande fatia da população. E também que, na distribuição de energia, iremos ter aumentos no consumo domésticos de mais de 25%. E nos transportes, portagens e telecomunicações, bem como no sector alimentar, mais aumentos, absolutamente indiscriminados, com aqueles arredondamentos do costume, sempre em prejuízo de quem paga, de quem tem necessidade dos serviços respectivos, ou dos bens em questão.

Sabemos ainda oficialmente, sempre o soubemos afinal, que é impossível baixar o famoso défice para a meta acordada. E que vai haver necessidade, sempre se disse, de renegociar a divida. Porque este governo e estas políticas só o conseguem fazer, roubando dinheiro e direitos a quem trabalha, nomeadamente aos funcionários do Estado. É muito fácil cumprir metas, desta forma. E, mesmo assim, parece que não as cumprem…
A comunicação social, paga pelos grandes interesses, vai cumprindo o seu papel de preparar as pessoas, para a inevitabilidade. É espantoso notar, dia após dia, nas notícias e nos comentários, cuidadosamente elaborados pelos mesmos comentadores de sempre, a preocupação em passar, nos últimos dias, a mensagem Será que vão ser necessárias mais medidas de austeridade agora em 2012? A TSF é disso um triste exemplo, com os fóruns que diariamente organiza, e onde inclui, no início de cada debate, um comentário económico-político de um dos inevitáveis amigos especialistas do Diário Económico, Dinheiro Vivo, etc… O objectivo é claramente manter a maioria da população num estado contínuo de ansiedade e numa situação de insegurança e angústia e que acaba por justificar a adopção de toda e qualquer medida, sem se questionar se existe alternativa. Ao fim e ao cabo, quem defende alternativas, não é propositadamente consultado, nem ouvido, não tendo assim qualquer direito a existir.

Esta é a versão actual de Democracia. O nosso País, como outros na Europa, está progressivamente a ser anexado, os sucessivos governos não são mais que agências de interesses, puxados por cordelinhos, cumprindo as decisões alemãs e francesas, de uma forma perfeitamente acrítica e escandalosamente submissa.

Resta apenas RESISTIR. A partir do ponto a que isto chegou, todas as formas de resistência são válidas.



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