01 fevereiro 2012








Uma mão lava a outra,
o champô só lava cabeças. Duras, claro!
Do Livro dos Conselhos Inúteis




Com polvo e algum champô à mistura se vai fazendo justiça em Portugal. Uma verdadeira justiça de classe, não uma justiça com classe. Um octópode que se preza tem oito tentáculos ao redor da boca e não lava a cabeça. Um champô digno desse nome, tem marca, logotipo e vende-se numa loja da Baixa, pelo módico preço de 25 euros. Imagino um isaltino enredado nas pernas sebosas do polvo, fumando charuto e sorrindo de soslaio para o magistrado. Interpus recuso, diz o polvo, aliás uma providência cautelar para não ser cozinhado. Na peça, o champô transita do jaguar do autarca, para a bicleta do sem-abrigo. Roubada, claro. E, subtraindo o preço do quilograma do molusco, ao do mililitro do champô, obtemos o delicioso resultado, 100 dias de precária, mais as coimas e o lanche do defensor oficioso. E, somando a lata do polvo, já em conserva claro, à parvoíce declarada do funcinário de justiça, obtemos uma variável muito comum em Portugal: a puta que os pariu! A diferença entre o roubo do lavado molusco e o subtil desvio do isaltino é apenas uma questão de retórica. A vida continua entretanto, a luva branca e a cartola valem o que sabemos, o sem-abrigo é abaixo de cão e só mesmo o medo que se vai instalando, impede que alguém bem-intencionado um dia acorde mal disposto e faça uma asneira daquelas.

Para que serve abrir um ano judicial?

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