29 março 2012

Os novos fascistas…

A funcção do partido conservador é a manutenção da ordem contra todas as invasões que directa ou indirectamente ameacem a integridade da organisação existente. Em todas as velhas sociedades os governos são por essa rasão, os inimigos natos do progresso. A evolução progressiva da humanidade realisa-se, a despeito d'elles, pela elaboração irresistivel das idéas fora da esphera official, sob a acção das descobertas da sciencia ou das suggestões da arte. O mais que fazem os governos é submetterem-se ás transformações sociaes que a solução de cada novo problema resolvido pela sciencia impõe á existencia dos povos. Os governos, portanto, sempre que uma forte effervescencia intellectual não agita a sociedade e os não abala constantemente na eminencia do seu posto forçando-os a concessões successivas, tendem ao retrocesso".
Ramalho Ortigão / Eça Queiroz, “As Farpas, Tomo VIII, Jan a Fev 1877

A propósito da abertura do debate parlamentar sobre as alterações ao Código do Trabalho promovidas pelo Governo, o ministro Álvaro disse “Esta é uma proposta que salvaguarda os direitos dos trabalhadores e o seu direito ao trabalho”. Desmistificar esta linguagem, este conceito, torna-se agora, mais que nunca, uma necessidade. O ministro Álvaro, já o sustentei antes, é um dos muitos membros do governo que utiliza uma linguagem protofascista, com uma carga ideológica assustadoramente conservadora. Para além de errada, do pondo de vista prático. Alguém lhe disse (1), relativamente ao despedimento por inadaptação, que a serem adoptadas hoje, o primeiro a ser despedido seria o próprio Álvaro. Ontem, no debate promovido pela inefável estação TSF, o Secretário de Estado do Emprego, ignorou por completo as estatísticas europeias, que colocam o nosso país na cauda da Europa, nos índices que reportam a baixos salários, à desigualdade e à distribuição da riqueza. E, lá bem no topo, nomeadamente, no valor do IVA e nos preços dos combustíveis. Estes agentes que nos governam são a expressão mais vil da baixeza intelectual e da mediocridade mais atávica. Falam do que não sabem, defendem posições insustentáveis, como por exemplo de que a produtividade tem a ver com o aumento das horas de trabalho, ou com a diminuição dos dias feriados. Curiosamente, dados publicados pelo Eurostat, no final do ano 2011, indicam que os gregos são quem trabalha mais horas na UE e os portugueses estão em 4º lugar, logo a seguir a Áustria, Grécia e Reino Unido. Por outro lado, segundo estudo da OCDE, também de 2011, Portugal é o país europeu onde se trabalha mais horas, com e sem vencimento, por dia. Em média, os portugueses trabalham no total cerca de 8 horas e 47 minutos todos os dias, ocupando o terceiro lugar no ‘ranking' dos países da OCDE. Os portugueses são ainda, os que mais horas diárias trabalham sem vencimento, com cerca de 3 horas e 53 minutos, volume de trabalho que representa 53% do PIB nacional e que nos classifica em quarto lugar da tabela da OCDE.
Há quem diga que estes agentes, prefiro chamar-lhes assim, acreditam mesmo nestas patranhas. E mais, que acreditam mesmo que estas “soluções” servem mesmo para “levantar” o País. Prefiro de longe a realidade e o que ela mostra. Primeiro, estes agentes defendem os seus interesses e os dos parceiros da banca e dos poderosos, como se pode constatar pela troca sucessiva de cargos públicos que a clique dirigente, que agrupa a grande família PS+PSD+CDS vai ocupando, garantindo o pleno de um aparelho de estado que lhes pertence e que judiciosamente vão partilhando. Segundo, porque a frieza dos números publicados dia a dia, mostra a falência completa dos seus desígnios, como sejam por exemplo, os dados publicados hoje, pelo Banco de Portugal, que fez uma revisão em baixa das suas previsões para a economia portuguesa em 2012 e 2013 e que afirma que a economia portuguesa vai encolher 3,4% em 2012 e estagnar no próximo. Para além das previsões, mais uma vez a realidade: em Janeiro deste ano, verificou-se um aumento de 175% (!) da despesa com juros na execução orçamental.
Passos Coelho e seus amigos fascistóides querem fazer de Portugal um país de trabalho escravo, esta a realidade. Estão a lançar diariamente o País na recessão, provocada obviamente pelas famigeradas políticas de austeridade. Alguém terá que os travar, seja de que maneira for…
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Mariana Aiveca, deputada do Bloco de Esquerda

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