06 abril 2012


CONQUISTADOR

Da notícia épica feita para europeu ver, reza a crónica de uma cidade vendida por 900 mil dólares, a um vietnamita. Pelo que vejo, uma pequena cidade, a mais pequena cidade norte-americana, de seu nome Buford, vendida na passada 5ª feira, em leilão. Quem vende assim uma cidade, mesmo uma cidade pequena, sem estar a espera de um troco, mesmo que somente para compensar algum dinheiro investido, em infra-estruturas, edifícios, rotundas…? A circunstância tremendamente evidente de o Conquistador ser um vietnamita, mais curiosa faz a estória, ilustrando quiçá uma pequena, mas saborosa vingança. Quem sabe, para ser servida fria a qualquer americano mais patriota. O sabor da conquista é tanto mais enleante, quanto o sabor a vitória conquistada. Todos os que, como nós, navegamos para lugares desconhecidos, partem com um desejo secreto de um dia poder reclamar algo de seu na tal conquista. Mesmo que seja num leilão, onde o objecto exposto está sujeito a todos os olhares, cobiçado por mil desejos, sendo que a maior parte deles nunca se poderão realizar, por nítida falta de fundos. Seja então o Conquistador, aquele que logra a esperança de algo encontrar, mesmo disfarçado, And in your death-masked face / There are no signs which can be seen (1) . Que faça seu o triunfo, mesmo que efémero, de uma conquista de duvidoso sabor, que seja o seu, tudo bem, que não envolva mais que isso, mas ao qual devemos prestar a devida homenagem, como vem na canção. Num tempo em que há quem nada saiba, nem possa nunca conquistar, porque simplesmente não possui, nem a classe, nem o saber, nem muito menos a virtude, para poder a tal aspirar. Porque lhe faltará audácia, perspicácia e tudo o mais que o conquistador tem que ter, para de facto Conquistar…

-----

(1)   Extracto de “Conquistador”, Gary Brooker and Keith Reid, Procol Harum, 1967

This page is powered by Blogger. Isn't yours?