08 julho 2012




“… O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão
…”
Tabacaria, Álvaro de Campos, 1928

















O tempo envelhece depressa, (a) lembro o Mestre Tabucchi, que saudade, poderia ser agora uma voz, de muitas, a denunciar o estado de coisas a que isto chegou, ele sempre atento às confrontações do Tempo e dos tempos. A propósito de tudo o que se passa, num ritmo perfeitamente alucinante, o Tribunal decreta a inconstitucionalidade de um roubo, há quem interprete que roubar é legal, se for para todos. Ou seja, para todos que trabalham, porque há sempre os que se colocam fora da lei, sem que a lei os coloque de fora, nem poderia ser, porque a lei é universal. A lógica, sabemos bem, não é contudo esta, de tão simples que possa parecer. Perde-se então o respeito por essas personagens, elas também não o têm por nós, nada merecem, senão o nosso desprezo. Por não os querer nomear, lembro por exemplo o que disse Jerónimo sobre o tal da licenciatura tirada à pressa, os doutores da mula russa, mais uma aberração ignóbil. Parece agora que vão sendo vaiados e insultados em cerimónias públicas, vê bem António, muitos dos que ora os invectivam, são os votaram neles, pode ser que acordem de vez, vá lá nem tudo se perde.

No livro, há um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio, protagonizando uma aventura que gira sobre si próprio. Que poderia ser um homem Seguro, se a oposição que um com o mesmo nome faz ao governo, fosse real e não imaginária, como é de facto. E completamente inócua.

Por ora, está tudo calmo, como sempre. Depois, não se sabe bem, a vida não está por ordem alfabética, como bem disseste, a política deita-se na cama com a indiferença da maioria, até ao dia em que o tempo reapareça a pedir contas. Aí, pode ser que uma consciência acorde e varra definitivamente com estes falhados. Não lhes escrevo os nomes, não é necessário. Há quem dia a dia, hora a hora o faça, distorcendo a realidade, invertendo a democracia, nas agências de poder paralelo de uma comunicação social distorcida, retorcida, das empresas de sondagens, dessa nova casta a quem chamam politólogos, os arautos da inevitabilidade, que saltitam impunemente de um lado para o outro, martelando as mesmas receitas, não sabem António, que Ao seguir a sombra, o tempo envelhece depressa. Principalmente para ti. Já cá não estás, que saudade, fica a tua obra, o teu pensamento libertário e o teu charme revolucionário. Bem hajas António!

----
(a) A propósito da edição de “O Tempo Envelhece Depressa”, de António Tabucchi, Tradução G. Martins Oliveira, D. Quixote.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?