01 dezembro 2012


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 








As voltas de uma vida levam-nos a Bissau.
Na chegada, o bafo quente daquela África que sempre fascina de cada vez que dela nos aproximamos. Agora que a conhecemos melhor, agora que nunca podemos dizer que a conhecemos bem. Porque ela está para as pessoas com a mãe está para o filho. Parece que chama por nós. Não saberemos nunca o porquê, apenas temos certeza de que o chamamento corresponde a qualquer coisa, que de tanto apelativa, nos queima as entranhas, nos coloca num patamar estranho. Agora que diariamente fazemos amigos, compreendemos melhor a cidadania global, a partilha de sentimentos e de angústias, que passam a ser nossas também. O Sul que há em nós, as cores e os aromas, em cada esquina. A marcha constante para um mundo melhor, sonhamos quiçá, o sonho é sempre constante na vida, vive connosco e aquece a luta. Quem sabe onde está agora o conhecimento, de tão delapidado por sucessivas névoas, que ensombram as manhãs do presente, as tardes do futuro, as noites que teimam em não passar. Quem sabe?

Quem sabe onde está a razão, há quem a queira ver sempre na sua própria perspetiva. Mas quem anda por cá, habitua-se a questionar sempre. E sempre fica algo por saber, encontramos pessoas, não encontramos respostas. Todavia deparamos aqui e além uma clareira, onde nos sentamos, rigorosamente para fazer nada, um privilégio único no Sul. E, quando isso acontece, habituamo-nos a pensar, porque aí nem temos tempo para tal, sobrecarregados que andamos com agendas, quantas vezes inúteis.

Não encontramos Bissau. A cidade faz questão de guardar algum mistério, aqui sofre-se. Mas dança-se. E canta-se. Há quem os queira calar mas, como em todo lado, não resulta. Então partilham-se, com amigas e amigos novos, angústias e desejos comuns. Alguma receita? De todo, basta querer e saber ouvir…

A praça, a rua cheia de gente, os putos querem vender qualquer coisa, as mulheres carregam baldes de água, os homens fazem negócio. Uma cidade que vive, e que às vezes não deixa viver.

Queremos ajudar? Sabemos lá se querem ajuda. É que pode esconder alguma coisa. Aqui cabe talvez a máxima de Sofia, Vemos, ouvimos e lemos /não podemos ignorar / Nada pode apagar /O concerto dos gritos/ O nosso tempo é /Pecado organizado.(1)

 

(1)    In: “Cantata da Paz”, Sophia de Mello Breyner Andersen, 1968
       (2)   Poeta Guineense

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