16 junho 2014


https://www.youtube.com/watch?v=wsAXuNbwcSQ       

“FAZER UM GOL NESSA PARTIDA NÃO É FÁCIL, MEU IRMÃO…"(1)

Por ser dia de jogo, lembro o Afonsinho, aliás Afonso Celso Garcia Reis, o primeiro jogador de futebol no Brasil a conseguir o passe livre (…não preso a nenhuma equipa), na década de 70 do século passado, numa época que o Brasil vivia uma repressão feroz, sob a Ditadura Militar.

Afonsinho tornou-se conhecido pela luta contra duas ditaduras, a dos militares e a que escravizava os jogadores de futebol naquela época, o passe. E tudo isso aconteceu por conta de um episódio no Botafogo, quando ele ainda muito jovem, já havia liderado os seus companheiros de equipa contra os dirigentes do clube, por pagamentos de prémios atrasados. Mais, os dirigentes do clube e o técnico Zagallo blindaram a sua ida a selecção, por usar barba e cabelo comprido, um visual subversivo, segundo eles.

Afonsinho representava, por assim dizer, uma alma. Uma chama diferente, porque contra a corrente. A sua luta abriu caminho para que outros jogadores também lutassem pelos seus direitos.

E digo com ele (Gilberto), "Prezado amigo Afonsinho/eu continuo aqui mesmo/aperfeiçoando o imperfeito/dando um tempo, dando um jeito desprezando a perfeição/que a perfeição é uma meta/ defendida pelo goleiro/ que joga na selecção/e eu não sou Pelé nem nada…”.

Talvez aquele que hoje é “entronizado”, como melhor do mundo, o salvador da pátria (do futebol, pelo menos), não conheça Afonsinho, nem muito menos o que ele representou. Talvez porque a cultura seja a inversa. Ele, como a maioria dos seleccionados, ricos e mimados, investidos de um poder fátuo, por força da propaganda e dos milhões, a que devem obediência.

Apenas um jogo de futebol. Contra os dominadores da Europa e quiçá, arredores? De todo, apenas uma equipa de futebol, adversária e não inimiga, segundo as “boas regras” do desporto.

Se for então difícil “fazer um gol nessa partida…” é porque – apenas – não foram capazes de “…aperfeiçoar o imperfeito”, que é o zero-a-zero, o empate constante do meio-termo, do tal meio-campo em que se joga a/o tempo inteiro. O jogo, tal como a vida, é sempre p´ra frente, ao ataque, seja qual for o adversário, marcar golo é vencer, as lutas são para ganhar.

Afonsinho, meu irmão!
---
 
(1)     “Meio de Campo”, Gilberto Gil
 
 

This page is powered by Blogger. Isn't yours?