03 maio 2015
O QUE MAIS IMPORTA
“A glória em
vida é algo problemático:
é aconselhável não se deixar
deslumbrar por ela, muito menos estimular”
Thomas Mann
“Não estou aqui para vos entreter”, dizia
esta semana aos jornalistas o senador independente do Vermont, Bernie Sanders,
ao oficializar a sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos. Com tal
afirmação, pretenderia de certa forma chamar a atenção para o facto de os
jornalistas tratarem os políticos como estrelas do mundo do espectáculo.
Sanders parece ser uma figura diferente no panorama mais que cinzento das
eleições americanas, mesmo sabendo que essa diferença será sempre cilindrada em
favor do gosto local pelo estilo precisamente espectacular contra o qual
Sanders falava.
Para
entreter alguns espíritos de fino recorte, no panorama nacional, sem com isto
lhe querer atribuir mérito especial no que escreve, temos o senhor Vasco Pulido
Valente (VPV). Há quem defenda que VPV tem a língua afiada das figuras da I
República e que utiliza o argumentário conhecido por “pessimista” para mostrar
realidades que existem na sua própria cabeça e para escorrer teses e cenários
que acolhem algumas cabeças pensantes, daquelas que não querem e se calhar não
podem fazer melhor. Com todo o respeito, considero que VPV não passa de um
sujeito mal-educado, uma figura triste do conservadorismo lusitano que tanto
procura glorificar, nas suas crónicas azedas e algumas vezes eivadas de uma
confrangedora falta de nível. Arrevesado. Parecendo propositadamente intolerante
para esquerda e direita, a sua prosa acaba sempre por condescender para o lado
dos que detêm o poder que, como se sabe, são quase sempre os mesmos.
Nos últimos
tempos, VPV tem destilado um ódio mesquinho sobre a candidatura de Sampaio da
Nóvoa. VPV considera a candidatura de Nóvoa fruto de um “tacticismo perceptível”. Claro que quem “percebe” é ele, o centro
de toda a discussão. Que, como evidente se torna, nunca se fará sem ele e a sua
inspiração, que apetecia classificar de divina, não fora a coisa um pouco
obscena. De tão obstinado na sua “perseguição” a Nóvoa, “o total vazio”, o “homem que
ninguém conhece”, VPV nem equaciona a possibilidade de estar a promover o
candidato que abjecta. Dirige-se ao “povo
miserável”, assim mesmo, sem qualquer sombra de respeito, do alto da sua
mais que ridícula sobranceria. A sua última obra, simbolicamente editada a 1 de
Maio 2015, dá pelo nome de “Degradação”.
Singular? De todo, apenas uma auto-afirmação de deslumbramento do que pensa que
é e de como vê a “canalha” que o rodeia.
Claro que
Nóvoa também não está aqui para nos entreter, aproximando-se assim de Sanders,
ainda que sem qualquer desejo expresso. Mas não deixa de ser de ser, no mínimo
curioso, que algumas das teses do americano, nomeadamente o combate às
desigualdades e a interferência do poder económico na política, sejam
seguramente preocupações de Nóvoa.
Para quê
perder mais tempo com VPV? Bem mais interessantes parecem ser a figura e as
propostas de Nóvoa. No plano prático, mas também no simbólico. A referência a
“palavra” e às “palavras” indiciam uma linguagem avessa a confusões, eivada de
evidente vontade de mudança. Na realidade, o País mergulhou na discurso
eminentemente “consensual”, com pensamentos primários e atafulhados de coisa
nenhuma, de que é exemplo evidente a sentença espúria, “é preciso colocar os interesses nacionais acima dos interesses
partidários”. Homem de palavra, mas também homem da palavra, Nóvoa procura
um estilo e parece reeditar Flaubert, quando este o classificava como algo, “…que está sob as palavras como dentro delas,
sendo igualmente a alma e a carne de uma obra.”
Podemos
porventura pensar que o tempo muda tudo. Parece bem mais importante fazer
alguma coisa para mudar algo. A proposta de Nóvoa parece ir por aí, vale a pena
apostar…