28 junho 2015
A VERDADEIRA CHANTAGEM
Após a malograda tentativa de chegar a um acordo, Varoufakis
retira-se da reunião dos ministros das finanças europeus. Ganha a verdadeira
chantagem sobre a Grécia, um verdadeiro ultimato para os gregos aceitarem uma severa
e degradante austeridade sem fim e sem qualquer perspectiva de recuperação
social e económica, uma punição moral sobre um povo, que escolheu um caminho
diferente: a recusa terminante ao pensamento único e a defesa da democracia e
da soberania. É sempre bom lembrar a que os governos gregos anteriores fizeram
foi endividar o seu povo, com acordos e cedências perante a finança
internacional, que chegou ao ponto de armar o País, por exigência da França e
da Alemanha.
A unanimidade do conselho europeu é significativa, juntos no
pensamento único, a TINA (There Is No Alternative!), para vergar um governo
legitimamente eleito e que, este sim, defende o seu Povo. Diria Tsipras, a
propósito “…Ao autoritarismo e à dura
austeridade, responderemos com democracia, calmamente e de forma decisiva.”
Só que “isto” não pode acontecer no tal “espaço europeu” que nos prometeram de solidariedade
e de respeito pelas pessoas. Invisível ou talvez não, o punho imperial da
Alemanha, bate em cima da mesa, quando há desrespeito pelas ditas “regras da
União”. E uma das formas de impor o poder é, receita comum, a austeridade sem
limites. O FMI recusa todas as propostas apresentadas pelo Governo grego e “decreta”
o “normal” nestes casos: aumento do IVA
na restauração para 23%, eliminação das reformas antecipadas a partir do fim do
mês, congelamento das pensões até 2021, subida
das contribuições para saúde dos pensionistas de 6%, suspensão dos pagamentos
pelo Estado do fundo de pensões até 2017,
fim do suplemento para pensões mais baixas, fim do tratamento fiscal
preferencial para agricultores e subsídios ao gasóleo agrícola, aprovação, até
Novembro deste ano, de legislação laboral que racionalize a tabela salarial do
Estado grego. Estas propostas violam directamente os direitos sociais e
fundamentais europeus e são reveladoras de que, no que diz respeito ao trabalho,
à igualdade e à dignidade, do objectivo de alguns dos parceiros e instituições
para uma humilhação do povo grego. Elas seriam, sem qualquer dúvida, um novo
fardo insustentável e representariam um autêntico boicote à recuperação da
economia e da sociedade, afinal uma perpetuação da instabilidade, acentuando
ainda mais as desigualdades sociais.
Sabendo de antemão que, medidas como estas, irão escravizar completamente
o País, as chamadas “instituições” cavalgam a onda da mais intolerável ditadura
e desprezo pelas populações, unicamente com o intuito de cumprir mais um
programa de falhanço completo, com uma dívida sempre a subir. Mas o que se
trata aqui é ainda mais de uma inqualificável atitude para derrubar um Governo
eleito, apenas isso. A própria integração europeia está agora mais que nunca
ameaçada. Ao pedido formal, satisfeito seguramente se na Grécia existisse um
governo igual aos outros, para prolongar por alguns dias o programa actual,
para que o povo grego possa decidir, livre de qualquer pressão e chantagem, a
troika diz majestaticamente não.
Entretanto, o Parlamento grego aprova e ratifica a proposta do
Conselho de Ministros de um Referendo a realizar no próximo 5 de Julho e esta
decisão vai decerto (mais uma afinal) irritar os líderes europeus e perturbar
os ditos mercados, causando-lhe o tal “nervosismo” que pode depois prejudicar
as taxas de juros do serviço da dívida. E para as pessoas? Nem por um momento
há uma referência a desigualdades ou a miséria das pessoas. Isso não conta,
pura e simplesmente.
Está instalada uma potencial guerra. Porque agora já não é
possível voltar atrás. Ou vence o pensamento único, mais austeridade, mais
dívida, mais pobreza e mais miséria, mais umas centenas e milhares de ricos a
crescer as fortunas, mais morte afinal. Ou se perfila uma nova atitude, a
rejeição total e definitiva da subjugação, como já aconteceu num passado não
muito distante. Agora já não haverá possivelmente meio-termo e aqueles que
jogam sistematicamente nessa via, vão ter que pensar melhor e posicionar-se de
um dos lados. A frase feita, “A Luta
Continua” não podia ser mais actual. Estamos decididamente aí!