22 junho 2015
AINDA E SEMPRE A GRÉCIA…
“…É essa
indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro,
que eu me
pergunto se tem algum sentido numa situação
ou no quadro
de existência de uma espécie que se diz racional”
“Diálogos com José Saramago”, Carlos Reis, Lisboa 1997
Essencial
voltar à Grécia. Num momento em que por toda Europa as ruas se enchem de
pessoas a mostrar a sua solidariedade. Que obviamente não existe nunca da parte
dos credores. É tão importante hoje manifestar apoio á Grécia, quanto compreender
que é mesmo a Democracia e a Soberania que estão em causa., perante a ameaça
totalitária, de cariz perigoso e atentatório da Liberdade.
Perante
o que se passa, qual será por exemplo, o sentimento de um qualquer reformado
grego de média ou baixa renda, depois de ter visto a sua pensão reduzida
praticamente 60%, durante 11 vezes consecutivas? E qual será a atitude de uma
família grega, também de média ou baixa renda, com a maior parte do seu
agregado desempregado, receber notícia que o IVA sobre os produtos essenciais
vai subir? A resposta é por demais evidente, e indiciaria somente REVOLTA. Por isso
é que, qualquer que seja o desfecho do teor do acordo a negociar hoje, o
Governo grego não pode, nem deve, ceder um milímetro que seja nas sua “linhas
vermelhas”. E, ao pensar nisso, naquelas e naqueles que sofrem hoje na pele os
desmandos dos anteriores governos, que deram origem a uma situação perto de uma
catástrofe humanitária sem precedentes e com mais de metade da população em
risco de miséria, o Governo grego pensa e sabe que haverá um aumento
exponencial de encargos, provocados por uma dívida absolutamente insustentável,
inerente a assunção de novos compromissos. Uma dívida que contém uma parte
odiosa e outra parte ilegítima, por serem devidas a encargos sobre as novas
gerações e constituírem em grande parte verbas para salvar bancos, essencialmente
franceses e alemães…
O Estado
grego tem que pagar cerca de 1,6 mil milhões de euros ao FMI, até dia 30 de
Junho. E ainda, cerca de 5,4 mil milhões de euros em reembolso de dívida,
durante este ano de 2015. Entretanto, terá que receber 7,2 mil milhões de euros
dos credores, sendo que metade deste valor será de imediato congelado, caso
haja incumprimento. Claro que este último cenário não interessa de todo ao
clube europeu, por estarem em jogo “superiores interesses”, ligados à banca e
ao sector financeiro. Por este motivo, e sobretudo por ele, convém aos credores
que hoje seja ratificado um acordo que, no mínimo, signifique um período extraordinário
de continuação da “assistência” à Grécia. Por alguma razão, Tsipras afirmou (e
bem!) que a divida grega tem que ser reestruturada de forma definitiva e não
somente pontual.
É
necessário divulgar, dizer bem alto para toda gente fique informada, que a
França e a Alemanha querem que a Grécia assuma mais de 2 mil milhões em
armamento! Tal como em 2010, não se deve esquecer, os mesmos 2 países
pressionaram a Grécia a comprar equipamento de guerra, utilizando a crise como
alavanca para persuadir a Grécia a investir na indústria bélica francesa e
alemã; lembra-se aqui o que disse à imprensa um assessor do primeiro-ministro
George Papandreou, em Março desse ano: "Ninguém está a dizer: 'Comprem os nossos navios de guerra ou não os
salvamos', mas a implicação evidente é que eles serão mais favoráveis se
fizermos o que eles querem na questão dos armamentos"[1],
Apenas
uma atitude é possível: não ceder. Porque ceder significaria capitular perante
a pressão dos credores. Não ceder, significa defender uma Europa solidária,
conceito que é perfeitamente actual e necessário e tal significa colocar as
pessoas no centro das políticas, ou seja, lutar por uma Europa dos Cidadãos. Não ceder significa finalmente lutar contra o
pensamento único.