05 julho 2015

APESAR…

“… Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar
Apesar de Você”, Chico Buarque Holanda, 1970



Esperamos com alguma ansiedade. Acreditamos que é possível, ser este um princípio de contestação permanente e contínua, porque não queremos ficar para sempre indiferentes. Curioso que um dos últimos argumentos tenha sido aquele que tentava caracterizar os políticos de uma determinada forma, adultos seguramente, engravatados talvez, com o tal sentido de responsabilidade que lhes advém de um certo espírito de casta, porventura conquistado na dita experiência, termo que ganha foros de elevação quanto maior a promiscuidade com os negócios de ocasião. Falamos em português, em pretensos donos de Portugal, que circulam entre centros de interesse e partilha do aparelho de Estado, uma “eterna” dança entre conselhos de administração, secretarias de estado e ministérios, chefias na administração pública, lugares nas autarquias e empresas da construção civil, autores de pareceres e gabinetes de advogados, percursos meteóricos desde as jotas até ao poder. Serão estas e estes os qualificados por uma opinião pública produzida em circuitos fechados, com o beneplácito de um sector da comunicação social que fabrica comentadores que ostentam invariavelmente a sensatez de um pretenso equilíbrio, que oscila, conforme as necessidades, entre o centrão oficial, a tal elite consensual a que o País deve a douta lição do conformismo e da sabedoria perpétua.
Acontece que é precisamente tudo isto que não queremos. E a que contrapomos, a necessidade de uma nova elite, que saiba transformar em ciência política, as aspirações dos povos, em constante movimento. O movimento das ideias, a dialéctica da transformação e a interpretação constante dos conflitos sociais, na superação dos mesmos, com vista a identificação de processos e metodologias participativas, tendentes a aproximar as pessoas dos centros de poder, diria a serem as próprias pessoas a interpretar o mesmo poder. A experiência de que comunicação social fala, quando “avalia” um putativo candidato, deve então ser interpretada precisamente ao contrário, na exacta medida que é a que menos interessa.

No dia das decisões, seremos seguramente muito mais gregos que o se poderia pensar, embora não tenhamos o boletim na mão, para exercer um direito de cidadania, hoje seguramente um peso enorme para um povo atormentado pela pilhagem, pela ganância e pelo terrorismo de uma elite, a mesma que tem a experiência politica a que se reconhece “legitimidade”. Dizer que estar nas nossas mãos dizer NÃO é também um peso enorme, que apesar de sabermos necessário, implicará talvez da nossa parte, sacrifícios grandes e penosos. Como em todas as lutas, há que escolher um campo, não é jamais possível conciliar posições, porque NÃO é mesmo não. Não queremos, não colaboramos, não pactuamos, não aceitamos, não vos iremos tolerar, não esquecemos a vossa mentira permanente, o vosso silêncio e indiferença perante a fome, a desigualdade e a miséria, a vossa intolerável atitude de prepotência, invocando a Democracia para oprimir.


Basta de complacência. NÃO, decididamente NÃO!

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