03 julho 2015
OXI(GÉNIO) PARA A
LIBERDADE
“Aprende
a nadar, companheiro
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui…”
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui…”
A história nunca se repete. A história às vezes
repete-se. Ambas as formulações podem ser verdadeiras, se devidamente
contextualizadas. O
NÃO ao fascismo que destruiu milhões de cidadãos indefesos levantou a Europa
inteira contra o que parecia ser um “desígnio nacional”, apoiado por aquilo a
que Bergman designar por “Ovo da Serpente”. Os cidadãos europeus souberam dizer
NÃO ao fascismo, mesmo que tal lhes tenha custado muitos milhares de vítimas. Embora
tenha resistido em Espanha e em Portugal, o mesmo fascismo acabaria derrotado
pela vontade dos povos. A situação criada na Europa pela chamada crise das
dívidas soberanas e pelo seu aproveitamento para impor a austeridade a todo o
custo sobre os mais desfavorecidos, configura um novo tipo de fascismo, a que
alguns chamam “fascismo branco”. Da ascensão do fascismo na Europa, nos anos 30
do século passado, ao fascismo branco dos dias de hoje, vai um pequeno passo. Das
crises económicas de outrora à crise financeira de hoje, a intervenção do
capital é realmente decisiva. A pobreza de uns, aliada à riqueza de outros, tem
sempre um peso desigual, “…quantos pobres
são necessários para produzir um rico?”[1]. O que
sabemos é que a crise é um bom negócio para a acumulação dos mais ricos e a
austeridade a forma mais célere de transferência de rendimentos do trabalho
para o capital: desde 2010, os 25 mais ricos do nosso País viram a sua fortuna
crescer 17,8%, qualquer coisa como cerca de 18 mil milhões de euros.
De
facto, apesar dos imensos avanços técnicos, científicos e tecnológicos, o
estado a que se chegou significa um enorme retrocesso civilizacional: perda de
direitos, limitação das liberdades individuais, diminuição de rendimentos das
famílias, aumento do desemprego, limitações terríveis no acesso ao emprego,
aumento da idade da reforma, enfim, diminuição significativa da qualidade de
vida da maior parte da população. E aqui, a Grécia será porventura um exemplo
paradigmático. Um dos países que mais sofreu e sofre com a dita crise, que foi durante
muito tempo o cesto dos papéis para onde foi atirado todo o lixo da gestão dos
bens públicos, com administrações corruptas, ou simplesmente colaboracionistas
com todos os desmandos dos senhores do dinheiro, o País que a Europa tentou
armar a toda a força, à custa de um endividamento sem fim, o País onde o povo
paga os cortes verdadeiramente atentatórios dos direitos humanos, com uma
dívida sempre a aumentar e que chega a quase 200% do PIB e com uma taxa de desemprego que, em 7 anos, subiu 226,2%
(passou de 8,4% para 27,4%)[2].
Mas,
por outro lado, um País que aprendeu a dizer NÃO. Na língua grega, o OXI. Na nossa,
apenas as iniciais de OXIgénio, um pequeno balão para alimentar a Liberdade. Sim,
a liberdade de ser contra, quiçá o único instrumento que temos para tentar
resistir a uma avassaladora ameaça, que passou de latente, a efectiva neste
momento. A afirmação do capital financeiro e a sua investida, são factores
ilustrativos do fascismo branco.
OXI!
O dizer NÃO é uma necessidade vital para a sobrevivência. Como podemos ficar
indiferentes quando a chamada União Europeia alimenta um verdadeiro campo de
escravos na Grécia? A curiosa visão dos senhores do dinheiro e do Poder nesta
Europa bizarra é de uma liquidez espantosa, a austeridade sem fim em troca da
solidariedade. Ou seja, alimentamos à míngua pessoas que são liquidadas aos
poucos, enquanto convém. E atenção, ai de quem se manifeste contra, que ouse questionar
a “bondade” das medidas impostas. Não há alternativa, é o pensamento único que
floresce, que prevalece, que oprime. É um novo fascismo, sem qualquer dúvida, muito
bem caracterizado hoje por Christine
Lagarde (FMI) quando diz que é assim que tem que ser, os países têm
que fazer sacrifícios, é igual para todos. E ainda que, futuras negociações tem
que ser feitas com “pessoas adultas”,
significado que só pode ser, entre pessoas que pensem como ela (…), apenas com
divergências pequenas, que apenas servem para “colorir” a verdadeira imposição.
Um
OXI rotundo e claro!
É
o que se espera venha a acontecer. Mesmo não podendo votar em Atenas, “votemos”
nas praças e avenidas, em todo o lado, em toda a parte. Para RESPIRAR
liberdade!
O
OXI vai agora muito para além do protesto e é uma atitude de cidadania, de soberania
e de Liberdade. É um NÃO contra o pensamento único, contra o fascismo branco. Não
podemos deixar crescer a serpente dentro do ovo, o melhor mesmo é queimar o ovo
para que a serpente não nasça. Provavelmente, tal como no século passado, acordamos
tarde demais, deixando a serpente crescer. Pior ainda, porque houve quem a
tivesse alimentado pensando que ela era incapaz de morder e de matar…
Agora
só há uma solução, cortar-lhe a cabeça.
Para
respirar LIBERDADE, que está a passar por aqui!