03 julho 2015

OXI(GÉNIO) PARA A LIBERDADE
Aprende a nadar, companheiro 
que a maré se vai levantar 
Que a liberdade está a passar por aqui
Maré Alta”, Sérgio Godinho, “Os sobreviventes”, 1971











A história nunca se repete. A história às vezes repete-se. Ambas as formulações podem ser verdadeiras, se devidamente contextualizadas. O NÃO ao fascismo que destruiu milhões de cidadãos indefesos levantou a Europa inteira contra o que parecia ser um “desígnio nacional”, apoiado por aquilo a que Bergman designar por “Ovo da Serpente”. Os cidadãos europeus souberam dizer NÃO ao fascismo, mesmo que tal lhes tenha custado muitos milhares de vítimas. Embora tenha resistido em Espanha e em Portugal, o mesmo fascismo acabaria derrotado pela vontade dos povos. A situação criada na Europa pela chamada crise das dívidas soberanas e pelo seu aproveitamento para impor a austeridade a todo o custo sobre os mais desfavorecidos, configura um novo tipo de fascismo, a que alguns chamam “fascismo branco”. Da ascensão do fascismo na Europa, nos anos 30 do século passado, ao fascismo branco dos dias de hoje, vai um pequeno passo. Das crises económicas de outrora à crise financeira de hoje, a intervenção do capital é realmente decisiva. A pobreza de uns, aliada à riqueza de outros, tem sempre um peso desigual, “…quantos pobres são necessários para produzir um rico?”[1]. O que sabemos é que a crise é um bom negócio para a acumulação dos mais ricos e a austeridade a forma mais célere de transferência de rendimentos do trabalho para o capital: desde 2010, os 25 mais ricos do nosso País viram a sua fortuna crescer 17,8%, qualquer coisa como cerca de 18 mil milhões de euros.

De facto, apesar dos imensos avanços técnicos, científicos e tecnológicos, o estado a que se chegou significa um enorme retrocesso civilizacional: perda de direitos, limitação das liberdades individuais, diminuição de rendimentos das famílias, aumento do desemprego, limitações terríveis no acesso ao emprego, aumento da idade da reforma, enfim, diminuição significativa da qualidade de vida da maior parte da população. E aqui, a Grécia será porventura um exemplo paradigmático. Um dos países que mais sofreu e sofre com a dita crise, que foi durante muito tempo o cesto dos papéis para onde foi atirado todo o lixo da gestão dos bens públicos, com administrações corruptas, ou simplesmente colaboracionistas com todos os desmandos dos senhores do dinheiro, o País que a Europa tentou armar a toda a força, à custa de um endividamento sem fim, o País onde o povo paga os cortes verdadeiramente atentatórios dos direitos humanos, com uma dívida sempre a aumentar e que chega a quase 200% do PIB e com uma taxa de desemprego que, em 7 anos, subiu 226,2% (passou de 8,4% para 27,4%)[2].

Mas, por outro lado, um País que aprendeu a dizer NÃO. Na língua grega, o OXI. Na nossa, apenas as iniciais de OXIgénio, um pequeno balão para alimentar a Liberdade. Sim, a liberdade de ser contra, quiçá o único instrumento que temos para tentar resistir a uma avassaladora ameaça, que passou de latente, a efectiva neste momento. A afirmação do capital financeiro e a sua investida, são factores ilustrativos do fascismo branco.

OXI! O dizer NÃO é uma necessidade vital para a sobrevivência. Como podemos ficar indiferentes quando a chamada União Europeia alimenta um verdadeiro campo de escravos na Grécia? A curiosa visão dos senhores do dinheiro e do Poder nesta Europa bizarra é de uma liquidez espantosa, a austeridade sem fim em troca da solidariedade. Ou seja, alimentamos à míngua pessoas que são liquidadas aos poucos, enquanto convém. E atenção, ai de quem se manifeste contra, que ouse questionar a “bondade” das medidas impostas. Não há alternativa, é o pensamento único que floresce, que prevalece, que oprime. É um novo fascismo, sem qualquer dúvida, muito bem caracterizado hoje por Christine Lagarde (FMI) quando diz que é assim que tem que ser, os países têm que fazer sacrifícios, é igual para todos. E ainda que, futuras negociações tem que ser feitas com “pessoas adultas”, significado que só pode ser, entre pessoas que pensem como ela (…), apenas com divergências pequenas, que apenas servem para “colorir” a verdadeira imposição.
Um OXI rotundo e claro!
É o que se espera venha a acontecer. Mesmo não podendo votar em Atenas, “votemos” nas praças e avenidas, em todo o lado, em toda a parte. Para RESPIRAR liberdade!
O OXI vai agora muito para além do protesto e é uma atitude de cidadania, de soberania e de Liberdade. É um NÃO contra o pensamento único, contra o fascismo branco. Não podemos deixar crescer a serpente dentro do ovo, o melhor mesmo é queimar o ovo para que a serpente não nasça. Provavelmente, tal como no século passado, acordamos tarde demais, deixando a serpente crescer. Pior ainda, porque houve quem a tivesse alimentado pensando que ela era incapaz de morder e de matar…
Agora só há uma solução, cortar-lhe a cabeça.
Para respirar LIBERDADE, que está a passar por aqui!





[1] Almeida Garret
[2] Dados Eurostat 2015

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