02 outubro 2015

ATÉ AO FIM!

https://www.youtube.com/watch?v=ouaytC9njFU

“…C'est elle que l'on matraque,
Que l'on poursuit, que l'on traque,
C'est elle qui se soulève,
Qui souffre et se met en grève.
C'est elle qu'on emprisonne,
Qu'on trahit, qu'on abandonne,
Qui nous donne envie de vivre,
Qui donne envie de la suivre
Jusqu'au bout, jusqu'au bout!”
Sans la nommer”, Georges Moustaki, 1969


O poeta queria falar dela sem a nomear. Na febre do Maio de 68, era assim. Com todo o realismo, exigia-se o impossível, brandindo um qualquer estandarte libertário. Que ao libertar a sociedade dos jugos opressores, libertava o indivíduo, para a realização plena dos seus próprios desígnios. Cedo percebemos que os poderes, estatais ou nem por isso, confrontados com a nova realidade, tratariam de impor a lei do forte e mais forte, esmagando qualquer presunção libertária. As massas seriam assim “convidadas” a permanecerem calmas e acatarem a voz sempre sensata de uma minoria que teria recebido a sagrada e por vezes ingrata missão de governar.
Parámos então num tempo em que as pessoas são, de vez em quando, chamadas a exercer o que se chama um “direito cívico”. Votar será então o tal direito, transformado nos tempos que correm numa arma de arremesso, dado que o tal “direito” parece esfumar-se na esfera da designada “democracia representativa”. Daí a perceber que se trata de um gesto simbólico, aparentemente destinado a eleger um conjunto de pessoas para uma câmara de onde deverá sair um governo que espelhe de certa forma a composição da câmara de deputados, que aparentemente deveria fiscalizar a acção de tal governo.  
Votamos então para que se cumpre um desígnio de uma democracia que não se esgotando no acto em si mesmo, deveria ser capaz de integrar os cidadãos numa plena participação. Sabe-se que este modelo apenas existe enquanto valor simbólico e que os tais cidadãos são frequentemente arredados das decisões que lhes dizem respeito.
Andamos pelas praças e avenidas das cidades e das vilas mais recônditas e não encontramos sinais de esperança significativos. De eleição para eleição se confirma um progressivo abrandamento de participação. Frequentemos nos deparamos exactamente com a realidade contrária, remetendo-se uma enorme franja da população a um silêncio ensurdecedor, o qual por sua vez conduz ao desânimo e a frustração. E porque não se aposta na educação para uma cidadania plena, os resultados estão à vista, nem os próprios entendem muito bem como é possível existir tamanho desencanto perante aquela que deveria constituir a vida da polis, a verdadeira política.
Há quem lute para agitar as consciências. Sendo uma opção que até se pode considerar como nobre, parece agora mais importante consciencializar a agitação. Podendo parecer uma pequena provocação, tal desígnio tem contudo o sentido objectivo de lutar contra o imobilismo. Configurando quiçá a tal Revolução que, ao contrário de outras teria um carácter Permanente, configurando um estádio cíclico entre direitos, deveres e poderes. A sociedade não se compõe de pessoas com interesses comuns, até nalguns casos, muito contraditórios. Então, quando uma parte significativa da população é estropiada dos seus direitos, vilipendiada na sua dignidade, é justo que a agitação seja uma bandeira a seguir.

Como na canção, até ao fim!

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