15 novembro 2015

O NOVO DISCURSO

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
 
Homem de Palavra(s)”, Ruy Belo


11. Eles são o passado…
Os que entendem como eu/as linhas com que me escrevo/reconhecem o que é meu/em tudo quanto lhes devo[1], lembro o Ary e como tal me confesso (salvo seja!) feliz e de certa forma grato, com os últimos acontecimentos que irão decerto proporcionar ao nosso País um clima diferente, diria até, antagónico com o que antes nos dominava e oprimia.
Porque, é preciso dizê-lo sem quaisquer rebuço, esta gente que agora se fina, sem a mais pequena nota de dignidade, vive ainda no estertor da mentira e da manipulação grosseira. Incapaz de compreender, incapaz de aprender, incapaz de comunicar, a não ser com um discurso passadista, balofo e parolo, perfeitamente ao nível do defunto de Santa Comba, incarnado agora pelo inquilino de Belém que, mesmo na recta final do seu triste e cinzento mandato se arvora no direito de aconselhar e ditar regra, no mais acabado exemplo de uma mediocridade assustadora.  
É bom que se diga o que esta gente menor representou no nosso País, a quem retirou soberania, às claras. Personagens sem qualquer currículo relevante que não seja a passagem por postos-chaves subtraídos à custa de prebendas e outras sujeiras. Uma elite vergonhosamente antidemocrática e manipuladora. E suja, com as mãos cheias de pobreza. Castradora das consciências. Antipatriotas, vendidos ao capital e aos interesses internacionais que nada têm a ver com o nosso País, a não ser pela vontade de pilhagem constante e permanente. Capazes de tudo para devolver aos ricos o que roubavam aos mais pobres. Incapazes de compreender a infelicidade, incapazes de dialogar a não ser com eles próprios. Capazes de roubar até as pensões de sobrevivência dos mais pobres, na mais despudorada vergonha de que há memória, indo até ao ponto de se vangloriar por ir para além da troika, na defesa da famigerada austeridade expansionista, um conceito negado na prática por uma pobreza que chega aos 20% da população e com uma dívida que não pára de aumentar, exactamente a segunda maior dívida pública em comparação com o PIB (128%) logo a seguir à Grécia (174,9%)[2]”,

22. Como eram e ainda são sustentados
O que se tem visto na comunicação social é do mais rasteiro possível. Algumas e alguns jornalistas que entrevistam ou simplesmente falam com políticos de esquerda, colocam as mesmas questões que a Direita engendra. O discurso é sempre o da justificação de uma situação, quase sempre derivada das condicionantes do discurso da Direita. As mesmas questões, a mesma argumentação, os mesmos chavões (“afinal quanto custa”, “mas não há dinheiro”,…). Os comentadores, a quem foi sistematicamente dado o “poder” de perorar sobre tudo, emitindo opiniões pretensamente baseadas em uma hipotética sabedoria de centro, estribada em consensos pré-definidos, enchem as páginas dos jornais, aparecem nas rádios e nas televisões, juntos ou isolados, senhores de uma razão mais que balofa, tentando construir cenários que desaguam sistematicamente na mesma lógica.
Sendo que o papel que os meios de comunicação desempenham no quotidiano das pessoas, como promotores e difusores de ideias e valores na sociedade contemporânea é por si mesmo relevante, não deixa de ser preocupante que exista no momento presente um perigoso movimento de doutrinação permanente, por vezes nos limites da decência.
Senão vejamos. Foi a propaganda constante e sistemática, concebida e trabalhada com as empresas de sondagens, que levou a coligação de Direita a obter um score de 38%, com base na repetição sucessiva do conceito “…estamos agora melhor que antes”, de carácter fascistóide, enquanto que o País ficava cada vez mais atrasado e desigual. Foi e ainda é a repetição exaustiva da tese “…não há dinheiro” que justificava sempre os sucessivos golpes no Estado Social e na Escola Pública e que é ainda utilizada como inibidora a qualquer ideia ou proposta de desenvolvimento do País. Existe hoje um conjunto de indivíduos de estatura, no mínimo mediana, que pululam na comunicação social, saltitando entre redacções de jornais e estações de rádio e de televisão, formados no lume brando da mediocridade e que parecem dominar o espaço mediático, que aliás partilham com a espécie política do centrão, agora posta (finalmente) em causa. São, como bem os define António Guerreiro, “… os escritores subalternos, os animadores da televisão e os profissionais da idiotice impressa ou teledifundida, munidos de um vasto arsenal de instrumentos, que se tornaram os grandes mediadores. É através deles que se acendem as discussões políticas, ideológicas, culturais, à medida do exíguo espaço mental e da lógica do fait divers de onde nasceram[3].
É dramático que não exista ainda em Portugal um órgão de comunicação social de Esquerda. Um contraponto mais que necessário, a definição, teorização e consolidação de uma estratégia de resistência, conceito agora ainda mais importante, numa altura em que se perfila um governo apoiado por toda a Esquerda parlamentar e que se impõe defender contra os interesses instalados. Uma necessidade sempre adiada, agora mais que evidente.

33. Escolhamos as palavras
Podemos agora dizer as palavras que andavam arredias, porque não há céu delas que a cidade não cubra[4]. Dignidade, a reconhecer de novo. Conhecimento, a sustentar o Desenvolvimento. Podemos agora descobrir a esperança e glosar o entendimento. Queremos também protagonizar a Mudança. Não é simplesmente o facto de virmos a ter um governo de esquerda que nos deve satisfazer. É, isso sim o mais importante, a circunstância de fazer parte e de trabalhar para que exista a mudança. Fazer parte, é integrar conhecimento, é difundir e disseminar a democracia, através da participação. Como afirma José Goulão “…A nova realidade política em Portugal é dominada por gente séria, que sabe o que quer para o país, que põe os portugueses acima dos negócios, que finalmente privilegia o que a une sobre o que a divide, que preza a soberania nacional. Toda uma situação que tem um potencial único para travar e começar a inverter as consequências trágicas da política de caos, desmantelamento e parasitismo a que os portugueses, com excepção das minorias servidas pelo governo cessante, têm estado submetidos.”[5].
Esta é a oportunidade para virar a página. Não só da austeridade, mas também do discurso político. Trazê-lo para perto dos cidadãos, falar das pessoas e dos seus problemas, conceptualizar a diferença na diversidade. Dizer a verdade, identificando os problemas e propondo soluções, com respeito pelos cidadãos. Fazendo da politica uma actividade nobre e digna, no palco de uma República a reconstruir.  



[1] Excerto de “Poeta Castrado, Não”, in “Resumo” Lisboa, 1973.
[2] Entrevista a Agência Lusa do presidente da Cáritas Portuguesa, Lisboa, 24 Abril 2015
[3] Extracto do artigo “A cultura é dos subalternos”, António Guerreiro, Público, 13 Novembro 2015
[4] Referência ao poema “A Cidade”, José Afonso
[5] Extracto do artigo “Unidos como os dedos da mão”, José Goulão, Mundo Cão, 8 Novembro 2015


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