13 janeiro 2016

A ESQUERDA DA DIREITA?




A vocação de um político de carreira é fazer de cada solução um problema.)”,

Woody Allen














1.    Conhecíamos o centro-esquerda, o centro-direita, a extrema-esquerda, a extrema-direita (salvo seja!), enfim, o centrão. Agora ficamos a conhecer, pela mão extremosa de Marcelo, a “A Esquerda da Direita”. Uma espécie de invenção livre, entre muitas outras do candidato, que parece queres livrar-se da Direita. Contudo sabemos que não quer de facto, nem tal coisa lhe passaria pela cabeça. Apenas uma diversão, mais uma, nesta espécie de campanha, que decidiu levar a cabo, para seu deleite pessoal, tendo em linha de conta que outras e outros já fizeram o caminho por si. Que é o de o tentar levar ao colo para Belém, no mais profundo desprezo pela Democracia de que há memória, após o 25 de Abril de 74.
2.    Esta poderá ser mais uma tentativa de mascarar a diferença profunda entre Esquerda e Direita, um exercício já antigo e que vai ganhando algum espaço, precisamente graças aos esforços da Direita. Assim mesmo. O que acontece é que, devido precisamente a uma conjuntura de confronto ideológico, cavado por uma Direita impiedosa e implacável, nas últimas décadas, cada vez faz mais sentido na actualidade a diferença entre Esquerda e Direita. Há um “simples” pormenor distintivo, nos tempos que correm, temática abordada por Isaiah Berlin [1], e que concerne ao conceito de liberdade. Segundo este autor, existem dois tipos de liberdade, a positiva (“livre para”) e a negativa (“livre de”). Muito embora esta dualidade possa ter algum sentido, não é porém suficiente, apenas indicativa da orientação de liberdade, negativa para a Direita e de liberdade positiva para a Esquerda. A melhor e mais significativa distinção entre Esquerda e Direita estará propriamente nos conceitos “autonomia” e “dominação”. Defendemos portanto, autonomia, a Direita prefere, sem qualquer dúvida, dominação.
3.    Será Marcelo um libertário de direita? A classificação poderia até fazer algum sentido, se aquele considerasse porventura o Estado como uma máquina opressora, para indivíduos e instituições. Mas não parece ser esta a orientação do candidato, a avaliar pelas suas concordâncias constantes com políticas dos partidos de direita, expressa em posições públicas conhecidas.
4.    A expressão “A Esquerda da Direita” assimila bem a tese de Groucho Marx,Estes são os meus princípios. Se vocês não gostarem deles, bom, eu tenho outros". E assim se esvazia a dita tese, que só se entende como mais um dislate do candidato a quem parece que tudo é permitido.
5.    E já agora, Marcelo onde estavas no 25 de Abril de 1974?

 [1] Berlin, I. (1958) “Two Concepts of Liberty”



This page is powered by Blogger. Isn't yours?