12 janeiro 2016

A MUDANÇA 




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades
Luiz Vaz Camões







1.  Propalada por muitos, abjurada por alguns, assume um enorme impacto nos tempos que correm. E há quem a considere uma marca (ou mesmo, a marca) da actualidade. A mudança. Temida por uns, desejada por outros. Temida, porque irá decerto tocar em privilégios, colocar em causa posturas adquiridas e cargos ocupados. Desejada, defendida, por todos aqueles que consideram que pode determinar as necessárias transformações. Na vida e na sociedade. No emprego e no trabalho. Nas escolas e nas universidades. Um pouco por todo o lado, a mudança que se sente e se pressente é algo que, embora difícil de definir, já vai assumindo contornos assinaláveis. Contudo a mudança vai sendo construída, com mais ou menos percalços, ganhando forma e sentido, com sinais exteriores e interiores, tomando então “as novas qualidades” e algum sentido objectivo. A mudança implica ainda contornos subjectivos, assim como a atitude diferenciada perante situações semelhantes. Mesmo que seja, nas palavras de Ruy Belo, “…fatal até para a face mudada”.
2.  Nos últimos dias assiste-se a uma preocupação sistemática, orquestrada como sempre por uma comunicação social voraz, que tenta projectar receios e temores face a mudanças pontuais na legislação entretanto produzida. O caso do ensino, com as alterações no sistema de avaliação dos alunos. O caso do trabalho, com a reintrodução de alguns feriados. O caso do emprego, com um ligeiro aumento do salário mínimo nacional. Habituada a um imobilismo sistemático, desde os primórdios da Revolução de Abril, a sociedade civil viveu de certa forma adormecida pelas promessas de uma Europa adiada, assistindo sempre com suavidade e brandura à progressiva tomada do aparelho de Estado por arrivistas de baixo perfil e “aventureiros” de recorte definido. Que acabaram, com a sua acção perniciosa, por desprestigiar as instituições e a República. E objectivamente minar a confiança nos representantes do Povo e com isso, a Democracia. E como nestas coisas normalmente se toma o todo pela parte, acabou por se reduzir a chamada classe política a meia dúzia de senhoras e senhores pouco ou mesmo nada recomendáveis. Particular e especial relevo para a personagem Cavaco Silva, agora perto da retirada definitiva (assim se espera…), que nos governos que chefiou e na Presidência que ocupou, significou sempre e em todas as circunstâncias, o retrocesso, o imobilismo, o conformismo. E a inevitabilidade também. Consequentemente pois, a resistência a mudança. Lembramos ainda o “deixem-nos trabalhar…”, quando confrontado, o alerta contra “…as forças de bloqueio”, quando sujeito ao contraditório.
3.  O “tempo novo” que ora vivemos é um tempo de mudança. Desde logo pela circunstância da recuperação para o possibilidade de governação de formações partidárias que se tinham afastado e foram afastadas do exercício do poder político. Mas ainda pelo facto de se ter devolvido a esperança às portuguesas e aos portugueses. O tempo de mudança de paradigma e de atitude. A resistência a esta mudança pode constituir um “acto natural” daquela parte da sociedade que detém o poder financeiro e económico. Da parte a quem foram concedidas todas as benesses e que ainda detém privilégios. Afinal os mesmos que foram responsáveis pela destruição do sistema produtivo do País. Natural será assim a sua atitude retrópica, aquela que evoca um passado recente, aquele que precisamente recusa a Utopia como bem explicou aos seus pares um lídimo representante da Direita conservadora[1].
4.  Defende-se então a mudança em toda a linha. Será sim natural mudar quando as condições assim o exigem. Quando a sociedade se defende dos ataques aos direitos dos seus concidadãos e a credibilidade das suas instituições. Afinal, assistimos agora a uma mudança que consubstancia a expectativa das pessoas. Querer, como faz agora parte da comunicação social, prever uma ruptura breve na actual conjuntura, é uma ofensa grave a Democracia. E assume uma posição de querer que tudo volte atrás, nem que seja pela insistência forçada.
5.  Outrora, as mudanças caracterizavam-se pela lentidão. De processos e de condições. Nos tempos que correm, onde as tecnologias desempenham um papel decisivo, há um parâmetro que se sobrepõe a todos os outros: a velocidade. Então, a mudança começa a ganhar velocidade, graças as condições e facilidades conseguidas pelos agentes de informação, até ao ponto de a própria informação poder ser considerada obsoleta, em função da sua eventual descaracterização. É a sociedade do conhecimento na forma indelével do aperfeiçoamento constante de produtos e serviços e do aprofundamento do saber.
6.  A velocidade da mudança implica uma mudança de velocidade, jogo de palavras que ganha todo o sentido na Campanha em que nos envolvemos. Para que tudo seja diferente. Para mostrar as pessoas a importância de eleger o nosso Candidato. Esta “corrida” já começou e, sabendo da importância da velocidade, não queremos ficar para trás, nem permitir que alguém fique para trás. Assim se faz esta luta, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…”





[1] Paulo Portas: “Deixem a utopia aos revolucionários e ocupem-se da realidade…”, Peniche, 13 de Dezembro 2015

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