03 outubro 2016
A ENTREVISTA
Na entrevista ao Jornal Público de hoje (3 Outubro) ao PM do Governo de
Portugal, existem várias “armadilhas” montadas pelo jornalista de serviço. Nada
que seja incomum. Apenas para registar a enorme manipulação de grande parte da
comunicação social e particularmente deste periódico.
A primeira questão e a forma como é colocada são assaz paradigmáticas. O jornalista
David Diniz (DD) afirma “…sem dinheiro e
com Bruxelas a condicionar a política orçamental”. O chavão “não há dinheiro” é um (apenas um) dos
pontos de convergência entre os chamados “jornalistas económicos” e a Direita
radical. Trata-se de uma invenção que enforma a propaganda mediática para assustar
a população menos avisada, que constitui, a acreditar nas sondagens, a massa
votante nos partidos do centro partidário. Tal propaganda acaba mesmo por
funcionar, fundamentalmente por duas ordens de razões, sendo a primeira o
simples facto de que a forma como é exposto ser de tal forma redundante a
positiva que parece mesmo verdadeira. A segunda razão é do foro psicológico e
funciona exactamente da mesma maneira que a asserção passista[1] “vivemos acima das nossas possibilidades”,
punitiva e castradora de consciências. De tal forma são as pessoas massacradas
com este tipo de publicidade enganosa, que acabam por a interiorizar.
A organização da entrevista obedece a um formato ardiloso. Começa por perguntas
e respostas a ocupar o lado esquerdo, páginas 2, 4 e 6. E no lado direito,
páginas 3 e 5 são apresentados textos onde são inseridas afirmações do PM, mas
onde não existe contextualização a não ser a “verdade” discursiva do autor da
peça. Um evidente exemplo é a forma como a questão das pensões é abordada. Na página
3 é elaborada uma pretensa posição do Partido Socialista, ou neste caso
particular do António Costa (AC), que o Jornal tenta “opor” às posições concernentes
do PCP e do BE. Todo o texto, a 3 colunas, é uma montagem abstrusa, com uma única
finalidade (sempre a mesma) de tentar mostrar à opinião pública eventuais discrepâncias,
neste caso concreto chamam-lhe “dissabores”, entre os partidos da Coligação.
Na página 5, a mesma situação, agora acerca do famigerado “índice de crescimento” da economia. Este
é aliás um tema (mais um) recorrente e que integra um discurso catastrofista,
afinal o “cântico” da Direita. Uma vez mais. O título “Economia deverá crescer pouco acima de 1% este ano” é da autoria de
DD. É o que se lê quando se olha a página 5. O restante, o que diz o PM, acaba
por não-se-ler, no sentido do condicionamento do que o artigo “obriga” a ler. O
exemplo do que pensa AC e toda a Coligação está de facto lá, “o que vai permitir às nossas empresas serem
mais competitivas é terem pessoal mais qualificado”. Tal é porém ofuscado
pelo citado título.
Na página 6 há uma questão que, da forma como é colocada, não passa de uma
vulgar provocação. Ao PM e ao país inteiro. Vejamos, relativamente a uma
putativa posição de P. Passos Coelho (PPC), “…tem medo que as contas não batam certo no fim de 2016 e que ele tenha
razão?”. E, no final da resposta de AC, DD ataca “…não vale a pena repetir”, soberba arrogância. Mesmo ao lado, a
montagem do Jornal coloca uma foto de PPC. E a investida de DD continua, depois
de AC explicar o seu ponto de vista sobre a forma como tem sido construída uma
imagem negativa do País, o jornalista volta á carga, “…a verdade é que a economia não está propriamente em aceleração, o
investimento…” . O restante conteúdo da página 6 é, segundo a “cartilha
Gomes Ferreira[2]”,
não propriamente uma entrevista, mas sim a afirmação constante da “verdade”,
segundo DD, ao bom estilo do outro (o da cartilha). O que parece (…) é que a DD
não interessa propriamente ouvir o que pensa o PM, mas sim afirmar a sua
posição própria, punitiva e passista de toda a Direita. Brilhante.
A contribuição do Jornal Público para o esclarecimento da população é
rematada, de forma redundante, com a publicação de “cinco gráficos para perceber como está a economia ao fim de um ano”,
sem qualquer referência a uma fonte. A “verdade” está sempre nos gráficos,
interpretados aliás de forma grosseira. A posição do Governo aparece sempre
como contraponto, desmontada pelo autor Sérgio Aníbal, presumível autor dos
gráficos (?) que encimam a página 8: “1,1%
para o crescimento de 2016 e 2,8% para o défice público durante a primeira
metade de 2016”.
O Jornal Público nem se dá ao trabalho de disfarçar a sua simpatia (e
apreço?) a PPC, ao dar-lhe mais de metade da página 10 (Política), uma bela
foto “institucional” a entrar para uma viatura que se presume “oficial” e ainda
as habituais afirmações rascas que o caracterizam, menção especial para a “acusação ao Governo e dos partidos que o
apoiam de quererem construir uma sociedade mais pobre e mais injusta”. É mesmo
preciso muita lata…
Como bem disse António Barreto, “Quase
não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários
fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo
políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa!”[3].
E assim se faz Portugal. Ou o querem fazer…
[1] Passista, de Passos e C&a
[2] Do autor José Gomes Ferreira, jornalista de “análises económicas” da SIC, licenciado em Comunicação
Social pelo ISCSP da Universidade Técnica de Lisboa, onde se “notabilizou”
como um aluno mediano a Matemática e com dificuldade em perceber equações
(informação Wikipedia)
[3] In “As notícias na televisão”, artigo de opinião, DN, 25 Setembro
2016